quarta-feira, junho 10, 2009

eleições

Estas eleições europeias, que decorreram durante o último domingo, interessavam muito pouco aos portugueses, como de resto, creio, interessavam muito pouco à esmagadora maioria de cidadãos dos restantes países. Vai daí, não foram votar. O cidadão português está-se a marimbar para o jogo eleitoral afutebolzado, com cânticos retirados das claques, gritos e demais apalhaçamentos. Eles, os políticos profissionais, bem que chamaram o povo ao escrutínio, mas o escrutinador, papel que desempenha democraticamente de não sei quantos em quantos anos enquanto fiel espectador da coisa pública, está farto de ser isso mesmo, espectador, ainda que tenha as quotas em dia, cartão de eleitor em punho e os impostos pagos. Ele quer é que não o chateiem. Mas se tem de participar, então que o deixem verdadeiramente escolher. Acontece é que, nas nem uma coisa nem outra ele tem conseguido. Chateado anda ele, que nem uma pescada (cito Brecht, mas tive que torcer um pouco a citação… Brecht dizia, ou melhor, uma das suas personagens diz, depois de beber uns copos, grandes e muitos, que estava tão tonto que nem uma pescada… Não sei o que é que quereria ele dizer com aquilo, mas é vibrante a ideia. E fica a ideia de uma erudição – a minha - acima de qualquer dúvida). Quanto à equipa, nem um palpite. As coisas acontecem no segredo dos gabinetes, longe dos olhares dos cidadãos, no refogado difícil das panelas do poder, independentemente do mérito dos cozinheiros improvisados, ou do que quer que seja.
E depois, há um outro factor a ter em conta numas eleições europeias: alguém sabe o que é a Europa? Uma coisa que começa vagamente aqui, aqui mesmo, e que termina não se sabe onde. Ou que começa não se sabe onde e acaba aqui… Há, por isso, alguém que tenha interesse em votar numa abstracção destas?
E depois esta campanha… Valha-me Deus! Assuntos, europeus, não os houve. Pois se não há Europa. Então discute-se o quê? Discute-se Portugal. Aqui está uma coisa concreta. Mas discute-se Portugal pela voz de uns tipos que irão para a Europa, seja ela o que ela for, para que se esqueçam de Portugal, porque é para isso que se candidatam. O que importa, pensam para com os seus botões políticos, é sair daqui por uma boa maquia e ir ver mundo. Há excepções. Mas que confirmam a regra.
Num dos debates que os candidatos não quiseram fazer, mas que os comentadores, entre eles, fizeram abundantemente – num exercício estranho, note-se, em que se discutia o que os candidatos nunca quiseram discutir, no pressuposto de que seria aquilo que eles discutiriam se, porventura, discutissem – dizia-se que ninguém ainda tinha dado a vida pela Europa, meio litro de sangue que se visse, enquanto que centenas, milhares de portugueses, em diversas ocasiões, ao longo dos últimos novecentos anos, já deram a vida por Portugal em sacrifício. E que isso fazia toda a diferença.
Eu acho – e não estou a brincar, embora pareça – que não houve debate, por medo da gripe porcina, ou melhor, mexicana, que os porcos, pouca ou nenhuma culpa têm do sucedido. É que está, fresca, na minha memória, uma discussão mais acesa na câmara municipal de Lisboa, quando o vereador Sá Fernandes terá pedido ao vereador social-democrata e candidato derrotado à presidência da autarquia Fernando Negrão, para que não lhe lançasse perdigotos para cima.
Pelo menos, nesta campanha, poupou-se nisso.