domingo, dezembro 30, 2012

balanço íntimo


Nos natais de cada ano, entre uma refeição e outra, no pouco tempo que resta, a gente pensa na vida. Entre o digestivo que remata o almoço e as entradas do jantar, fazemos os necessários balanços. A gente alheia-se da conversa de sempre, ou então convivemos com ela, pois, mas nos intervalos, pensa-se. Balança-se. Eu pelo menos.
Este Natal não foi excepção.
E em jeito de balanço, deu-me para comparar o que fiz nos últimos tempos. Curiosamente, os dois últimos espectáculos que dirigi, estão nos antípodas da grandiloquência, mas não nos antípodas a minha atenção e empenho e isso, convenhamos, deixa-me sossegado
Em Setembro, encenei a Viagem de Inverno, de Shubert, no Teatro Helena Sá e Costa, com uma brevíssima equipa, um cantor e um pianista, Job Tomé e Angel Gonzalez, e as diferentes linguagens envolvias, bem entendido: a cenografia minimalista, a luz, o som, o video, etc. No dia 21 de Dezembro, encenei e estreei na Capital de Cultura, naquele que era chamado o espectáculo de não-encerramento, com cerca de 600 pessoas envolvida em cena, e no espectáculo mais tecnicamente complexo em que me vi envolvido, pela escala, claro, mas também pela dificuldade tecnológica.
Em ambos as mesmas angustias, as mesmíssimas duvidas, as conhecidas insónias, as mesmíssimas expectativas...
O primeiro, estava destinado a uma pequena sala de espectáculos do Porto, teatro de escola e, talvez, num futuro mais distante, a outros palcos e, porventura, outros países, mas trata-se de um espectáculo de palco, intimo, simples; o segundo, estava formatado para o Multiusos de Guimarães, três mil e duzentas pessoas a assistir nas bancadas, mais umas centenas de milhares, através da RTP2, RTP internacional e demais veículos de comunicação.
No primeiro, um piano humílimo, ainda que bordejado de emoções; no segundo, uma orquestra sinfónica e um coro imenso, e mais de quinhentas vozes na cena a entoar as canções escritas de propósito para a coisa.
No primeiro um orçamento quase inexistente, uma prova académica de mestrado; no segundo, um espectáculo de encerramento de uma capital da cultura.
Mas em ambos, o mesmo empenho.
Creio ter vencido a prova e estar hoje mais preparado do que há uns meses.
Votos de bom ano.
Pelo menos para mim, que mereço.