terça-feira, abril 07, 2009

o ponto gê vinte

A cimeira dos mais poderosos já lá vai, ficam apenas ecos do que por lá se passou, do que perdurará durante algum tempo na memória imediata da imprensa, pelo menos de uma determinada imprensa, o gás espumante que a rolha que saltou deixou transbordar.
E de que é que se fala? Que líquido se derramou? O que é que dá cor às notícias?
Bom, primeiro que tudo que, ao fim de 57 anos de vida pública, a rainha de Inglaterra deu um sopapo no protocolo e, de tiro em tiro, de melro em melro, acabou, voilà, abraçada a Michele Obama, ou pelo menos à anca da americana, a curva redonda e convexa da nova miss américa à altura do seu ombro nunca entrevisto, um perfil curioso, não encaixável e, contudo, tocável, muito admirada com a grandeza da América, perdão da americana, mesmo que bronzeada (como em tempos disse do marido), ainda que com nome francês. E já que estavam ali, enlaçadas, que tal olhar para o chão, afinal onde todos temos o mesmo tamanho, grandes e pequenos, altos e baixos, pelo menos se estivermos deitadinhos ao lado uns dos outros, o continente dos pés a seus pés, e sendo assim, que tal falar sobre eles, ou melhor, sobre os seus preservativos, os sapatos, coisas calçáveis e que ambas experimentavam, claro, e discorrer um pouco sobre as virtudes e os defeitos das diversas marcas, materiais e modelos.
Porque a rainha não terá assim tantas coisas a dizer acerca de tão baixo tema, terá a secura da conversa terminado com a inusitada intimidade e, por isso, a rainha deixou cair o braço, Michele entendeu que, perante a falta do contacto monárquico na sua anca, devia também fazer colapsar o amplexo, retirar o seu braço do ombro dela, e fazer o protocolo retomar o seu caminho, coisa planeada. Às intimidades disseram adeus, ponto final, a monarquia pode continuar, naftalinática e cara, e a democracia pode seguir em frente, titubeante com a crise, mas baraka.
E quando tudo já decorria a preceito, eis que tudo descamba, outra vez, no país do sangue azul: quando, no retrato de família, os mais poderosos estão alinhados e quedos, lado a lado, em três filas rigorosamente pré-desenhadas, e logo que disparada a máquina no poderoso momento olhó passarinho gêvintista, o velhinho Berlusconni, depois de verificar que ninguém reparara que fizera mais quatro plásticas desde que a cimeira se iniciara, quando todos debandavam, gritou por Obama, hei Obama!, cujo estava mais interessado em beber umas caipirinhas com Lula da Silva que conviver com a terceira idade, assustando a vetusta rainha, que perguntou quem era aquele, e «porque é que as pessoas tinham de gritar assim», enquanto agitava as mãozinhas nervosas, preservadas por umas luvas brancas. É que nem os netos se portaram assim quando eram púberes.
Mas a culpa não era, porém, de Berlusconi. Eram os efeitos colaterais das cirurgias plásticas que efectuou a caminho do rejuvenescimento. Ainda há-de acabar ao colo da mãe, quando não mesmo no útero desejado, richard button italiano e milanez, em busca do mamilo materno, terra prometida,

2 Comments:

Anonymous Glória said...

Puxa, Antonio, você é demais. Adorei seu estilo. Cheguei ao seu blog através do Blog do Zé (http://escutaze.blog.uol.com.br/index.html), no qual ele cita o seu texto "Domingo de Manhã"... Maravilha te conhecer. Abraços.

1:28 da manhã  
Anonymous Glória said...

Ah, errei aí, a crônica citada pelo Zé é "crônica com fumo".

1:32 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home