segunda-feira, abril 06, 2009

...uma espécie de assalto

...eu subia a Avenida Almirante Reis com a mochila pendurada no lugar dela, nas costas. Como a minha marcha é uma coisa irregular – creio que devo a esse facto o ter-me apercebido da marosca – senti, um momento, uma pressão qualquer que me fez olhar para trás. E num ápice, hops! Eureka! A mão de um meliante ainda estava estendida na direcção da minha mochila, tocando mesmo nela. A mão apanhada em flagrante, abandonou-a e, sem vergonha nem remorso, acenou-me. Eu, estupidamente, gritei, what? Às vezes saem-me coisas que eu não percebo de onde vêm. É que nem falo inglês. No instante seguinte, arrepiando caminho, gritei o que é que se passa? E ele, aproveitando a mão ainda estendida, agitou-a lentamente e respondeu-me passa passa, como quem diz, estou a passar. Não me apercebi se era estrangeiro se não. Ou se pensou que eu fosse estrangeiro. E passou à frente, caminhando aparentemente despreocupado. Eu resolvi segui-lo de perto, a armar-me em corajoso. De muito perto. Fazendo notar a minha presença. Tão perto e tanta presença que, de repente, juntou-se-lhe outro. Eram dois, descobri. E resolvi dar algum espaço. Mas sempre no encalço, agora, dos dois. Até porque seguiam o mesmo caminho que eu queria seguir. Uns metros à frente, os dois agitaram as mãos num aceno para o outro lado da avenida. Como quem cumprimenta. Olhei, e havia uma terceira pessoa do outro lado, uma mulher (ou rapariga). Cruzaram a rua e saíram do meu caminho, juntando-se à outra figura. Eram três. Entretanto, enquanto perseguia o homem, eu já retirara a mochila das costas a verificar se me tinham subtraído alguma coisa. Nada. O fecho estava aberto, sim, mas não se tinham conseguido introduzir no saco. Uns metros a frente, sempre olhando para trás, vejo os homens virem atrás de mim, não já certamente atrás de mim, mas a continuar a fazer aquele percurso, a cumprir o local e o turno de trabalho, até que finalmente, deixei de os ver. Cheguei ao teatro com algum atraso devido a estes acontecimentos, tomei um duche e fui cumprir o resto do aquecimento.
Depois do espectáculo, o encenador disse-me que tinha estado um pouco mais lento que o habitual. Eu não dei por nada. Mas intimamente, atribuí a este acontecimento, a lentidão pressentida.Conclusão: termos sofrido uma tentativa de assalto, deixa-nos, horas depois, mais lentos.