quinta-feira, setembro 29, 2005

estamos assim

Eu vi e ouvi com estes quatro que a terra há-de comer.
Deu na TV.
Uma senhora tentou agredir um arguido que se apresentava no tribunal. Estava furiosa. Se calhar tinha razão para estar. Não tenho a certeza mas, provavelmente, era familiar do homem que aquele arguido, consta, assassinou. Creio ter mesmo ouvido dizer ao jornalista que o arguido confessara imediatamente o crime, mal o cometera. Por razões que desconheço, não está preso preventivamente. Está em casa, agarrado a uma pulseira electrónica.
Depois de condicionada pela polícia, ainda em estado de ebulição, a senhora disse não perceber porque é que o arguido não estava preso. E disse: se ele não é filho de político, se não é filho de ministro, se não é da família de ninguém importante, porque é que só tem a pulseira electrónica?

quarta-feira, setembro 28, 2005

O Cymothoa Politicus

O “Publico” noticiava há dias a descoberta pela comunidade científica de uma nova espécie: o Cymothoa exígua.
“A criatura, um crustáceo de 3,5 cm, aloja-se na boca dos grandes peixes, devora-lhes a língua e a seguir, como se não bastasse, permanece na boca do animal e vai-se alimentando de tudo o que o peixe apanha. “
É o único ser vivo conhecido capaz de substituir um órgão, concluía o jornalista.
Isso é que não é.
No mundo da politica há muitos crustáceos (políticos) que se alojam na boca dos grandes peixes (partidos) para lhes devorar a língua (os princípios e o discurso) e lá permanecerem alimentando-se do que o peixe apanha (votos partidários).
O professor Eduardo Lourenço já há muito denunciou a sua existência quando referia que o mal do partido socialista é ter muito poucos socialistas no seu seio.
Abundam os Cymothoas politicus.

T. S. Elliot pelo Sindicato de Poesia



Como o Sindicato de Poesia tem vindo a habituar(-nos), esta última quinta-feira do mês, dia 29 de Setembro, às 19 horas, no Estaleiro Cultural Velha-a-Branca, apresenta mais um recital + ou - encenado, desta vez sobre o poema “A Terra Sem Vida”, do poeta, dramaturgo e crítico T. S. Eliot, nascido (e não é coincidência) a 26 de Setembro de 1888.
Do texto promocional do recital retiro:
«No fim de mais um Verão e reinício de ano escolar, o poema “A Terra Sem Vida”: um mosaico de imagens, paralelismos e interrogações, uma paisagem devastada pela guerra e pela solidão, mas também um ritual catártico que permite libertar-nos dessa dimensão negativa em busca de um qualquer Graal, que poderá, afinal, não ser mais do que a resignação. Tudo se desmorona, para que tudo também volte a nascer.
Imagens-fragmentos com os quais Manuela Martinez, Marta Catarino, Sofia Saldanha e Vânia Gonçalves escoram as suas ruínas.»

“Porque eu vi com os meus olhos a Sibila de Cuma presa numa gaiola e as crianças perguntavam‑lhe: «O que é que tu queres, Sibila?» Ela respondia: «Quero morrer»" (prólogo de “A Terra Sem Vida”, T.S.Eliot)

Velha-a-Branca - Lg. da Senhora-a-Branca, 23, Braga

Do alto da minha autoridade, convido-vos a estar presentes.
Até porque a militância, mesmo a cultural, precisa inúmeras vezes de solidariedade.

terça-feira, setembro 27, 2005

na rádio... na tv....

Há uns tempos, ficou célebre (uma celebridade construída no gosto duvidoso, na pimbalhização do serviço televisivo) a frase «ponha! ponha! ponha!» que um concorrente gritou ao animador de um concurso grotesco, enquanto este lhe colocava sobre a cabeça careca, um animal por quem ele dizia ter grande animosidade.
Alguns anos mais tarde, fica para a posteridade a frase dirigida ao operador de câmara da TVI por José Maria Martins, conhecido por ser o advogado de Bibi (o funcionário Silvino Qualquer-Coisa, principal arguido do chamado Processo Casa Pia), ao ser expulso da sede de uma empresa de estafetas, qual Martim Moniz entalado na porta de entrada (para ele, de saída), a camisa fora das calças, o casaco todo torto: «filma! filma! filma!».
Depois de ter sido lançado porta fora, de ter rebolado no chão poeirento, e enquanto sacudia as calças, perguntou: «filmaste tudo?»
Ou seja, a História a fazer-se a cada minuto que passa, em frente à TV.

o Requiem de Brahms

Uma maestrina alemã, residente em Portugal, na região de Aveiro, conseguiu financiamento de instituições alemãs para, com uma grande orquestra e um grande coro, «fazer» o Requiem de Brahms no Porto, no final do mês de Outubro, no Convento de S. Bento da Vitória, sede da Orquestra do Porto. É um esforço tremendo, o dela, o das instituições que a suportam, etc. É que estão envolvidas no projecto mais de cento e cinquenta pessoas, entre cantores e músicos. Pensou que poderia, na agenda carregada que a produção lhe impôs (transportar tanta gente, da Alemanha para cá, não deve ser pera doce) agendar um terceiro espectáculo e pensou no Minho, terra de inúmeras tradições musicais e religiosas, onde há inúmeras Igrejas com capacidade para acolher um espectáculo desta envergadura. E foi tratar de concretizar esse objectivo. Não pedia cachet (afinal não precisava de mais dinheiro...), não pedia meios para a deslocação, apenas pedia um espaço para mostrar o Requiem e um jantar para a extensa comitiva. Foi a Viana do Castelo certa de resolver rapidamente a questão. A Câmara Municipal pagava o jantar, nada de mais. Ora, aconteceu que a Diocese entendeu que a música de Brahms, e concretamente o seu Requiem, não era obra que se apresentasse numa Igreja, mesmo que o concerto fosse em noite de Finados (era essa a data disponível) e assim se gorou a possibilidade. Foi a Braga e encontrou a Igreja do Pópulo disponível. Mas eis senão quando, a Câmara Municipal entendeu que a empresa não merecia a despesa de um jantar e disse que não.
Viva Braga, Capital Europeia da Cultura.

domingo, setembro 25, 2005

Uma longa viagem com Álvaro Cunhal - o livro

Este sábado, na Cooperativa Árvore, no Porto, fez-se o lançamento (e a apresentação) do livro «Uma longa viagem com Álvaro Cunhal», do jornalista João Céu e Silva, pelas edições ASA e pelo editor Cruz Santos. Originalmente, disse, este era para ser apenas mais um trabalho jornalístico. Rapidamente a abordagem, (que era para ter oito páginas), tal o volume de trabalho rapidamente desenhado, e o entusiasmo, passou – apesar do pânico do autor encarregado desta matéria – para um longo dossier de 46 páginas. Daí ao livro foi um pulinho. Trabalho de acrescentar material que não cabia no jornal, outras investigações, e eis o volume com duzentas e trinta e três páginas, por extenso.
O autor quis – só para concretizar um pouco mais – encontrar na ficção de Manuel Tiago, histórias do militante Álvaro Cunhal, ou histórias que lhe foram contadas pelos seus camaradas. Era necessário reencenar essas histórias ou pelo menos reencontrar os narradores originais ou as personagens que tivessem habitado, originalmente, essas histórias. É certo que Manuel Tiago (Álvaro Cunhal) sempre afirmou que o que escrevia se tratava de ficção, mas igualmente acrescentava (disseram-no) que era uma ficção apoiada numa realidade militante realmente experimentada.
Maria Eugénia Cunhal, irmã do histórico secretário-geral do Partido Comunista Português, esteve na sessão de apresentação do livro (tal como tinha estado em Lisboa) e coube-lhe a ela fazer o elogio da obra e abordar, um pouco, a excelência do material nela contida.
A dado passo da intervenção, lembrou uma história – que é menos conhecida, disse – passada no período retratado em «Estrela de Seis Pontas» (e que era a Penitenciária de Lisboa, um edifício com aquela exactíssima configuração arquitectónica) mas que, vá lá saber-se porquê, não consta da narrativa citada. Disse que nesse estabelecimento prisional, Cunhal conhecera um homem condenado por homicídio, e lograra estabelecer com ele comunicação, apesar da distância que os separava – Cunhal na ala dos presos políticos e o outro na ala dos presos de delito comum. Desse esforço de comunicação haveria de resultar uma descoberta muito interessante, mas nunca desvendada: o crime por que estava condenado o pretenso homicida não fora cometido por ele, mas sim pelo irmão. Ora acontecia que o irmão, o verdadeiro homicida, tinha sete filhos por criar, coisa que não se passava com o detido. As circunstâncias favoreceram o equívoco, e o logro foi alimentado no sentido da troca. Solidariedades do sangue. A pena haveria de ser cumprida por interposta pessoa ou, melhor escrevendo, por interposto irmão.
E eram estas histórias que interessavam a Cunhal. Histórias que têm o Homem como protagonista. Esta não foi contada/escrita por ele, mas aconteceu e foi lembrada por Maria Eugénia.
(…)
No regresso a casa, ontem, à meia-noite, depois de ter estado incomunicável no espectáculo UBUs no Teatro Nacional S. João – o espectáculo é uma espécie de conclave, dificilmente entra informação externa – ouvi na rádio que Manuel Alegre será candidato à Presidência da República. Anunciara-o em Águeda, nessa mesma noite. Ouvi, igualmente, que o PS, pela voz do seu secretário-geral, se apressara a reafirmar apoio à candidatura de Mário Soares.
(…)
Não sei porquê, durante toda a viagem, a história, que não chegou a ser, dos irmãos na «Estrela de Seis Pontas» não se saiu da cabeça.

sexta-feira, setembro 23, 2005

o teatro circo

Peguei num dos jornais diários de Braga, li, e por via das dúvidas, fui a correr ler o outro. Não havia dúvidas. Diziam basicamente as mesmas coisas e assim sendo, das duas três: ou foram escritos pela mesma pessoa, o que não é possível - a ética a ética oh a ética; ou os dois jornais tinham estado ambos no mesmo sítio e visto as mesmas coisas, ouvido as mesmas palavras e tomado nota das mesmas informações; ou a notícia foi enviada pelo gabinete de imagem e propaganda da Câmara Municipal, portanto re-escrita por jornalistas diferentes em distintas redacções, mas com origem na mesma oficina.
Contudo, depois de aturada reflexão, concluo que é a segunda a opção certa. Até tinham fotografias diferentes e tudo...
Assim sendo…
Relembro:
O Teatro Circo abre a 1 de Outubro.
Olé! Mas então não abria apenas em Fevereiro? Eu bem andava a dizer que, ou o TC (de Teatro Circo, e não de Tribunal Constitucional, esclareça-se) abria antes do dia 9 de Outubro, ou não valia a pena abrir em Fevereiro. O melhor era esperar por uma oportunidade mais redondinha, uma eleição qualquer... Já agora, fazia-se um esforço, porra. Já vi tantas obras serem inauguradas ao sprint, porque é que o TC não havia de ser uma delas?
Ah, lá está. O que abre é o hall e o salão nobre. E as escadas de acesso ao andar de cima. E o respectivo corrimão pintado.
Ah! Ainda há mais. Podem espreitar, de um camarote, o andamento das obras dentro da sala.
Bolas! Só podem é ser doze de cada vez. Que chatice. Estava tudo a correr tão bem. Bom, lá terá a autarquia de abrir o TC vinte e quatro horas por dia. Pelo menos até ao dia 9. E as visitas não podem exceder os 120 segundos. É subir as escadas, espreitar para a sala, cheirar a tinta, apanhar uma pedra e sair dali. Pronto… É o que se pode arranjar.
Que os bracarenses estão com saudades do TC, disse o presidente, e assim podem acompanhar a empreitada e matar as danadas.
E disse mais: que não tem receio de ver esta medida achincalhada na praça pública. Que está em campanha desde 1976 (acho eu. Estou a escrever de cor. Os jornais eram do café).
O que não tem é certezas nenhumas quanto ao funcionamento da casa. Tem ideias mas não avança com nenhuma antes de falar com a ministra da Cultura.
Eu acho que o TC pode ser tudo. Por exemplo: porque não passar para lá as bancas que sobreviviam no mercado do Carandá, quando o Mercado do Carandá pretendia ser um tradicional mercado de venda ao público? Já que transformaram aquele equipamento em mercado cultural, e para equilibrar a balança, transforme-se o TC num Bolhão bracarenses, num monumento cheio de história.
Mas não é tudo. Mesmo não sabendo como é que aquilo (com todo o respeito) vai funcionar, sabe que vai funcionar melhor que a Casa da Música. Ninguém tem dúvidas. E se não funcionar melhor que o Calhau da rotunda da Boavista, a culpa nunca será do Presidente bracarense. Afinal de contas ele gastou ali mais de 20 milhões de euros. Mais do que seria necessário para fazer de raiz uma casa de espectáculos, disse. Eu, que não sou engenheiro, sou um reles actor, - uma peixeira que espera que lhe deixem estender o cabaz no TC quando o TC funcionar -, diria que é mais do que construír de raiz quatro casas de espectáculos. Mas são contas minhas que não sei justificar. Afinal de contas sou actor.

terça-feira, setembro 20, 2005

Quem frequenta os espectáculos, sobretudo no norte do país, não calcula - e nem tem que calcular, bem entendido - as dificuldades que estão a enfrentar os profissionais do sector.
Aqui fica uma pequena amostra da ineficácia deste modelo. Para ler e, se for caso disso, assinar.
Neste endereço:
http://www.petitiononline.com/acultura/petition.html

segunda-feira, setembro 19, 2005

Comoveu-me a melíflua mão direita dos jogadores franceses da selecção nacional de futebol, pousada sobre o símbolo nacional bordado nas camisolas blues, também ele afixado o mais perto possível dos corações palpitantes e patrióticos.
Comoveu-me, mas simultaneamente, estranhei.
Bom, cada equipa tem a sua praxe… Eu diria mais: cada país tem o seu ritual. Uns vão-no construindo à medida que o tempo passa e as oportunidades de afirmação da sua linguagem vão surgindo; outros, mais tradicionalistas, afirmam-no porque era assim que os antecessores faziam. Os jogadores portugueses, por exemplo, aqui há uns tempos, davam as mãos, tipo meninos de escola…não sei se ainda é assim; os jogadores do Benfica, lá está, fazem uma vénia, não se sabe bem porquê nem com que intenção; e por aí fora.
Mas colocar a mãozinha sobre os símbolos nacionais que estão por cima do coração era, até à pouco tempo, um ritual que apenas os americanos usavam, seguidos, mais tarde, por uns quantos países e atletas, numa moda que foi pegando, que se foi pegando, tipo constipação. Mas não aos franceses, que é tudo gente vacinada.
Ora, aconteceu que, um imitador muito popular na França, fazendo-se passar pelo adoentado Jacques Chirac, telefonou ao capitão de equipa - o regressado Zidane - e pediu-lhe que intercedesse junto dos restantes jogadores, de modo a que todos, na cerimónia que antecede o jogo, e enquanto tocasse a Marselhesa, alinhassem na equipa dos auto-apalpadores, o que eles fizeram de bom grado (creio), de modo a animar o doentinho. E comportando-se o melhor possível, privaram-se até, (pasme-se), de um mínimo afago, por muito ligeiro e superficial que fosse, sobre o mamilo. A tentação foi muita, mas os dedos não se moveram, petrificados pela força da canção.
E no fim, voilà. Lá ficaram eles na fotografia, todos em igual pose, igualmente hirtos e firmes, a mão no peito, a boca em hino e, porventura, a cabeça em oração pela saúde do presidente gaulês.
Mal sabiam eles que este exercício de boa vontade, viria depois a dar nisto: um gozo pegado. Não há direito, gozar assim com o pagode. Não há direito, ter a barriga ao pé do peito.
É o que dá não se instituir password em telefonemas de dimensão superior.