quarta-feira, novembro 24, 2010

a greve

Quarta-feira, como foi sobejamente divulgado, foi dia de greve geral. Ora, uma greve geral implica uma greve generalizada de todos os cidadãos trabalhadores, qualquer que seja a sua profissão.

Creio que não estará abrangida pela greve (geral), esta tarefa semanal-ocasional que me ocupa as terças-feiras mancas, quando não mesmo as madrugadas coxas das quartas. Trata-se afinal de contas de uma tarefa que não conta profisionalmente, não acrescenta mais valias nenhumas aos neus proveitos económicos, não pago mais impostos por causa dela... Mas ainda assim, sinto que devo fazer alguma coisa que honre a minha decisão de ter estado ‘grevista’ naquele momento complicado da vida portuguesa.

Assim, esta crónica não se realizará nos moldes tradicionais como o venho fazendo, mas incidirá numa espécie de listagem de coisas que os grevistas poderiam ter feito (se é que o não fizeram), de modo a ocupar o tempo em que não estiveram a trabalhar na empresa que os ocupa.

Por exemplo:

- correr um pouco, ou andar, mas que fizessem exercício físico, nem que fosse nas marchas populares que qualquer das duas centrais sindicais organizaram onde quer que fosse;

- estar à uma da tarde, no Porto, e dessem um abraço ao Teatro Nacional S. João, na Praça da Batalha, onde aliás estiveram cerca de 1200 pessoas, mesmo correndo o risco de lhes cair na cabeça um pedaço de uma das cornijas que ameaçam ruir a qualquer momento;

- semear batatas, que a nossa salvação está na agricultura de subsistência;

- ouvir Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira até lhe chegar com o dedo;

- dar outro abraço ao teatro São João, e beijinhos nas maçanetas das portas.

- ir agradecer o trabalho bem feito pelas forças de segurança durante a cimeira da nato;

- escrever uma tese de doutoramente no grande tema das ciências médicas;

- fazer a volta a Portugal em bicicleta em vinte e qutro horas;

- abrir e fechar várias vezes as fronteiras terrestres nacionais, de modo a fazer umas correntes de ar;

- construir uma mobília de sala: seis cadeiras forradas a ‘beludo’, uma mesa extensível, e um aparador para aparar coisa nenhuma;

- escrever um poema épico;

- passar os contactos, mais de quatrocentos, de um telemóvel (velho) para um outro (novo) e vice-versa;

- experimentar o novo carro blindado anti-motim que chegou anteontem para a cimeira da nato (que é preciso verificar se está a funcionar em toda a sua capacidade de aleijar pessoas em sentido individual, e dispersar manifestações em sentido conjunto, sejam elas anti-nato ou anti-qualquer coisa, quer seja mesmo contra as posições do governo, benza-o deus, que está a merecer um valente tau-táu no rabinho);

E por aí fora, que a lista poderia tornar-se uma coisa longuíssima.

Há muitas mais possibilidades. Ficam aqui elencadas, apenas, algumas hipóteses de ocupação do tempo que a greve proporcionou. Podem sempre usá-las em próxima greve que, ou muito me engano, ou ão há hipótese de escaparmos a ela.