quinta-feira, março 12, 2015

consciência quin-zeinal

Todos os dias, em cada vinte e quatro horas percorridas, cento e quarenta portugueses, entretanto aquecidos pela sagrada fogueira do matrimónio, decidem denunciar essa combustão e aventurar-se na arrojada selva do celibatarismo. Cento e quarenta. Ou seja, setenta casais. O que poderia ser o gatilho perfeito para uma re-explosão urbana e um novo boom da construção, redunda, na maior parte dos casos, num regresso à casa paterna, para desespero dos progenitores. As razões serão muitas. Por exemplo: a perda do amor, deixado esquecido a ganhar bolor e outras microsubstancias no interior de uma gaveta qualquer; o esquecimento de compromissos, como se fossem a arqueologia de sentimentos, fora de tempo consideraos levianos, ou pior; os novos interesse maioritários; outras erupções amorosas e, por isso, outras sãs relações que, mais altas, se alevantam; e por aí fora.
Cento e quarenta portugueses que todos os dias de desligam, ligando-se certamente de uma outra maneira.
Zeinal Bava, o bravo Zeinal é, pode dizer-se em sã consciência, uma criatura desligada da realidade mesquinha do quotidiano da empresa de que, sendo CEO, transformou em inferno. Nem sempre desligado, parece, foi o que mostrou naquele inquérito parlamentar com que a Assembleia da Republica, através do seu canal televisivo, vem animando os dias dos portugueses mais desocupados.
Zeinal, ligando e desligando, é uma criatura quinZeinal. Em sã consciência, Zeinal Bava não se lembra de nada de mal que tenha feito e, muito menos, ou muito mais, nada do que fez. Mas que fez, ainda que não se lembre. O melhor CEO da Europa e arredores, como lhe chamou Mortágua, a deputada mais óbvia que investiga o titanic BES, destruíu uma data de empresas, a maior delas é a MEO, mas em contrapartida, não se lembra. Em sã consciência. Numa semana faz, na outra não se lembra.
A consciência, chamada à colação aqui há uns anos por Valentim Loureiro que profusamente declarou, a propósito de uma série de casos de corrupção, não ter consciência de ter pecado, tem nestas últimas semanas, sido amiúde convocada.
Em consciência, não se sabe se em sã, como reclama Zeinal, se em ruim consciência, também Passos Coelho não se sabia devedor à segurança social. Ou melhor, em consciência, nem tal coisa lhe passou pela cabeça. Quer dizer, sabia que devia, mas aguardava o momento em que cessasse funções públicas, para rectificar o esquecimento e, então sim, pagar o que já não devia, porque entretanto a dívida prescrevera, mas que ainda assim, pagaria, disse. Ora, acontece que uma investigação jornalística, creio que do jormal Público, fruto de uma denúncia certamente, ia trazer a público essa dívida já prescrita e, antes que a peça jornalística saísse (a investigação tb foi denunciada ao Sr. primeiro ministro, provavelmente por alguém dentro do órgão de comunicação investigador), Passos pagou. Porque em consciência não queria lesar o estado, nem pensar nisso. 
Quem entretanto prescreveu foi Mr Spock. O actor chamado Leonard Nimoy, que deu sopro à colossal personagem das orelhas bicudas, partiu para outro planeta na semana passada, com os dedos das mãos abertos em saudação mítica, paz, em sã consciência. Meio humano, meio vulcano, Mr. Spock, ou melhor, o actor que lhe deu corpo e representação, foi-se, prescreveu. Paz, Mr. Spock. Em consciência, perdemos um belo pedaço de história.