consciência quin-zeinal
Todos os
dias, em cada vinte e quatro horas percorridas, cento e quarenta portugueses,
entretanto aquecidos pela sagrada fogueira do matrimónio, decidem denunciar
essa combustão e aventurar-se na arrojada selva do celibatarismo. Cento e
quarenta. Ou seja, setenta casais. O que poderia ser o gatilho perfeito para
uma re-explosão urbana e um novo boom da construção, redunda, na maior parte
dos casos, num regresso à casa paterna, para desespero dos progenitores. As
razões serão muitas. Por exemplo: a perda do amor, deixado esquecido a ganhar bolor
e outras microsubstancias no interior de uma gaveta qualquer; o esquecimento de
compromissos, como se fossem a arqueologia de sentimentos, fora de tempo
consideraos levianos, ou pior; os novos interesse maioritários; outras erupções
amorosas e, por isso, outras sãs relações que, mais altas, se alevantam; e por
aí fora.
Cento e
quarenta portugueses que todos os dias de desligam, ligando-se certamente de
uma outra maneira.
Zeinal
Bava, o bravo Zeinal é, pode dizer-se em sã consciência, uma criatura desligada
da realidade mesquinha do quotidiano da empresa de que, sendo CEO, transformou
em inferno. Nem sempre desligado, parece, foi o que mostrou naquele inquérito
parlamentar com que a Assembleia da Republica, através do seu canal televisivo,
vem animando os dias dos portugueses mais desocupados.
Zeinal,
ligando e desligando, é uma criatura quinZeinal. Em sã consciência, Zeinal Bava
não se lembra de nada de mal que tenha feito e, muito menos, ou muito mais,
nada do que fez. Mas que fez, ainda que não se lembre. O melhor CEO da Europa e
arredores, como lhe chamou Mortágua, a deputada mais óbvia que investiga o
titanic BES, destruíu uma data de empresas, a maior delas é a MEO, mas em
contrapartida, não se lembra. Em sã consciência. Numa semana faz, na outra não
se lembra.
A
consciência, chamada à colação aqui há uns anos por Valentim Loureiro que
profusamente declarou, a propósito de uma série de casos de corrupção, não ter
consciência de ter pecado, tem nestas últimas semanas, sido amiúde convocada.
Em consciência,
não se sabe se em sã, como reclama Zeinal, se em ruim consciência, também
Passos Coelho não se sabia devedor à segurança social. Ou melhor, em
consciência, nem tal coisa lhe passou pela cabeça. Quer dizer, sabia que devia,
mas aguardava o momento em que cessasse funções públicas, para rectificar o
esquecimento e, então sim, pagar o que já não devia, porque entretanto a dívida
prescrevera, mas que ainda assim, pagaria, disse. Ora, acontece que uma
investigação jornalística, creio que do jormal Público, fruto de uma denúncia
certamente, ia trazer a público essa dívida já prescrita e, antes que a peça
jornalística saísse (a investigação tb foi denunciada ao Sr. primeiro ministro,
provavelmente por alguém dentro do órgão de comunicação investigador), Passos
pagou. Porque em consciência não queria lesar o estado, nem pensar nisso.
Quem entretanto prescreveu foi Mr Spock. O actor chamado Leonard Nimoy, que deu sopro à colossal personagem das orelhas bicudas, partiu para outro planeta na semana passada, com os dedos das mãos abertos em saudação mítica, paz, em sã consciência. Meio humano, meio vulcano, Mr. Spock, ou melhor, o actor que lhe deu corpo e representação, foi-se, prescreveu. Paz, Mr. Spock. Em consciência, perdemos um belo pedaço de história.
Quem entretanto prescreveu foi Mr Spock. O actor chamado Leonard Nimoy, que deu sopro à colossal personagem das orelhas bicudas, partiu para outro planeta na semana passada, com os dedos das mãos abertos em saudação mítica, paz, em sã consciência. Meio humano, meio vulcano, Mr. Spock, ou melhor, o actor que lhe deu corpo e representação, foi-se, prescreveu. Paz, Mr. Spock. Em consciência, perdemos um belo pedaço de história.
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