segunda-feira, janeiro 30, 2006

PARA ACABAR DE VEZ COM O BAR EGÍPCIO

Aqui está a notícia conjunta da ASPA e do SINDICATO DE POESIA, a propósito da acção que amanhã, 31 de janeiro, às 21h30, na sede do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, na Rua do Souto nº 9, irá ter lugar.

O Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços do Minho vai ter que mudar de casa e, por isso, deixar as instalações que ocupava num edifício setecentista da Rua do Souto, nº 9, há muitas dezenas de anos.
Tanto quanto se sabe, o interior desse prédio, bem como o dos contíguos, entre os quais se conta a conhecida Barbearia Matos, vai ser totalmente demolido, a fim de dar lugar a mais uma “moderna” superfície comercial que ligará a Rua do Souto ao Jardim de Santa Bárbara, dando coerente continuidade à “política fachadista” que a C. M. Braga pratica e sanciona.
Sucede que naquele prédio, para além do valor e representatividade artística do seu interior, se situa o conhecido BAR EGÍPCIO, projectado por José Faria Barbosa e pintado por Lúcio Fânzeres em 1937, de acordo com uma corrente que teve enorme sucesso em Portugal nos finais do século XIX e inícios do seguinte, que decorava as paredes dos cafés com motivos exóticos, em geral orientais, ou da arte do antigo Egipto dos faraós, como é o caso da sede do Sindicato.
Os bares orientais, ou chineses, existentes em Guimarães ou na Póvoa de Varzim, já desapareceram ingloriamente. Em Braga encontra-se a sua última sobrevivência que, perante o desinteresse, a ignorância ou a insensibilidade das entidades que deveriam saber preservar a memória dos lugares, também será reduzido a pó e escombros.
Para além do valor artístico e simbólico daqueles espaços, foi naquele bar que o Sindicato de Poesia, em 1996, realizou os seus primeiros recitais.
Durante alguns meses, às sextas-feiras ao fim da tarde, os operários da palavra poética, empenhados em intervir artística e culturalmente numa cidade pardacenta, divulgaram em sessões públicas muito concorridas alguns poetas portugueses e deram início a uma actividade de enorme qualidade que rapidamente marcou a agenda cultural bracarense, criando espectáculos de grande interesse e impacto que ultrapassaram as fronteiras locais.
O Sindicato da Poesia não podia ficar indiferente à morte anunciada do espaço que o viu nascer e por essa razão no próximo dia 31 de Janeiro, a partir das 22H00, naquele mesmo local, regressa ao seu projecto inicial, então intitulado Para fugir aos estudos.
Certamente pela última vez, no BAR EGÍPCIO, Antonio Durães, Ana Gabriela Macedo, Fernando Coelho, José Miguel Braga, Luís Barroso, Manuela Martinez, Marta Catarino e Sofia Saldanha darão voz à poesia de António Gancho, Florbela Espanca, Alexandre O´Neill, Jorge de Sena, Alberto Pimenta, Cesário Verde, Rui Belo e Ana Luísa Amaral.
Este recital conta com o apoio da Biblioteca Pública de Braga.
Igualmente naquele local, no mesmo dia e pelas 21H30, a ASPA que, além de divulgar e defender a necessidade da salvaguarda dos prédios setecentistas da Rua do Souto, para os quais pediu a classificação sem ter recebido qualquer resposta das entidades competentes, associa-se aquela iniciativa promovendo as Conferências do Sindicato.
Inspirando-se nas Conferência do Casino de 1871, em cuja sessão inaugural Antero de Quental fez uma “apologia da razão humana e da revolução, no que esta ideia tinha de mais largo e mais elevado”, com as Conferências do Sindicato, alguns membros da ASPA dirão da sua justiça perante mais este atentado contra o Património Cultural que em Braga se vai cometer.
Estão previstas curtas intervenções de Armando Malheiro da Silva, Miguel Bandeira, Eduardo Pires de Oliveira e Ademar Ferreira dos Santos.
Esta actividade conjunta do Sindicato da Poesia e da ASPA realizar-se-á na próxima terça-feira, dia 31 de Janeiro, a partir das 21H30, na sede do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Rua do Souto, nº 9, sendo naturalmente aberta à participação de todos os cidadãos interessados na preservação da memória cultural da sua cidade.

ASPA
SINDICATO DA POESIA

sexta-feira, janeiro 27, 2006

+ sindicato

Com a devida vénia, aqui fica um registo fotográfico do recital de ontem, captado por Sofia Saldanha.
Mas no dia 31 deste mês há mais.
A esse propósito, publicarei um post lá mais para diante.
O recital irá realizar-se na quase antiga sede do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio e Serviços do Distrito de Braga, que está prestes a ser assassinada. Trata-se de um edifício do século XVIII, dos poucos que a rua ainda preserva, e onde fica a denominada sala egípcia, por ser totalmente forrada por pintura em madeira, de elementos de inspiração egípcia. Por coincidência, foi lá que o Sindicato de Poesia nasceu, há quase dez anos, com o projecto PARA FUGIR AOS ESTUDOS. Antes da casa ir abaixo, o Sindiato de Poesia vai lá despedir-se do sítio. E conta, naturalmente, com a cumplicidades de todos os amigos.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

sindicato de poesia 2

Agora com fotografia, aqui se relembra o recital que o Sindicato apresenta neste final de tarde, no Estaleiro Cultural da Velha-a-Branca, em Braga. É às 19 horas e estes são os protagonistas: João Figueiredo, Sofia Saldanha, Manuela Martinez e Luís Barroso, que igualmente concebeu a sessão.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

O Sindicato de Poesia Convoca

Mais uma vez, pela primeira vez este ano, na última quinta-feira do mês, o Sindicato de Poesia convoca os cidadãos para mais um recital. Convocados serão, igualmente, OS LIVROS.
Este recital tem direcção de Luís Barroso, e os poemas serão ditos por João Figueiredo, Luís Barroso, Manuela Martinez e Sofia Saldanha.
Do recital, dizem (dizemos):
«Escolhemos para este novo recital inserido no ciclo "o sindicato de poesia convoca" OS LIVROS.
O livro: objecto real, imaginado. A leitura: momento mágico.
É dos livros que bebemos a sabedoria e alimentamos os sonhos; é através deles que viajamos para novos sítios e velhos; e nos situamos, certos de que somos isto, mas poderiamos ser outra coisa que não esta; outro tempo, outra matéria.»
É às 19h00, no Estaleiro Cultural Velha-a-Branca, na Senhora-a-Branca, pois!

segunda-feira, janeiro 23, 2006

milinhos

Nem me tinha dado conta.
Passámos das mil entradas.

cu-incidências

Num dos livros de Woddy Allen, (nem sei em qual), num dado momento, à laia de testemunho, uma personagem (um escritor) declara perdão a um seu inimigo figadal (um crítico). Que sim, que era verdade que ele lhe tinha feito muito mal, que tinha escrito coisas horríveis a seu respeito e a respeito de algumas das suas mais belas obras literárias, que tinha destruído algumas das suas maiores expectativas em relação a este ou àquele romance, que lhe tinha dado cabo da vida particular-familiar, uma coisa que o escritor articulava mal com a sua vida profissional. Mais ou menos a meio do testemunho, num rebate de consciência, o escritor apiedava-se do crítico que, coitado, não tinha outro remédio senão agir assim, que aquela era a sua vida, que tinha de escrever sobre o trabalho das outras pessoas, emitir opinião, e que, no fundo, até ele (o escrtitor), depois de lidas as suas críticas, concluía que, lá no fundo, ele tinha toneladas de razão: afinal, os romances publicados não eram tão bons quanto ele tinha desejado, que as espectativas estavam muito para além da real valia das obras, etc etc.
Mais ou menos como José Sócrates, em relação a Manuel Alegre, depois de perdidas as últimas eleições presidênciais à primeira volta, para Cavaco Silva. Que o povo tinha escolhido, disse o primeiro-ministro e secretário-geral do PS, que com estas eleições se encerrava um capítulo eleitoral, que finalmente ia ter três anos e meio de sossego (não o disse, mas eu subentendi-o), e que não ia convocar um congresso partidário para fazer caça às bruxas.
Na peça literária de Woddy Allen, o escritor terminava dizendo que (mesmo percebendo muito bem a dificuldade do trabalho do crítico e a putativa verdade das opiniões técnicas consideradas) aquando dos bombardeamentos alemães, ele pelo sim pelo não, apontou um holofote à casa do crítico.
Também Sócrates, por via das dúvidas, e porque a vingança ressaibiada deve servir-se fria, falou por cima do candidato-poeta, obrigando as televisões a fazerem opção, escolhendo-o a ele, e relegando o candidato vencedor entre os vencidos, ao quase total silêncio.
O PS diz que foi uma ínfeliz coincidência.
Coincidência?
Não! Nem as muletas.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Grândola

Infelizmente não assisti à imagem histórica do cante alentejano de Cavaco. E ainda não vi essas imagens repetidas na TV. Nem consigo com alguma fidelidade, confesso, imaginar Cavaco Silva a cantar Grândola Vila Morena. Mas parece que cantou. E depois disso (e talvez antes, não sei) já usou o chavão várias vezes, agitando as águas e dizendo que era o povo quem mais ordenava, gastando um dos versos da canção, já de si, ele mesmo, uma citação de uma palavra de ordem qualquer, usada pelos da esquerda. Esta coisa das palavras de ordem outrora pertença do PCP e agora usadas pelas várias forças políticas, algumas até inimagináveis na suposição do uso, já vem do tempo de Paulo Portas, quando ele era o manda chuva do CDS (ou do Partido Popular… ou dos dois), e quando se ouviam aos betinhos das suas hostes, «assim se vê, a força da jota cê»... As voltas que o mundo dá... E agora, seguindo o padrão inventado por Portas, Cavaco cantou a Grândola. O homem não podia, nesta inauguração, fazer a coisa por menos. Pior era se cantasse a Internacional. Pois. Mas mesmo assim... A cantiga foi a senha do vinte e cinco de Abril, caramba.Tenho uma pena imensa de não ter assistido ao momento. Nem imaginá-lo, assim descontextualizado. Apenas consigo, sem esforço, escrever o guião fílmico da cena.
Vamos a isso.
Já estou a imaginar a cena: vindo de longe, de uma zona de nevoeiro qualquer, o som de passos que se arrastam. Não se sabe de quem são os passos... Apenas se ouvem, pausados, síncronos na paisagem brumosa. E agora já se divisam as silhuetas. Ah surpreendente visão, desce sobre mim super-poderes, e deixa-me vislumbrar os rostos que, em zoom, ganham forma e feição. Já os vejo, sim, visão ultra ultra, ei-los, de braço dado, claramente vistos, Marques Mendes e Ribeiro Castro, eles mesmos, braço com braço entre outros braços. São muitos, todos agarradinhos: Ramalho Eanes, António Borges, Eusébio, Luís Filipe Menezes, tudo gente de primeira apanha, que arrasta os sincronizados passos. Eusébio vai mais lento... coxeia ligeiramente. Ai aqueles joelhos... E agora, sobre esta teia de sons, sobre este bailado político, a voz do solista (ou do sulista?) Cavaco. Lindo.
A democracia, como uma canção.
E agora, tem a palavra o júri de Portugal.
Boa noite Portugal, daqui Portugal. Canção número um…

a careta

Que ele não tinha jeito nenhum para aquilo, já nós sabíamos. É daquelas pessoas a quem é escusado pedir uma resposta a alhos, quando ele só sabe (ou só está disponível para) responder a bugalhos.
- Então, aceita mais um debate, agora a seis?
- Eu (pestaneja) quero respeitar a democracia. Quero respeitar (pestaneja outra vez) todos os portugueses.
- Mas… e que tal um debate na sexta-feira?
- Na sexta, (pestaneja) quero apenas respeitar a democracia e os (pestaneja… ou será que pisca o olho?) portugueses.
Comentar uma entrevista de um seu ex-secretário de estado da cultura, de um ex-presidente do seu partido, de um ex-primeiro ministro? Só mesmo não respeitando a democracia e os portugueses. Não vale a pena pedir a alguém que não tem jeito nenhum para representar, para fazer umas quantas caretas em frente a uma câmara de televisão. Mas como a campanha obriga, toca a desrespeitar um pouco a democracia e os portugas que ainda se entusiasmam com ela. Estavam mesmo a pedi-las… Pronto, deu asneira. O que ele tinha de fazer, era o que ele realmente sabe fazer: abrir os braços e dar duas lambadas – no caso, enviar – ao sancana do provocador. Perdão: ao satana do provocador. Perdão outra vez: ao santana do provocador…
Abriu a boca… entrou mosca.

golo

Há um senhor, no café onde às vezes vou ver futebol, que adivinha os golos que se verão na televisão. Uns segundos antes, três ou quatro, o homem grita o golo que a televisão mostrará.
Não sei como se chama, nem o que faz. Só sei que antecipa os golos. Grita-os entusiasmadamente se vão ser marcados pela sua equipa, e com desconsolo se são marcados contra a sua equipa. Parece os fareja. Adivinha-os, pois. Pressente-os milagrosamente. Tem um sexto sentido. Infelizmente, acho que só consegue fazer adivinhação com futebol. Já lhe perguntei quem ia ganhar as eleições presidenciais, mas ele disse-me que percebe pouco de política. Assim sendo, fica tudo para o dia 22.
Que pena que o Benfica não concorra.