quarta-feira, fevereiro 04, 2015

crónica da gripe

Tem sido notícia predominante nas ultimas semanas. Com o arrefecimento acentuado que temos vindo a experimentar, as doenças de época cresceram: constipações, gripes, tosses & afins. Com os cortes a que estamos obrigados pela troika, mesmo se a troika já não se passeia por cá, até no sistema de saúde ficámos depauperados e a coisa tem sido notícia pelos piores motivos.
E agora é isto.
A gripe fez mais uma vítima: eu.
Esta é a indesejada crónica da gripe.
E ela chega pelas vias mais inusitadas. Porque pelas mais óbvias.
A minha, deve ter chegado montada numa criança. Fui apanhado pelo vírus, de certeza, num espectáculo para crianças que fui ver a Famalicão. Eram mais de quinhentas ou seiscentas. As criancinhas. Pequeninas, mas com ar manhoso, de quem tem um vírus à mão para, na primeira oportunidade, no-lo esfregar na cara. Eram daquelas criancinhas de palmo e meio de altura, basicamente um saco com pernas de virús e outras infecções, que me olhavam, na última fila, com ar desconfiado. Deve ter sido quando as luzes se apagaram, que eles me lançaram os vírus, as sacaninhas. No fim da récita, mal as luzes voltaram e as criancinhas, quase em regime militar, dirigidas pelas educadoras, foram saínda da sala, uma teve um comportamente estranho. Com ar enigmático, inquiridor, demorou-se um pouco mais em frente a mim, trazendo caos à saída, como se a verificar se eu ainda me estava a sentir bem. “Renato, vamos a saír”, disse a educadora, ou sargento, ou lá que raio era. E o Renato recomeçou a marcha, deitando o rabinho do olho uma e outra vez, à medida que desaparecia no nevoeiro da luz do dia que entrava pela porta de saída.
Renato, meu Renato. Se te apanho...
E as coisas até estavam a correr bem. Na Grécia um partido desalinhado com as politicas europeias tinha vencido, e vinha pondo em causa os aliceces dessa Europa do pobrezinho mas honrado. E agora isto.
Quando a febre subiu, a única saída era mesmo o aconchego da casa.
Mas que aconchego? Para poupar na conta da edp os aquecedores estão nos mínimos. Foi preciso abrir-lhes as goelas.
Depois, era preciso verificar se havia em casa víveres para uma temporada de alguns dias. Havia. Fruta, alguma. Alguns congelados.

Ora, o drama, é que com o desconforto geral, nada do que existe no frigirifico me apetece. A única coisa comestível que lá está, e que eu emborco, são, curioso, iogurtes gregos. Comamo-los, pois. Aos iogurtes. Os gregos, esses, farão o seu caminho. Talvez nos salvem da gripe que se abateu sobre nós. E há quantos anos. Há quantos anos...