segunda-feira, maio 30, 2016

corrupção

Não tenho uma vontade, assim, por aí além, de usar este espaço reflectindo acerca do futebol e dar, de mão beijada, mais tempo de antena, para lá daquele que já tem, a uma actividade que se revela cada vez mais, como se dizia em tempos, o ópio do povo.
Eu sei que o Benfica ganhou mais um campeonato, que o Sporting perdeu por um triz, que a coisa esteve renhida até ao fim, que até foi em braga que se realizou um dos jogos do título, o dos sportings, precisamente, que assistimos a uma guerra fora do terreno de jogo quase inédita pela agressividade demonstrada, que Jorge Jesus assim e que Rui Vitoria assado, mas não quero ir por aí.
Do futebol interessam-me outras coisas, outras particularidades, outros jogos encobertos. Coisas que vão para além do jogo, do jogo inocentemente jogado, e da sua singularidade.
No sábado, ainda o campeonato primosivisionário, como antigamente se dizia, não experimentava o seu último estertor, e em dois campos secundários deste país, entrava mais uma equipa em campo, a da polícia judiciária e levava oito futebolistas para interrogatório. Esperam, educadamente, por eles, depois do duchezinho higiénico, e foi uma goleada. Oito a zero. Só ali. Porque igualmente detidos foram levados, pelo menos, dois dirigentes de clube, no caso, do Leixões, e mais uns quantos agentes da bola, empresários e etc, num total de quinze detenções para avaliar indícios de corrupção. Ou seja, de forma clara, a judiciária encontrou indícios em oito jogadores que voluntariamente, a troco de dinheiro (creio que não havia outros favores incluídos) tratavam de apunhalar os seus colegas de equipa, os que inocentemente jogavam à bola, fazendo autogolos e infligindo à sua equipa derrotas compradas que serviam interesses de terceiros.
Estas notícias associadas a outras que deram conta, nestas derradeiras jornadas do campeonato de futebol, doutras notícias, ainda que em sentido diferente, da viagem de umas quantas malas que tentavam seduzir jogadores das equipas adversárias de um dos clubes que ambicionava o campeonato, para que jogassem melhor, e não os deixassem pontuar, beneficiando com esse excesso de zelo, a segunda equipa incluída nesta equação.
Se no caso da corrupção negativa, a coisa se me afigura simples de conçretizar, a corrupção positiva afigura-se-se mais difícil, porque dificilmente se joga mais do que se sabe, mesmo que com o doping psicológico do dinheiro.
Outra das razões para as detenções dos jogadores, quatro de cada, nas equipas do Oriental e da Oliveirense, - são estas as equipas, para já, implicadas -, têm a ver com a viciação de resultados desportivos para efeitos de jogo, de apostas e coisa e tal.
A todos estes objectivos serve a precariedade dos contratos dos futebolistas a um nível mais baixo, e ao não cumprimento desses exíguos contratos, havendo inúmeras  equipas cujos funcionários/jogadores se debatem com vários meses de salários em atraso, e estão mais permeáveis, por isso, a seduções ilegais desta natureza.

E se isso é verdade no futebol, é mais verdade ainda na generalidade da vida laboral portuguesa.

antonioduraes