terça-feira, abril 27, 2010

não há crime, disse ele.

A justiça tarda, mas não falha.

E se não for a justiça dos homens, às vezes tardia ou vesga, chegará a justiça divina e, algures, num local infrequentado pelo género humano, mas por onde todos havemos de passar, queiramos nós ou não, ela será feita, sem apelo nem agravo. E é essa definitiva justiça que nos alimenta o imaginário sedento de equilíbrio.

Mas enquanto não chega, e esperemos que demore muitos anos, sinal de que frequentamos este pedaço e aqui vamos permanecendo intocáveis, há locais onde ela se vai realizando, ministrada por gente especializada, uns quantos homens (e mulheres) que se prepararam afincadamente para ela.

A justiça é representada – os homens precisam destas personificações para melhor interpretar a coisa... Deus, por exemplo, é velho e tem longas barbas brancas... Jesus é loiro, giro, musculado, e tem ar de artista de cinema; o Espírito Santo é uma pomba – a justiça (escrevia eu) é representada por uma rapariga que não vê (está vendada, até, não vá a tentação traí-la… e não ouve nem fala, desejo eu, como na anedota do macaquinho) e que carrega uma balança para pesar, se não os crimes ou coisa do género, os argumentos apresentados em defesa deste ou daquele, ou em acusação a este ou àquele...

E que decidiu ela, ou o juiz em seu lugar, no caso BragaParques?
Ilibou um dos proprietários, o envolvido, que terá avançado para processo, duzentos mil passinhos.

Mas recomecemos: há uns anos, poucos, um senhor da BragaParques terá tentado pagar duzentos mil euros – pelo menos é que se diz – a um vereador da câmara municipal de Lisboa. Para quê? Na opinião do vereador, para que ele desse (vá lá) uma mãozinha na câmara alfacinha, de modo a que os interesses da BragaParques fossem defendidos nos negócios, muitos, em que estavam envolvidos. Segundo o senhor da BragaParques, foi o irmão do vereador, advogado, que terá pedido os tais duzentos mil euros. Repare-se que não foi dito que ele não dera 200 mil dele. Não. Foi a pedido do irmão que os desembolsou. Áqui-del-rei, que fora uma armadilha, argumentou.

O senhor juiz, (o tal que estudou, no abstracto e no concreto, ou seja, as leis e a sua aplicação a este caso), decidiu que o senhor da BragaParques não podia ser condenado. Porquê? Porque os 200 mil euros, nas mãos daquele preciso vereador, não serviam para coisa nenhuma. Ou seja, o vereador não tinha competência para fazer valer as posições da BragaParques.
O vereador perdeu em toda a linha.

Perdeu os 200 mil, porque os entregou como prova do crime; e perdeu em tribunal a acção com que litigava contra o senhor da BragaParques. E se não se põe a pau, ainda apanha com um processo em cima, por burla. Porque terá, num primeiro momento, aceite duzentos mil euros, para realizar um trabalho para qual não tinha competência. E mais: a acreditar no senhor da BragaParques, terá feito publicidade enganosa a si mesmo, vendendo de si a imagem de capacidades que não possuía, como o tribunal comprovou.

Toma. Vai buscar.

quarta-feira, abril 21, 2010

do que se diz...

As comissões parlamentares da assembleia da república, ou as comissões de inquérito, criadas no âmbito de acontecimentos específicos e que existem para fazer o tirocínio possível aos diferentes acontecimentos que deixam margem a algumas dúvidas, são sempre motivo de notícia e, às vezes, de alguma perplexidade.

Um dia destes, Emídio Rangel, histórico ex-director da TSF dos velhos tempos da sua afirmação – eu diria, mais correctamente, da sua ‘revolução’ no panorama radialista nacional -, numa dessas comissões (na comissão de ética, creio), afirmou, em texto manuscrito para coisa ser mais definitiva, que a fonte ’do mau jornalismo’ em Portugal, jorrara pela mão de Paulo Portas e de O Independente. E para concluir o seu raciocínio, acusou as organizações sindicais dos juízes e dos magistrados do Ministério Publico, de serem ‘centrais de gestão e informação processual’, passando informação filtrada a jornalistas cúmplices.

Pais do Amaral, ainda anteontem, numa outra comissão de inquérito, reiterou o que dissera há tempos, acerca da informação da sua TVI (de que era proprietário enquanto principal accionista da Media Capital), de que no tempo em que José Eduardo Moniz era o responsável todo poderoso do canal e Manuela Moura Guedes a sua mão e pé direitos na informação, que ambos ‘tentaram derrubar o governo de Santana Lopes’.

Se Rangel, que quando a SIC - de que era director geral – estava em alta, dizia (não exactamente assim, mas próximo disto) ser capaz de fazer eleger presidentes tanto como vender sabonetes, Pais do Amaral afina pelo mesmo diapasão, ao dizer que, na sua estação, se tentou derrubar um governo. Ora, sabendo-se o que aconteceu realmente a esse governo, conclui-se que a TVI terá derrubado mesmo Santana… Como Rangel poderia ter eleito presidentes.

Independentemente de ter sido com Paulo Portas, ex-director do semanário O Independente (de que Pais do Amaral foi administrador… anda-se sempre à volta das mesmas pessoas… não é?) que terá começado a jorrar a ‘fonte do mau jornalismo’, foi com Paulo Portas, se bem me lembro (como dia o outro), que as fugas de informação à justiça e a putativa aliança (nas palavras de Rangel) do sindicato de magistrados com os jornalistas começou a fazer vítimas selectivas.

E Manuela Moura Guedes não foi deputada do CDS-PP numa legislatura, precisamente, quando Paulo Portas emergia na cena político partidária?

E mundo (luso) à volta de umas quantas cadeiras… E os mesmos rabos nelas alapados.

quinta-feira, abril 15, 2010

feiras: romanas, barrocas e de livros

Há umas semanas, num dos meus posts, escrevi acerca da hipótese da Feira do Livro de Braga poder passar a ser feita, conforme proposta do Henrique Barreto Nunes, no centro da cidade e ao ar livre. Manifestei a minha concordância, mesmo sabendo dos condicionalismos meteorológicos que, assim à partida, me parecem ser os únicos entraves a uma bem sucedida mudança. Numa votação na Assembleia Municipal, creio, foi aceite a proposta, mas apenas no próximo ano. Este ano, portanto, – aliás, já está anunciada e tudo – a feira ainda decorrerá no Parque de Exposições de Braga.

A propósito dessa mudança, manifestei na ocasião as minhas mais profundas dúvidas acerca da pertinência, enquanto acontecimento cultural (como também se quer fazer passar), da montagem da chamada Feira Romana. E isto a propósito de uma outra proposta, negligenciada pela Assembleia, da criação de uma Semana do Barroco.

Na verdade, a Feira Romana tal como acontece em Braga, poderia ser realizada, sem perda de grande significado, noutro sítio qualquer, como o é de resto. E esse facto, entre outros, é suficiente para que eu me pergunte da sua pertinência. Meramente no plano cultural, diga-se. Não basta a Braga ser a Roma portuguesa, para que a coisa faça mais sentido aqui do que noutro sítio qualquer. Trata-se de uma organização derenraízada, mas com potencial. É apenas mais uma feira sem significado especial, eu diria que uma oportunidade desperdiçada, apesar de ser erguida sobre ruínas romanas, em cima de montanhas de história, mas que o presente tende a lançar para trás das costas, como se esse passado constituísse qualquer ameaça aos presentes risonhos que se vão construindo por sobre as suas ruínas.

Não se sente por parte das instituições nenhum esforço de programação especial no espaço temporal de vigência da feira. A própria feira foi entregue a uma lógica absolutamente comercial, desligada da realidade cultural, que lhe poderia fornecer a mais valia de que ela necessita. No fundo, é apenas mais um negócio, que não sei se muito interessante se não, para um conjunto de pequenas ou médias empresas, construídas com este exclusivo objectivo, e que trabalham na área no entretenimento nomadista. A esmagadora maioria destas empresas tem sede em Espanha, onde estas manifestações têm um peso e uma importância diferente e, porventura, terão um enquadramento distinto.

O que é que era preciso fazer para melhorar este produto? Vontade, por um lado, e capacidade de intervenção, por outro.

Mas nem uma coisa nem outras estão à venda numa feira. Tão pouco numa feira romana.

quinta-feira, abril 08, 2010

dias curtos

Os dias não são suficientemente longos, para as tantas coisas que querem entrar neles e ser notícia.

Nem longos nem curtos, diga-se. Não dá para saltar para o dia seguinte, só porque este momento nos está a correr mal; nem para nos aguentarmos nele mais um pedaço, porque estamos mais felizes que nunca, e apetece tanto prolongar o momento.

Se há coisa certa, é esta: o dia tem 24 horas. É consensual que todos pensemos que sim. Eu, pelo menos, penso. Que tem, e que penso assim. Uma espécie de pensar duplo.

E porque tem 24 horas, e uma hora é um tempão dele (dele, de tempo), dá para que, no correr desse pedaço de tantas vidas, aconteçam as mais variadas coisas, se cruzem connosco as mais diferentes e incríveis notícias. E que se repitam essas coisas, que se desenvolvam, se multipliquem, que acerca delas se formem réplicas (como acontece nos sismos), ecos do som realizado, gestos que se repetem anda que coados pelo espaço, ondas que vão e que vêm, como o mar que se enrola na areia.

Como as notícias, eis. Umas a seguir às outras, as histórias das tantas histórias. E houve muitas, nestas últimas horas:

a) Como a do Papa, na relação com os clérigos pedófilos, dadas à estampa à velocidade de TGV, para desespero dos mais altos dignitários da Igreja, do próprio Papa, e dos católicos em particular.

b) como esta pouco nova, do primeiro-ministro português, que terá assinado uma data de projectos quando ainda não o era, parece, e, sobretudo, quando era funcionário (deputado, no caso) em exclusivo do Parlamento.

c) e há a história, em permanente desenvolvimento, do negócio dos submarinos contratados pelo estado português.

d) e a história do assassinato do chefão da ala mais à direita, afrikander, pró-aparteith, da África do Sul, abrindo feridas por cicatrizar num conflito que parece não ter fim à vista;

e) e há o negocio das bandeiras espanholas que, nos tempos que correm, deve ser o produto mais vendido em Valença, e tudo por causa do encerramento de uma unidade de saúde, no período da noite; Bom, pelo menos revitaliza-se o negócio do têxtil e do estampado, a não ser que os chineses já tenham descoberto este filão...

f) e há, sobretudo, a notícia do êxito, na reprodução em cativeiro, do lince ibérico. Nasceram duas lindas crias neste domingo de Páscoa, o que é uma coincidência engraçada, sobretudo quando se sabe que o lince necessita, em liberdade, de muitos coelhinhos bravos para que se possa alimentar.

Se mais horas tivesse o dia, muito mais histórias haveria para contar.

quarta-feira, abril 07, 2010

páscoa 3 + futebol

O Sporting de Braga tem – ainda se pode dizer assim, creio – a oportunidade de se sagrar campeão nacional de futebol. Está em segundo lugar, a seis pontos do primeiro. É certo que a tarefa não se afigura fácil, sobretudo depois do jogo realizado em Lisboa. Três pontos os separavam… agora seis, mercê da derrota verificada. Mas, matematicamente, ainda parece possível. Ainda por cima, como se costuma dizer, a esperança é a ultima coisa a morrer... E há quanto tempo é que o Braga não se via nestas andanças, se é que alguma vez as experimentara? Este é um tempo que marcará a memória de muitos bracarenses. E não só.

No tartan dos anos e das vidas, na nossa e nas dos nossos semelhantes, as curvas sucedem-se umas atrás das outras; mais, se a vida de estende pelos quilómetros sem fim; e, menos, se se trata de uma corrida curta.

Para determinar alguns locais de passagem, o tempo, – a vida, sei lá –, forneceu-nos pequenas marcas que sinalizam, sem que pensemos muito nisso, o ‘sítio’ preciso onde estamos. Há as marcas ocasionais, aquelas que nos ajudam a vincar na memória factos que vamos experiênciando, como é agora o caso do futebol e do Sporting de Braga; e as ordinárias, cujo desenho cíclico funciona como uma espécie de relógio: o Natal, o Carnaval, a Páscoa, por exemplo.

Em Braga, por coincidência, juntaram-se nesta altura do ano, estas duas marcas, numa confluência única. Por um lado a possibilidade de vitória no futebol; por outro, a cultura religiosa predominante, ou não seja Braga a Roma portuguesa.

A uma e à outra, estão indelevelmente ligadas as figuras mais proeminentes da urbanidade bracarense, mormente as suas figuras cimeiras no campo da política autárquica. Ou, dito de outra maneira: no mesmo traço do tempo, aí estão a igreja, o futebol e a política, de mãos dadas, a empurrar a cidade para o futuro que se quer. Cumplicidades que se cumprem, como uma tradição a que se recorre.

É uma pena que não se consiga meter nesta jarra também o Fado, no que isso pudesse representar de eminentemente cultural, para que o caldinho ficasse completo.

Mas isso já era pedir demais, não era? E depois, a cena fadista traz também a treta do destino, da saudade... E isto quer-se é pela positiva, não é?

títulos

A ideia era fazer um título engraçadinho.
Os jornais desportivos têm essa coisa entranhada no adn. Pelam-se por um título engraçado. Esta fotografia - e esta notícia, pois - tem já algum tempo. Mas é um belo exemplar deste outro desporto nacional. Ou não é? AInda por cima mete o Maria da Fonte e tudo. Leram bem: 'o' Maria da Fonte.
O desporto tem destas coisas.


páscoa 2











No Porto. Em frente ao mercado do Bolhão. Terça-feira. 16h00. Um compasso e pessoas a beijar a cruz. Na rua. E nas lojas. Páscoa, ainda.

domingo, abril 04, 2010

páscoa

Numa das ruas de Braga, já me cruzei com o Compasso.
Já beijei a Cruz.
Aleluia, Aleluia!