quinta-feira, abril 26, 2007

O Papa

O Santo Padre Bento XVI está de parabéns.
Festejar o aniversário aos oitenta anos não é coisa de que qualquer um se possa gabar. Ainda por cima, sentado no cadeirão de S. Pedro, trabalhando portanto, e que trabalhão deve ser, por muito bem estofado que seja o assento.
Deve ter recebido, calculo, inúmeros cartões, cartas, telegramas, faxes, mail’s, sms’s, mms’s que, apesar da provecta idade, este deve ser um Papa das novas tecnologias.
O que Sua Santidade, talvez, não esperasse, em data tão especialmente festiva, era receber aquela cartita da Associação dos Cidadãos Auto-Mobilizados, insurgindo-se contra os excessos nada católicos do pároco de Santa Comba Dão.
António Rodrigues, o luso-padre protagonista e razão da missiva, é useiro e vezeiro em andar na esgalha com o seu Ford Fiesta 200 ST de 150 cavalos, gabando-se, em privado e publicamente, de atingir os 210 quilómetros nas estradas que ligam as várias paróquias em que presta serviço.
Ainda por cima, o padre advoga que a velocidade pode ser, também, um instrumento de evangelização, mormente no seio da juventude santacombadense e, por isso, caminho alcatroado para a fé. Convencido disso, acusa a missiva, amiúde, o pároco transporta grupos de jovens daqui para ali, e excita-os na fé da velocidade.
Em suma: aos 80 anos, o Papa tem, pela frente, um problema complicado para resolver.
A culpa de mais essa preocupação, a culpa de mais algum cabelo branco que pontifique na sua já esbranquiçada cabeleira é, sem dúvida, a da escassez de vocações. Houvesse mais seminaristas nos seminários, e mais padres seriam ordenados; Com mais padres no activo, melhor eles seriam distribuídos pelas dioceses e paróquias portuguesas; Com o território católico melhor coberto, menos eles tinham de andar numa lufa-lufa, de terra em terra, de capela em capela, a toda a brida, cumprindo horários apertados, arriscando, por via dessa pressa, pecados que, para além da velocidade experimentada, resultam logo depois, na imodéstia e na vã glória.
Parabéns ao Papa, e que trate com jeitinho o nosso santacombadense armado em Fitipaldi.
E porque é que será que o padre excêntrico, tinha logo de ser de Santa Comba Dão? Ele há cada coincidência.

tudo na mesma

Aparentemente, seis meses depois, tudo voltou ao mesmo, à mesma braguinha de sempre... já não era sem tempo, valha-me deus.
Em Braga é sempre assim, escreva-se a coisa com tê agá, ou sem tê agá.
Em Braga, já deviamos saber que não basta acrescentar letrinhas a uma ideia de espaço cultural que já existia, por mais antiga que seja a memória das coisas essenciais (como o verbo), como se a blindagem aos velhos comportamentos se fizesse com letras, aparato gráfico, por mais douradas que sejam. Nada! De repente, ou nem isso, boom! Os hábitos instalados parece terem tornado a aparecer, como velho silvado que, mesmo contra o betão, consegue romper quando e onde menos se espera.
Escrevo a propósito de notícias que, timidamente circulam, e dão conta do regresso de discussões mantidas em banho-maria durante os primeiros meses de funcionamento do Teatro Circo; de projectos díspares que se digladiam na intimidade dos gabinetes; de ideias contrárias que colidem; e, porventura, de autoridades mal esclarecidas, que se querem esclarecer agora, mesmo que com o carro marcha e seguindo em velocidade, no mínimo, interessante.
O Teatro Circo é da autarquia, e ponto final. Ok. É, talvez, a SA (sociedade anónima… creio que ainda o será?) mais pública que se conhece. Falou-se, há uns tempos, ainda a coisa estava encerrada para obras, em lhe mudar o estatuo jurídico, mas creio que nada foi feito nesse sentido, que a pressa da reinauguração tolheu essa vontade. Tem, por isso, como qualquer CA que se preze, uma equipa na definição da administração. Que, por sua vez, contratou uma direcção artística (mas que também administra o espaço, creio) e que convive com uma direcção administrativa delegada. Há aqui, sendo assim que a coisa funciona, uma ideia de blindagens sucessivas, de barreiras atrás de bareiras, olheiros de olheiros, polícia de polícia, que pareceu estar esbatidas, mas que se mostra agora, consta, de uma maneira determinante.
Mas voltemos ao teatro.
Dizia eu, que o dito cujo era da câmara. Portanto, pode fazer com ele o que muito bem entender, (mas atenção) dentro das regras democráticas estabelecidas nas derradeiras eleições e segundo o prometido pelo partido socialista (o que ganhou… o que ganha sempre) para aquele espaço cultural. Vinte e cinco milhões de euros depois, (e sabe-se como discordei publicamente dos gastos faraónicos que lá se fizeram, sem que se adivinhasse um benefício que, nem por uma unha, fizesse sombra aos custos), consta que foram alteradas as regras de funcionamento da casa, funcionamento que – a avaliar pelos comentários que vou ouvindo – tem merecido o elogio geral e o aplauso das sucessivas plateias que o vêm habitando, com taxas de ocupação que me dizem ser das maiores experimentadas em espaços de igual dimensão no país. Por outro lado, os ganhos com a bilheteira, na relação com o custo dos espectáculos, está muito acima da expectativa autárquica.
Sendo assim, porque é se que mudam as regras? Com que fundamento? Com que objectivos? Com que perdas?
Senti estas novas sensações, conspirações e aspirações e transpirações (os conspiradores conspiram, os aspiradores aspiram... Cesariny) através de um texto a que tive acesso, e que subscrevi, um dia destes. Apenas um parágrafo me trouxe indecisão. Misturava-se no mesmo saco (e eu até percebo a confusão) o Teatro Circo com a Companhia de Teatro de Braga, de uma forma que considero incorrecta. Uma coisa não é a outra, mas admito que a presença numa e noutra estrutura, durante todos estes anos, do encenador da CTB e, simultaneamente, administrador-delegado do TC, possa levar a estas confusões. Mas porque não era essencial para o objectivo da petição, era coisa marginal, opinião que muitos vêm defendendo – a esmagadora maioria… quase a totalidade –, assinei. Mas o essencial da questão é outro: tornámos à estéril discussão do PODER que em Braga é tão natural.
Finalmente, as coisas estão como sempre estiveram. Claro que quem se lixa...

segunda-feira, abril 23, 2007

Os franceses foram às urnas. Votaram em massa, numa demonstração fantástica de vitalidade da democracia francesa. A campanha eleitoral irá decorrer, agora, por mais duas semanas até que, na segunda volta, consegam escolher o novo presidente da república.
Na Madeira, começou a campanha eleitoral para as eleições precipitadas que a demissão de Alberto João Jardim, em boa hora, propiciou.
E para início de campanha, não está nada mal.
Os recentes escândalos em redor da licenciatura de Sócrates, nas palavras de Jardim, são um castigo de Deus, pelos males que este energúmeno bacharel está a provocar, na Madeira em particular e em Portugal em geral.
Viva a democracia.

segunda-feira, abril 02, 2007

Vai um tirinho, freguês?

Há dias assim. Há dias em que por mais que nos esforcemos, nada nos pode correr bem. Parece que o mundo vai desabar em cima de nós, aconteça o que acontecer, façamos nós o que fizermos. E é nessas alturas, em que o desespero pode a qualquer momento tomar conta de nós, que a dúvida nas nossas capacidades se pode instalar de forma definitiva, quando tentamos encontrar resposta para os nossos problemas, razões que amaciem a nossa desilusão, é nessas alturas que estamos prontos para fazer as maiores descobertas, construir as melhores desculpas que, de tão esfarrapadas, até parece poderem ser coisa verdadeira.
Então não é que, um destes dias, quando o exercito português preparava e experimentava um exercício que, a acreditar na notícia que li num jornal diário, é coisa rotineira, perante resultados disparatados de tão exíguosa ou mesmo inexistentes tamanho era o fracasso, toca de inventar uma desculpa credível. Na verdade, o que estava a acontecer era a operação designada por Relâmpago 07. Ora, nestas coisas militares, o melhor mesmo e arranjar um nome assim a deitar para o heróico, uma piscadela de olho ao cinema, que é para a coisa ficar mais apetitosa. Pois a operação relâmpago 07 consistia em disparar dez mísseis terra-ar de curto alcance, e importa esclarecer que os mísseis têm um nome no mínimo estranho, chamam-se Chaparral, embora sejam de fabrico americano, datados de 1990. Coisa, portanto, já com 17 anitos. Quase a maioridade. Daqui a uns tempos, tivessem ele permanecido sossegaditos, vá lá, à sombra de um chaparro a sério, e já poderiam votar. E Chaparral, imagino eu, deve ser o nome com que os militares tugas os baptizaram… não estou a ver os americanos a chamar chaparral a um míssil, por muito lento que ele ameace ser.
E estava-se naquilo, na Marinha Grande, preparar, fogo e lá vai disto… Dez vezes. Disparados os dez tiros, fazem-se, por fim, as contas. Olé: nem um único tirinho acertado? Não pode ser. Verificam-se os alvos cuidadosamente, e nem beliscadura. Que nunca tal aconteceu, disseram os chefes militares. E toca a encontrar respostas, ou desculpas, para tão estafados resultados. Pouca mira dos militares que dispararam os supositórios? Nada. Qual quê. Cálculos mal efectuados? Ora essa, que possibilidade mais descabelada. A culpa, meus senhores e minhas senhoras, disseram os chefões, fora dos alvos. Que, desconfiavam, já não estavam bons, Que os alvos prescreviam este ano, disseram, e as ondas de calor que emitiam, já não eram suficientes para guiar o supositório de curto alcance. E mais disseram: falhou o espectáculo, mas valeu o treino.
Mas que treino?
Vai um tirinho, freguês?

domingo, abril 01, 2007

os grandes portugueses

Infelizmente já não posso voltar a trás. E mesmo que pudesse, de nada me valeria este novo dado, esta aventura lusa que é capaz de nos entusiasmar pelo espanto. Para aliviar a minha consciência de português suave, a propósito do resultado para o grande português que até há muito pouco, decorreu na televisão do estado, já não contribui a história que acabo de ler, primeiro incrédulo e depois com potenciada admiração.
Pudera eu votar agora, como não votei outrora, e teria levantado o mais alto que me fora possível, o nome desconhecido desse português de Fornos de Algodres, que chamado por um amigo, logrou cruzar o oceano e, em Miami, armado de telemóvel, intentou assaltar um banco (se é que tinha consciência disso… do assalto como se fora um assalto…), com o fito de um prémio de 15 mil dólares.
A arma serviria, como serviu, não unicamente para intimidar os funcionários do banco, mas igualmente para permitir conversação, uma vez que o «assaltante» em pessoa (ponho «assaltante» entre comas, que é por via das dúvidas) não possuía as ferramentas linguísticas que permitissem a comunicação fundamental. E mesmo assim, mesmo sabendo-se em desvantagem, ele lá foi, com a coragem que muito poucos ousaram demonstrar. Montando, não Rocinante, mas um telemóvel que, quero crer, não teria menos de dez anos de vida e um cartão com uns reduzidos trinta ou quarenta dólares, tendo na outra ponta da comunicação um Quixote ou um Sancho, não importa, não hesitou e foi, não sendo importante o prémio final, se a ilha se Dulcineia.
Este sim, é que é o herói dos tempos modernos, aventureiro apaixonado, Quixote do telemóvel, qual Vasco da Gama cruzador dos ares, a quem Camões não rogara loas e Pessoa carta astral, a quem Aristides carimbaria visto nem que fosse numa nota de dólar. Quem é Afonso Henriques ao seu lado? E D. João II? E o tal de Marquês de Pombal? Ainda se fosse Marques Soares. E Cunhal, labiríntico político-artista?
Só em Algodres, é de fornos assim nasce tão varonil pão de quilo.
Viva Portugal.
Qual Salazar qual quê!