quinta-feira, agosto 06, 2009

morra o dantas morra, pim

À parte as simpatias ou antipatias que nutro pelos titulares dos cargos públicos, (à cabeça o ministro da educação, qualquer que ele seja), creio que na recente questiúncula de que o jornal Público fez eco, e que colocou frente a frente as Produções Fictícias e o autor de espectáculos de teatro Ricardo Pais (mas também programador e até há pouco tempo gestor dos dinheiros públicos, mormente no Teatro Nacional S. João), foi uma ficção mal realizada. Excessiva ficção para desenlace pobretanas. Mas com espaço nos jornais, essa é que é essa.

Para quem não sabe, aqui fica a história:
primeiro, uns tipos, na sua legítima vontade de fazer espectáculo, teatro ou o quer que seja, seleccionaram uns textos mais ou menos engraçados, poéticos mas não só, – e atenção que estou a dizer de cor, porque não vi o espectáculo – e leram-nos em público, na praça em frente ao Teatro Nacional S. Carlos. Um dos textos seleccionados era a Cena do Ódio que, curiosamente, o Sindicato de Poesia já montou, e até recentemente, e mostrou em algumas juntas de freguesia do conselho de Braga, na que ficou conhecida, entre meia dúzia de amigos, como a celebrada tourné das Juntas. Mas é claro, que desse recital, o do Sindicato que não era e tal, e que demorou a ensaiar cerca de três meses, pouco ou nada se disse. A grande diferença entre as duas montagens, para lá da dimensão da coisa e das pessoas envolvidas, esteve na polémica. O Sindicato não alterou uma vírgula ao que Almada escrevera. Já as Produções Fictícias, trocaram o destinatário e, em vez do Dantas, diziam (e apontavam) para Ricardo Pais. Ou seja, nas suas palavras, mais vogal menos consoante, realizaram ali, com pompa e alguma circunstância, um exercício de escárnio modernaço.
Não vejo mal nenhum no que fizeram, aparte terem actualizado o texto, no que pessoalmente, e para o meu gosto, considero ser, regra geral, uma má ideia.
Ricardo Pais, quando questionado pelo Público, considerou a putativa ofensa, uma «insignificância». E eu estou de acordo.
Mas, o que é que parece estar por trás da história? É aqui que entra o ministro da cultura. Aparentemente, chateado pela catadupa de declarações públicas de Ricardo Pais que, na hora de sair – antes de tempo – e de recusar o convite para continuar no S. João (e aqui não estou a falar de cor, eu assisti ao atabalhoado discurso ministerial, que precisou de um bis trôpego para dizer o que, aparentemente, queria dizer), não se conteve em dizer o que pensava (mal) do ministro, do ministério (ainda pior) e da política cultural do governo (péssimamente). O senhor ministro terá chamado em seu socorro – ou alguém chamou – os mais íntimos indefectíveis. Ora, consta que o ministro é sócio das tais Produções Fictícias. Postas assim as coisas, a estrutura acudiu prestamente na pessoa de um outro sócio, que para além desse estatuto, é também amigalhaço do ministro. Não por acaso, Ricardo Pais, questionado pelos jornalistas para comentar o tal espectáculo, aconselhava os jornalistas a falarem com o ministro, por ser ele quem melhor conhece, e cito, «as cabeças daquelas pessoas», ou seja, os que concretizaram o tal recital, que não se chama assim, mas sim Recital e Tal.
Num país com a cultura hipotecada, só mesmo o discurso da maledicência pode vingar.