sábado, setembro 26, 2009

futuros votos e ex-votos

A campanha eleitoral está a chegar ao fim e, por isso, mais quente que nunca, sendo certo que neste «quente» se deve entender o «caldo» que tem sido o debate, coisa praticamente ausente, publicidade enganosa é o que é, ou então não, campanha é mesmo isso, qualquer comerciante o sabe, publicidade atirada para cima do freguês como se de chuva se tratasse, alguém há-de apanhar o panfleto, os preços hão-de a vir por aí a baixo, só é pena que não esteja em jogo um bem de primeira necessidade, batatas, leite ou coisas afins, mas sim votos, ainda por cima uma coisa que nós damos, coisa nossa, que pouca falta (ou nenhuma) nos faz, por muito reaccionária que a frase pareça. Podíamos bem viver sem eles, afinal de contas escolhemos coisa nenhuma, um pedaço de ar enclausurado num balão, coisa que se extinguirá mais tarde ou mais cedo, sendo certo que alguém o há-de respirar, têm quatro anos para o fazer, enquanto nós vamos poluindo os nossos pulmões com o ar putrefacto que nos cerca, com a estrumeira em que nos vamos atolando, pouco a pouco, para não sentirmos a porcaria que nos cerca, nem dela termos consciência. Ainda se fosse hélio, ainda dava para se fazer uma brincadeira, era giro ver o Sócrates falar fininho, e os outros, claro.
Mesmo assim, não fora o desespero da questão, e ainda nos podíamos divertir um poucochinho com a campanha. Pedem o nosso voto, com os argumentos mais disparatados. Ou mais certos. Só são disparatados porque sabemos que são promessa para não cumprir.

Um voto tem um preço. Ou se compra com uma promessa mais assertiva, ou com um aperto de mão dado mais espalhafatosamente numa qualquer feira deste país, ou com um olhar dirigido numa arruada qualquer, ou com uma mentira piedosa quando nos queixamos de qualquer malfeitoria que nos fizeram, etc.Não há dúvida: um voto, qualquer que seja, tem um preço. É uma coisa que custa dinheiro. Que pode até ser cotado em bolsa. Há gente que sabe muito bem quanto custa. Num partido concorrente a estas eleições legislativas, e quando se preparava para fazer as suas listas (e diz-se que candidato a deputado, em lugar elegível, e que não se prefigure como uma «mais valia» obvia para a campanha, pode ter de desembolsar quantias avultadas), parece que oscilou entre os dezoito e os trinta euros. Não se sabe o que determinou essa nuance no custo. O que é que determina esta variável? Há «companheiros» mais caros que outros? Talvez que, e estou a especular, o voto mais barato nesse partido, seja o das mulheres, e o mais caro, o dos homens, principalmente o dos chefes de família, daqueles à antiga portuguesa que chegam a casa e esperam o jantar sentados no maple individualizado (ai de quem se sentar nele) capazes de convencer os velhos pais e sogros entrevados, a sair de casa uma derradeira vez e a ir votar, nem que para isso seja preciso arrastá-los da enxerga onde jazem os seus ossos cansados.

Há uns tempos atrás, alguém anunciara na Internet, fabricando uma espécie de leilão, a venda do seu voto, na esperança de que algum político mais desesperado o arrematasse. Por esta ou por aquela razão – creio, mesmo, que a maior delas terá sido a Comissão Nacional de Eleições – persuadiu o vendedor a retirar a publicidade. Estragou-lhe o leilão, foi o que foi.
E depois querem que a povo português tenha iniciativa. Como?, se o português esperto mal empreende em alguma coisa capaz de atrair clientes, com mercado garantido, é persuadido, a bem da nação (como antigamente se dizia), a retirar o bem do mercado, ou seja a meter a viola no saco, e fechar a micro empresa?

Não vamos a lado nenhum, é o que é.