terça-feira, novembro 01, 2016

bob

Bob Dylan continua sem dar cavaco à academia. Sem dar cavaco é uma forma de dizer. Nem cavaco, nem sinais de fumo... Nada. Pelo menos no momento em que escrevo esta crónica.
Na academia sueca, e imagino as discussões acesas que terão tido lugar à volta daquelas mesas suecas Ikea, discussoes duplas pois, porque primeiro foi preciso montar as cadeiras e as mesas - e o trabalhão que isso dá, não é? - e depois, sentados nelas e à volta dela, discutir nomes e obras literarias até se chegar a um nome, umzinho... e agora, como dizia, na academia sueca reina o silencio. Sepulcral. E ainda por cima por uma causa que demonstra ser a coisa mais silenciosa que existe. Ainda por cima, o energumeno, o improvavel premiado, é um cantautor, um fazedor de musica popular, um gajo que se fartou de cantar a vida toda e agora, nesta materia, nem um dó, nem um mi, nem uma palavrinha de agradecimento, nada.
Muitas razões podem estar associadas a esta ausência silenciosa de Dylan.
Pode não ter pago a conta do telefone e a companhia ter-lhe cortado a linha, por exemplo; pode estar afónico incapaz de verbalizar palavras e, atraves delas, agradecimentos e loas, e entender que a gaita de beiços - alternativa, nao à mao de semear, mas à boca de assoprar - não ser o instrumento adequado para comunicar com a real academia; podem, na dita cuja, não ter o numero certo dele e estarem a insistir em telefonar para alguém que não é ele; pode ter passado perto da casa dele, o senhor que está a monte na zona de arouca, vila real ou sabrosa e dylan pode estar agora muito bem agasalhado na bagageira de um carro; pode nao perceber sueco; pode ter ido fumar um cigarrinho à rua e, verificando que estava a menos de cinco metros de uma escola, ter procurado uma zona mais de acordo com o que a nova lei anti tabágica, em portugal, e a ser aprovada, determina, e estar agora em parte incerta, fumando pensativamente; Pode ter saido para comprar cigarros e até hoje; pode ter sido engolido pelo triangulo das bermudas e só voltar a aparecer, velho e enferrujajado, daqui a umas dezenas de anos; pode ter sido levado por um tufão; pode ter-se recolhido em profunda reflexão para decidir qual o seu voto nas proximas eleições americanas e, por qualquer razão, ainda hesitar entre Trump e Hillary, e nao querer interromper essa rflexão por nenhuma razao do mundo; enfim, tanta coisa pode ter acontecido.
De bob dylan se sabe que, nesta materia, nada se sabe. O que já é alguma coisa. Os intervalos sao sempre coisas minusculas, coisas infimas, entretens de coisas maiores. Porque, tal como ele proprio cantou: aquele que nao está oucupado a nascer, está ocupado a morrer.
Dele se saberá alguma coisa, mal o intervalo se extinga, e o essencial regresse á primeira fase da nossa atenćao. E desconfio que o nobel nao está contido nessa preocupaçao dilãn-niana.

O melhor é a academia reconsiderar e entregar o nobel da literatura a sartre. De certeza que, pelo menos este, desta vez, nao vai recusar.