crónica dos nossos dias
A legionella, uma bactéria que
tem nome pró-militar ou coisa que o valha, parece uma coisa saída da primeira
guerra mundial. Parece que ainda vem fardada, com o uniforme amarfanhado e a
cheirar a pólvora das trincheiras, e espera que se lhe bata a continência.
Chama-se tb doença do legionário e atacou forte em Vila Franca de Xira. Sabe-se
lá porquê, e como..., cerca de duzentas e cinquenta pessoas já foram
hospitalizadas e cinco morreram mesmo, pelo menos à data em que escrevo esta
crónica, ainda que muitas mais estejam confinadas aos cuidados intensivos de
diferentes hospitais, o que não deixa antever nada de bom.
Que raio se terá passado em
Vila Franca de Xira que levasse a que tanta gente, tocada pela mesma bactéria,
a ter necessidade de recorrer aos serviços hospitalares?
Menos obvia, sempre me pareceu
a possibilidade de contaminação por causa da substituição do Padre Roberto,
ex-pároco de Canelas, (que consta, é o primeiro pároco no desemprego), por um
outro padre da diocese do Porto, apodado pelos canelenses como padre
profissional ou mercenário. O profissional, perante as dificuldades anunciadas
de substituição do padre amado (certamente não-amador) porque era pessoa
querida na terra, avisou que não tinha medo dos pistoleiros da paróquia, e em
pleno jornal (creio que no Correio da Manhã), foi-se armando ao pingarelho, que
não tinha medo e não sei quê mais, e quantos são? quantos são?. Por via das
dúvidas, não vá o diabo tecê-las, ao rezar a primeira missa lá na terra, levou,
como sacristães, uma força de intervenção da GNR. Um para ajudar à missa, um
para as leituras, outros para os momentos corais, mais um para tocar orgão, e
assim sucessivamente. No momento do “ide em paz e o senhor vos acompanhe”, os
sacristães pegaram nos cacetetes e escoltaram o padre até à viatura, enquanto
na rua os populares, que entretanto cresceram e se multiplicaram, endossavam ao
padre, generosamente, os bens que possuíam: ovos, tomates, e etc. Talvez que
também legionella.
Mas não era crível. Canelas é
muito cá para cima no território nacional, é uma freguesia de Gaia, e Vila
Franca está distante, muitos quilómetros, a sul. Mas como todos sabemos, para
baixo todos os santos ajudam.
A legionella manifestou-se mais
abundantemente em 1976 após a realização de um fórum com ansiãos americanos
ex-legionários, que no regresso às suas casas, carregados de medalhas e
medalhinhas, taxas e taxinhas, regressaram a casa contaminados com peneumonias
várias. Daí chamar-se-lhe a doença do legionário...
Não creio que tenha sido coisa
semelhante, pulmunar, legionella transformista, o que contaminou o ministro
Pires de Lima. Mas o que é facto, é que uns dias antes da desgraça de Vila
Franca, uma outra ocorreu na Assembleia da República, sem que nada o fizesse
prever, e deixou meio mundo de boca aberta. Talvez tenha sido isso que
aconteceu aos habitantes ribatejanos: ficaram de boca aberta perante a
performance ministerial, e terá entrado mosca e com ela, a danada da bactéria
liquefeita. É outra hipótese, só para que conste. Ou pode ter saído asneira,
que acho que foi o que aconteceu.
Mas dizia eu que Pires de Lima
abriu a boca e num tom arrastado, com elocução excessivamente pronunciada, com
curvas e mais curvas quase ao jeito de montanha russa, deu uma série de
recados. Aparentemente a António Costa, mas não se percebeu muito bem. O tom
arrastado com que os deu, foi mais importante que o conteúdo do recado
propriamente dito...
Provavelmente, Pires de Lima já
estava contaminado pela legionella criativa e, olha, deu-lhe para aquilo. Mais,
o facto de ter querido ser criativo, como afirmou no dia seguinte.
Assim vão os nossos dias.
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