segunda-feira, março 23, 2009

a publicidade, as manifestações e a antena um

Há uma campanha publicitária a correr pelo menos na RTP, promovida pela Antena 1, e que é, no mínimo, polémica.
Os sindicatos queixaram-se de perseguição e até já apresentaram protestos nos sítios do costume.
Mas vejamos:
Numa primeira abordagem, o spot até nem me pareceu mal. Joga com a ideia popularizada de que uma manifestação prejudica as pessoas que não se manifestam. O que até é verdade. Normalmente, uma manifestação, ou uma greve, colide com o interesse das pessoas que não se querem ver envolvidas nas manifestações. Esse é o objectivo das manifestações, ou das greves. Ou não é? Há um grupo de pessoas que faz greve, que não trabalha, e que obstaculiza os que querem trabalhar. Até, veja-se o exemplo, constituindo os chamados «piquetes de greve», que estão à entrada dos sítios onde se faz greve de modo a impedir a entrada dos que querem trabalhar; uma manifestação pública, com cortes de estradas e etc., objectivamente, o que pretende é alterar a vida quotidiana, para lá – coisa de não menor importância – gritar o que entendem ser as suas obsessões. Isto é normal. Quando maior a manifestação, maior é o caos público. Se a manifestação ou a greve nada conseguir neste domínio, é porque alguma coisa está a falhar. Eu já cheguei atrasado a coisas onde tinha de estar, por desinformação ou ignorância, não me ter organizado devidamente, de modo a que não fizesse preso no trânsito, por exemplo.
Isso é uma coisa.
Outra, absolutamente diferente, é fazer disso campanha publicitária, no caso para vender uma estação de rádio, para mais estatal. Isso já me parece ser coisa pertencente a outro território. A manifestação, como a greve, desde que cumpridos alguns princípios definidos por lei própria – convocatória em tempo útil, por exemplo) é um direito que assiste a qualquer trabalhador, em conformidade com o seu sindicato ou grupo de trabalhadores organizada de uma outra maneira qualquer. Jogar com isso, mesmo que para efeitos promocionais a uma estação emissora, é outra coisa absolutamente diferente.
E, mais ainda, nos tempos que correm, faz todo o sentido ficar desconfiado da boa fé de uma campanha organizada por uma instituição que depende do estado. Muito menos, a Antena 1, na RTP. É que, antes de tudo o mais, é necessário pensar nas consequências profundas que qualquer campanha pode provocar. Mesmo que haja ali apenas uma falha grave na avaliação dos spots em todos os seus sentidos.
Lá está o velho ditado: à mulher de César não basta ser séria. Também é preciso que o pareça.