segunda-feira, abril 06, 2009

o espectador-fã

Conheci-o à saída da peça. Conheci-o, é como quem diz. Saí para o bar do teatro pela porta de serviço que liga os interstícios do teatro à zona mais pública, e lá estava, esperando, um senhor de bigode impecavelmente vestido, à espera dos actores, dos mais conhecidos e dos desconhecidos. Tinha um livro de capa vermelha nas mãos, e um caderno de folhas preparadas, para os autógrafos que planeara. Que ele, um fã à antiga, não pedia autógrafos num papel qualquer. Tivera o cuidado de se preparar. Fora imprimir fotografias que retirara sei lá de onde – revistas, artigos de jornal, programas dee espectáculos antigos – dos actores em cena, escrevera o nome do actor ou actriz em questão no topo da folha (como se uma ficha se tratasse), a data do espectáculo a que assistira, o teatro onde decorreu o evento, e, finalmente, o espaço para o autógrafo. Para o Quintino. Sem senhor, pedia ele. Só Quintino.
Para mim foi uma novidade.
Educado, de trato simples, a conversa (curta) decorreu com elevação e interesse. O espectador, como lhe chamam, dedica-se a recolher autógrafos dos actores de espectáculos que vê, desde há não sei quantos anos. Agora de uma forma mais profissional, dizia. E imagino o trabalho que terá tido comigo, a descobrir fotografia que me representasse. Ele disse-me que sim, que lhe dera um trabalhão, até porque, finalmente, encontrara uma foto minha num programa de espectáculo ou anúncio de jornal – O Mercador de Veneza – em tamanho super reduzido e que ele ampliara não sei quantas vezes para lhe dar uma dimensão mais interessante.
E depois mostrou-me o livro de capa vermelha, a menina dos seus olhos, de quando ainda não era «profissional», e onde desfilam os autógrafos dos maiores vultos do teatro português de há uns quarenta anos para cá.
É interessante ver como ainda há gente assim.
Um abraço, Quintino. Sem senhor.