domingo, maio 03, 2009

de cherne a enguia

Nuno Álvares Pereira é já santo. Santo reconhecido pela Igreja ao mais alto nível, o papal, e deixou o título de Beato arrumado a um canto, para assumir o de santo, com direito a dia consagrado no calendário religioso, e tudo.
A figura elegante de Nuno Álvares Pereira, aquele místico que teve visões antes das grandes batalhas – alguém me dizia, a propósito da crónica da semana passada que, se há momentos tristes na história de Portugal, o da luta pela independência em 1383-85 é um desses; tal como a actuação de um tal Afonso Henriques, um rebelde com causa que lutou contra a própria mãe, para independentizar Portugal de Castela; e, finalmente, a dos Restauradores em 1640 que derrubaram o poder dos Filipes. Nestes três momentos se jogou e se decidiu o futuro de Portugal. Não fora isso e seríamos espanhóis. Para o bem e para o mal. Para esses meus amigos, mais para o mal que para o bem. Olé.
Mas dizia eu que a figura elegante de Nuno Álvares Pereira é incontornável na história de Portugal.
Outros portugueses há, tantos, que fazem da nossa história, uma coisa verdadeiramente nossa, coisa íntima, ao nível poético da alma. Gente com acção política e militar, sim, claro, como o atrás citado, mas igualmente no domínio cultural, no campo da literatura, mas também das ciências, do altruísmo, e sei lá que mais.
Uns pelas melhores razões – e era a esses que eu me estava a referir – e outros pelas menos boas. Mas que sei eu.
Vem isto a propósito da eleição do próximo presidente da comissão europeia, cargo ocupado nos últimos tempos por Durão Barroso. Todos nos lembramos da escolha desta eminente figura lusa para o desempenho daquelas funções. Era, como se sabe, um indefectível bushista, que promoveu, envolvendo Portugal de uma forma absolutamente abusiva, a cimeira das Lages, com o dito Bush, Aznar e Blair. Consta que foi lá, com os três, servidos à mesa por um quarto, o tal, que se decidiu a invasão do Iraque. Terá sido lá, igualmente, que os três, mais um, terão urdido a mentira das armas de destruição maciça que importava anular. Curiosamente, deste tríptico mais um, todos os protagonistas já caíram da tripeça. O mais um, que não é publicidade a nenhuma farinha, é o que insiste em permanecer no retrato e está a fazer pela vidinha, como, aliás, fez, aquando da primeira eleição.
(Na verdade, e desculpem-me os sucessivos parêntesis, não percebo como é que se insiste em chamar àquela treta, eleição, quando do que se trata, verdadeiramente, é de uma negociação; democracia o quê?, tomem lá a assoem-se.)
O homem, conhecido por cherne como uma vez lhe chamou em tom elogioso a sua mulher citando um poema, já se afirmou obamista, não se importando que Obama seja o contrário de Bush, pelo menos naquilo que lhe é possível.
Em Portugal a discussão é sobre se se apoia o mais um, ou não. Vital Moreira terá levantado o problema no interior do PS e inaugurou uma discussão nacional. Apoia-se a eleição para cargo europeu de relevo, de alguém que não se importa se defendes bugalhos, quando há tempos afirmou que alhos é que era, apenas para garantir votos?
O país está entre a espada e a parede.
Que situação desconfortável, esta, de ter, patrioticamente, de apoiar um luso-xico-esperto (com todo o respeito), mesmo que isso viole princípios de honestidade intelectual de qualquer português de cepa que se preze.
Eu por mim, vou começar por propor à esposa de Barroso que o alcunhe de enguia. Também vive na água, mas tem um jogo de cintura muito melhor que o cherne.