domingo, maio 01, 2011

nobres escolhas

As escolhas partidárias para os rostos das respectivas candidaturas - os chamados cabeças de lista - das diferentes regiões ou distritos ou círculos eleitorais, é uma matéria à qual deveríamos emprestar um pouco mais da nossa atenção.

Se não, vejamos:

Primeiro foi o PSD, um dos partidos do chamado ‘arco da governação’, expressão que terá sido inventada, creio, pelo dr Paulo Portas, (ele também a merecer um estudo sério), a escolher na clandestinidade de um gabinete qualquer, entre duas ou três pessoas, e a apresentar um ex-candiato presidencial e estandarte da ideia de cidadania presente nas últimas eleições, o primeiro nome por Lisboa. Ao Nobre candidato de então, acima dos partidos e das tricas da politiquice sórdida, sucede o candidato partidário de agora, cabeça de lista pela capital e, mais, candidato a presidente da assembleia da república, cargo para o qual nós não somos chamados a votar.

O homem não faz as coisas por menos. Como, eleitoralmente, o povo não o escolheu, precisamente a ele, para seu Presidente da República, isto apesar do discurso populista usado contra os partidos, (manifestação que, diga-se, teve a minha simpatia, que não o meu voto, era o que faltava), o homem quer chegar lá na mesma, se não vai de elevador vai de escada, uma escada que é um golpe de estado, golpe de estado democrático: candidata-se a uma coisa a que não pode ser formalmente candidato e, depois de devidamente instalado nessa tal coisa para a qual não podia ter-se candidatado, por indisponibilidade do PR, ainda teremos de gramar com ele em sua substituição. Imagine-se a cena: numa recepção no palácio de Belém, o palácio que nobremente ambicionou e que era aquele que estava realmente à altura do seu ego, o ex-e-novo-candidato coloca veneno para os ratos numa fatia de bolo-rei a que Cavaco não resistirá… morto o presidente, suceder-lhe-à nobre e placidamente, num fantástico golpe de estado constitucional, o nosso cabeça de lista.

Acresce a isto a declaração da nobre criatura que afirmou que se não for presidente da assembleia, também não será deputado. Fica-lhe bem tal desapego ao tacho deputal. Ou tudo ou nada. É de jogador. Também disse que terá sido convidado por mais alguém do chamado ‘arco da governação’. Ora o arco governamental, na insinuação de Portas, é preenchido pelos partidos que podem ser poder, e nesse grupo estão apenas o PSD, o PS e, admito que seja isso que esteja na cabeça de Portas, o CDS. Fora do grupo estão, por exemplo, o PCP e o Bloco. Não sei qual é o raciocínio, mas Portas é esperto e ele explicará bem a coisa. Isso quer dizer que a nobre criatura terá sido convidado pelo PS e/ou pelo CDS. O PS já disse que não, que não convidou coisa nenhuma e, analisando as reacções do CDS, admito que o convite tenha chegado de lá. Mas Passos tinha mais para oferecer. Nobre vendeu, pensa ele, os seus 600 mil votos a um preço mais interessante. Fez um bom negócio. Mas se pudesse, Portas cobria a proposta. Essa é uma grande decepção. Que se nota.