domingo, setembro 27, 2009

adeus, jorge vasques.

sem avisar, o jorge partiu.
quase no palco. quase no acto.
ainda se ouve a sua voz nos corredores.
adeus, jorge!
hoje não há ensaio.


sábado, setembro 26, 2009

futuros votos e ex-votos

A campanha eleitoral está a chegar ao fim e, por isso, mais quente que nunca, sendo certo que neste «quente» se deve entender o «caldo» que tem sido o debate, coisa praticamente ausente, publicidade enganosa é o que é, ou então não, campanha é mesmo isso, qualquer comerciante o sabe, publicidade atirada para cima do freguês como se de chuva se tratasse, alguém há-de apanhar o panfleto, os preços hão-de a vir por aí a baixo, só é pena que não esteja em jogo um bem de primeira necessidade, batatas, leite ou coisas afins, mas sim votos, ainda por cima uma coisa que nós damos, coisa nossa, que pouca falta (ou nenhuma) nos faz, por muito reaccionária que a frase pareça. Podíamos bem viver sem eles, afinal de contas escolhemos coisa nenhuma, um pedaço de ar enclausurado num balão, coisa que se extinguirá mais tarde ou mais cedo, sendo certo que alguém o há-de respirar, têm quatro anos para o fazer, enquanto nós vamos poluindo os nossos pulmões com o ar putrefacto que nos cerca, com a estrumeira em que nos vamos atolando, pouco a pouco, para não sentirmos a porcaria que nos cerca, nem dela termos consciência. Ainda se fosse hélio, ainda dava para se fazer uma brincadeira, era giro ver o Sócrates falar fininho, e os outros, claro.
Mesmo assim, não fora o desespero da questão, e ainda nos podíamos divertir um poucochinho com a campanha. Pedem o nosso voto, com os argumentos mais disparatados. Ou mais certos. Só são disparatados porque sabemos que são promessa para não cumprir.

Um voto tem um preço. Ou se compra com uma promessa mais assertiva, ou com um aperto de mão dado mais espalhafatosamente numa qualquer feira deste país, ou com um olhar dirigido numa arruada qualquer, ou com uma mentira piedosa quando nos queixamos de qualquer malfeitoria que nos fizeram, etc.Não há dúvida: um voto, qualquer que seja, tem um preço. É uma coisa que custa dinheiro. Que pode até ser cotado em bolsa. Há gente que sabe muito bem quanto custa. Num partido concorrente a estas eleições legislativas, e quando se preparava para fazer as suas listas (e diz-se que candidato a deputado, em lugar elegível, e que não se prefigure como uma «mais valia» obvia para a campanha, pode ter de desembolsar quantias avultadas), parece que oscilou entre os dezoito e os trinta euros. Não se sabe o que determinou essa nuance no custo. O que é que determina esta variável? Há «companheiros» mais caros que outros? Talvez que, e estou a especular, o voto mais barato nesse partido, seja o das mulheres, e o mais caro, o dos homens, principalmente o dos chefes de família, daqueles à antiga portuguesa que chegam a casa e esperam o jantar sentados no maple individualizado (ai de quem se sentar nele) capazes de convencer os velhos pais e sogros entrevados, a sair de casa uma derradeira vez e a ir votar, nem que para isso seja preciso arrastá-los da enxerga onde jazem os seus ossos cansados.

Há uns tempos atrás, alguém anunciara na Internet, fabricando uma espécie de leilão, a venda do seu voto, na esperança de que algum político mais desesperado o arrematasse. Por esta ou por aquela razão – creio, mesmo, que a maior delas terá sido a Comissão Nacional de Eleições – persuadiu o vendedor a retirar a publicidade. Estragou-lhe o leilão, foi o que foi.
E depois querem que a povo português tenha iniciativa. Como?, se o português esperto mal empreende em alguma coisa capaz de atrair clientes, com mercado garantido, é persuadido, a bem da nação (como antigamente se dizia), a retirar o bem do mercado, ou seja a meter a viola no saco, e fechar a micro empresa?

Não vamos a lado nenhum, é o que é.

domingo, setembro 20, 2009

pouca saúde

Obama discursou um dia destes, a propósito do serviço nacional de saúde norte-americano, uma (des)organização obsoleta, que afasta um percentagem enorme da comunidade norte-americana dos serviços mínimos de saúde, isto para lá do mundo privado que rejubila (e engorda) com a incapacidade do estado (e aqui, incapacidade é um modo de dizer…) em apoiar a saúde dos seus cidadãos de forma sustentada, consistente e eficaz.
E, não há dúvida, que a palavra, e o verbo, na boca do presidente americano, é uma arma com um grau de eficácia tremendo. O homem sabe comunicar, tem garra, tem ideias aparentemente justas (creio que os outros presidentes americanos que o antecederam – todos - também as terão tido, com a honrosa excepção de Busch Júnior, mas terão sido engolidos e triturados pela máquina dos interesses privados, e que não é certo que este também o não seja, apesar das indicações dadas em sinal contrário), e terá algum crédito para as afirmar na prática política gringa.
Ao reivindicar para esta revolução tão sensível e primária como a saúde pública, e o livre acesso, aberto e universal, a tal apoio, uma posição coincidente entre democratas e republicanos, mais não significa que, ao atrair e engodar a oposição para tamanha campanha, procura trazer uma força acrescentada e uma justiça que tantos americanos tardam em sentir. E duradoura, creio, porque qualquer campanha pode sofrer reversões às vezes sabe-se lá porquê. Embora peque por tardia, qualquer que seja o prazo para que ela matricule todos os cidadãos da América, é uma boa notícia. Ou como diz o povo, mais vale tarde que nunca.
Faz-me impressão que o exemplo de um país imperialista como a América, tão tacanho em tantas coisas, mormente no que de mais social deixa transparecer, com o conceito do privado tão entranhado e praticado, com o primado do indivíduo tão entronizado, este exemplo não colha no pequeno país que somos, tão servil perante tal potência, tão reverenciador, gente de tantas vénias e améns.
Talvez que aqui - como lá parece que vai deixar de acontecer, pelo menos no que à saúde em concreto diz respeito - ainda não seja tempo para retirar o ser humano das garras dos que se engrandecem materialmente com coisas tão básicas e primárias como a saúde dos seus cidadãos, coisa tão íntima e tão fundamental. Talvez que aqui, os tubarões do privado ainda mantenham barbatanas GPS para navegar num mar que continua a ser-lhes propício, mais que as águas do pacífico, onde os tubarões gringos, engrandecidos num mar onde a cardumagem, aparentemente, começa a ser um pouco mais defendida.
Quando a saúde ainda é coisa descartável, mal vai o país, seja ele Portugal ou qualquer outro.
E esta campanha eleitoral, e a prática recente consumada, deixa a descoberto o desatino de tantos. E vamos votar neles.

quinta-feira, setembro 10, 2009

coitada da Nélita

A quem serve a dispensa dos serviços da jornalista Nelita que, bem ou mal, e lá chegaremos, apresentava um programa televisivo, que eu creio ser de entretenimento, chamado JORNAL NACIONAL, às sextas-feiras?
O problema é complexo e deve ser visto sob as várias perspectivas que lhe detecto. Mas porque a minha vida não é isto e tenho pouco tempo...
Haverá outras possíveis abordagens, e tantas. Tão ou mais importantes do que esta… Mas é com esta que eu farei esta crónica.
Para que conste, excluo da discussão o mais elementar dela, creio, que é a questão da liberdade de imprensa. No plano dos princípios, nada a obstar. Pelo contrário. Da imprensa e da expressão. Foi para isso que uns líricos – entre os quais, pedantemente, me incluo, ainda que à posteriori – fizeram o vinte e cinco de Abril.
Mas aqui entre nós que ninguém nos ouve, a liberdade de imprensa é uma balela. Quando a dita imprensa tem patrões, por muito que lhe agreguem uma qualquer Alta Autoridade ou Entidade Reguladora, a consagrada liberdade será sempre coisa apregoada, mas muito pouco praticada. Os patrões são donos, e os donos querem lucros. O resto, são cantigas. Estão-se a borrifar para os princípios. Vendem as suas notícias e põem-nas ao serviço de interesses negociados. Bem entendido que as notícias são escritas por jornalistas. Mas os jornalistas, sobretudo os precários ou os que têm situação laboral precária, são escolhidos, seleccionados pelo dono do órgão de comunicação, em função das suas motivações, da sua muita ou total permeabilidade ética, e da sua condição salarial. Creio que cada vez menos entram na equação as suas competências profissionais. Quando as há, há, e felizmente ainda as vai havendo, mas se não as há, não tem importância, outras características do jornalista serão consideradas e trarão lucro aos patrões, ou seja, aos donos. A TVI, ou outro órgão de comunicação qualquer, tendo objectivos comerciais e um patrão que tem muito a ganhar e não quer perder um tostão, está-se borrifando para a liberdade da imprensa, ou o que quer que ela signifique.
O caso, precisamente, do Jornal Nacional da jornalista Nelita é paradigmático e é um caso gritante de confusão de papéis e de estatutos, entre a opinião e a notícia. Sócrates, bem entendido, não é santo nenhum, mas a dita jornalista, tão pouco. Aquilo cheirava a perseguição em nome próprio, mas que igualmente falava por alguém. E mesmo que não falasse por alguém, não o posso dizer com esta certeza, falava de uma maneira que a liberdade de imprensa não pode consagrar.
O primeiro-ministro, porque o é, também não pode reagir como o fez. Mas eles estão bem um para o outro.
Do ponto de vista da qualidade do serviço prestado, creio que nem vale a pensa gastar tinta nem com mais uma linha. Aquilo era péssimo, abaixo de cão, queira isso significar o que quer que seja, e pronto.
Mas então, quem é que mandou calar a Nelita? A quem é que interessa o silêncio da Nelita? Aqui entre nós, ao Sócrates é que não é. Creio que por ele, era preferível os guinchos da jornalista, a este silêncio ensurdecedor que lhe está a dar cabo dos poucos votos que irá ter nas eleições legislativas.

terça-feira, setembro 01, 2009

do que uma boa cólica é capaz

A história tem duas versões. Como tinha de ser, aliás. Não há, nunca, uma verdade absoluta, qualquer que seja a história. Quando em teoria existe tal coisa, é porque apenas há um ponto de vista. E até os pontos de vista se querem coisa plural, democrática, estereofónica, estrábica.
Para a Polícia, os documentos foram encontrados por força da necessidade de um dos agentes em ir à casa de banho. Acontece a qualquer um. Isto, enquanto decorriam as buscas em casa, ou no escritório do senhor Loureiro, procurando documentos que trouxessem alguma luz aos negócios obscuros do Banco.
Bem, o senhor agente lá teve a tal guinada – e, isto, já sou eu a imaginar – «ai Jesus que eu estou tão aflitinho, onde é que é a casa de banho»?, E o Senhor Loureiro, indignado, a dizer-lhe «nesta casa você não defeca, sou conselheiro de estado, vá defecar p'ra outro lado. Vá ao café, por exemplo. Peça uma água, qualquer coisa, que se consumir, deixam-no defecar lá». E o agente: «ai senhor doutor, que eu não aguento descer as escadas. Deixe-me ir ao seu davliú cê (o agente falou assim para parecer mais educado) se não quer que lhe suje o escritório todo». Finalmente, perante tamanha ameaça, o senhor Loureiro lá condescendeu. O agente entrou, esbaforido, na casa de banho anexa ao escritório, desceu as calças o mais rapidamente que pode e quando já descansava, aliviado, após a primeira defecadela, teve finalmente tempo para respirar fundo e descansar os olhos, olhando à volta. Deve ter sido então que descobriu uma espécie de esconderijo, porventura esconso (e a palavra «esconso» foi assim mesmo utilizada pelo senhor Loureiro) a uma canto. Depois de se ter recomposto, o homem foi perceber o que era quilo. E descobriu uns dossiers com ar suspeito. «Olé», pensou para com os seus botões, «o que é que está aqui a fazer esta papelada velha com ar suspeito»? E foi então que deve ter gritado «acuda, oh chefe, venha ver esta tralha suspeita aqui». Descobriram, então, uma série de coisas que era suposto não terem descoberto, bem como um caderninho de capa preta, (e se não era preta a cor da capa do caderninho, passa a sê-lo, que nesta história quem manda sou eu) onde estavam registados, ainda que resumidamente, todos os negócios do senhor Loureiro e que ele afirmara amiudadas vezes ter perdido.
A outra verdade da história é, precisamente, a do senhor Loureiro. «Que não se tratava nada de um anexo escondido, nem tão pouco uma passagem secreta, mas sim um sítio mais esconso do escritório». Ora lá está, esconso. E que os «documentos encontrados eram insignificantes, porque – e disse-o assim mesmo, a acreditar no que a imprensa divulgou – se fossem coisas que o denunciassem, ele tê-los-ia destruído».
Porventura, digo eu, como fez com todos os outros documentos, o que indicia, no mínimo, comportamento atípico. Ou não é?
Apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo. Não há mentira que resista a uma cólica intestinal das antigas.
A polícia portuguesa tem um grande olho para a investigação do crime económico, essa é que é essa.