quinta-feira, abril 09, 2009

uma fábula teatral

Por cá, neste país dramático que parece um Palco, as coisas vão andando.
Uma notícia que abalou a semana que passou, diz respeito a uma nomeação polémica, pois, de um cidadão Palquiano, chamado Domingos de Névoa, que foi julgado e condenado por corrupção para acto lícito no tribunal da Direcção de Cena (foi para a tabela, portanto), e que mesmo não reconhecendo qualquer impedimento de natureza legal ou moral, renunciou à direcção da Trapal, departamento que trata os restos de tecidos que a oficina dos trapos (costura) vai produzindo. Não sei se é caso para gritar Bravo e aplaudir de pé, mas a coisa estava a tomar proporções inesperadas. E, convenhamos, não se percebe porquê. Até porque o cidadão em causa recorreu para o Conselho de Administração, do qual ainda não há resposta.
É certo que a Direcção Técnica e o seu responsável, detêm – vamos lá ver se não digo asneira – mais de 50% da Ampere (o departamento das coisas eléctricas), que por sua vez detém mais de 50% da Trapal. Ou seja, é a Direcção Técnica e Mosquito Machado (o director), quem manda nestas duas organizações inter-departamentais. E é verdade que estava entre as espada e a parede, quer dizer, entre as relações de amizade que deve a Domingos de Névoa – e sabe-se, ou diz-se, que Mosquita Machado é de uma extrema lealdade para com os seus amigos, aguentando até pequenas traições ou torções nas relações pessoais – e um verdadeiro levantamento político, primeiro o Bloco de Esguelha, depois João Tocador de Cravinho, a seguir Manuela Legre e, finalmente, Augusto S. Tossilva. Não havia grande margem para o que quer que fosse, em suma. Contrariado, percebe-se, o cidadão nomeado renunciou. Mas esta renúncia, vejamos, não é uma renúncia. Quem pensar isso, pode tirar o cavalinho da chuva. As oposições podem ficar descansadas. Se pensam que ganharam, desenganem-se. Ou se mantêm extraordinariamente atentas, ou são levadas. Quer dizer, nós, o público, é que somos levados. É preciso uma atenção muito grande. Porque é claro que Domingos de Névoa irá ser premiado por este gesto de extrema bonomia e camaradismo. E se para Mosquita Machado, a amizade é uma coisa sagrada, como me dizem que é, para muitos dos seus amigos, não o é tanto. Amor com amor se paga, diz o povo, mas Domingos de Névoa não é o povo. Já o terá sido, em tempos, mas não agora. Agora é dono de um império, e o império não se mantém com beijinhos. Principalmente em tempos de crise. A questão, é que há muitos detritos que é preciso limpar em muitos teatros do país. E do estrangeiro. E como diz o espectador fã que conheci há dias e que colecciona autógrafos, há muitas maneiras de fazer teatro.