quinta-feira, abril 30, 2009

o oitavo santo

Conheci-o, era eu muito novo ainda, claro, nos bancos da escola dita primária da D. Teresa Ramos, no chamado Externato Infante Santo, ensino particular, um luxo que hoje não entendo sendo originário eu de famílias proletárias como sou. A escola tinha um pendão, grande, pintado à mão, pesado, que orgulhosamente, em menino ainda, cheguei a transportar numa procissão do Corpo de Deus, pelas ruas engalanadas da Figueira. Uma escola que era uma homenagem a um português que a nação, em tempos, abandonara à sua sorte, sorte de escravo, por força de uma falhada tentativa de conquista de um lugarejo qualquer no norte de África, abandonado pela própria família, irmãos e pai, ínclita geração.
Mas não é desse português que eu quero falar hoje. Quero relembrar, isso sim, um outro português, contemporâneo deste, que conheci nos bancos da escola e, mais aprofundadamente, na sala de estudo que frequentei, pouco, chamada sala Beato Nuno.
Aprofundei o conhecimento que tinha dele, graças a um livro cujo título era (e é) O CONDESTÁVEL, e que foi um prémio que um professor de português me entregou, por me ter destacado em acções mais ou menos lúdicas, saraus e coisas assim, no ensino dito preparatório, no Ciclo, e que todos os meses um grupo da turma organizava na última aula do mês (acho), isto no tempo em que as turmas ou eram masculinas ou femininas, não havia cá misturas, e fazer-se de rapariga em turma de rapazes, dava direito, se fosse bem feito e com graça, a idolatrias que o tempo se encarregaria de perpetuar. Os nossos saraus, os do nosso grupo cujo nome já não recordo, eram os mais aplaudidos: as nossas peças de teatro eram as melhor escritas e as melhor representadas; os nossos jograis eram os mais ritmados; o nosso noticiário era o mais divertido; as poesias que dizíamos eram as mais bem ditas. Ensaiávamos no anexo da casa de um de nós, que por qualquer razão teve as obras paradas durante dois ou três anos.
Li o livro vezes sem conta, e agradeci o prémio tantas vezes quantas as que pude.
Lembrei-me destas histórias cruzadas, no momento em que Bento XVI faz elevar ao altar da santidade, Nuno Álvares Pereira, o patriota português de quem falo, alguém a quem a história já havia colocado nos mais altos píncaros, e o povo já canonizara e a quem chamava Santo Condestável.
Ou a prova que o povo, às vezes, vê, cedo demais, onde outros, mesmo papas, demoram séculos a ver.
Queira isto dizer o que quer que seja.