quinta-feira, junho 04, 2009

a história

A época desportiva está a chegar ao fim, mormente a futebolística, e a minha apreensão, que resulta das tantas notícia lidas nos jornais, em especial nos diários da cidade de braga, aumenta exponencialmente. Não há dia em que as notícias de subidas de divisão, ou de manutenção, não sejam epitetadas como sendo resultados históricos, e mais explicitamente algumas, onde se afirma com a convicção das grandes verdades, que se está a escrever, ou a fazer, como mais vulgarmente leio, história. E quem escreve história são as associações mais díspares, pequenas e grandes, conhecidas e absolutamente desconhecidas, e nas divisões, ou escalões, mais incríveis. O Passarinhos de Não Sei Onde, porque lograram subir de divisão sem que tenham sofrido qualquer derrota, fizeram história. E isso significa festa em várias fotografias e em mais do que uma página, com os jogadores ora despidos ora quase, os dirigentes empapados num líquido que as fotos não distinguem, e com depoimentos de associados em festa a quem, perante a primeira pergunta do repórter, logo faltam as palavras. Sobra discernimento apenas para dizer que estão fazendo história, num brasileirismo comovedor.
O meu receio, medo mesmo, é pressentir a revolução que irá sofrer o manual da história que se ensina às crianças nas escolas sofridas deste país. Maria da Fonte? A rapariga que liderou um povo inteiro (consta, mas isto não vem nos manuais, que poderiam ser sete as marias da revolução) e lutou contra os Cabrais? Sabe-se lá o que é isso. Cabrais? O que se sabe é que a equipa de futebol se classificou para não sei que prova e fizeram história no ano 2009. Gil Vicente? O poeta e dramaturgo português? Quê? Mas alguém ouviu falar desse cromo? Sabe-se, isso sim, e os manuais dão conta disso, é que depois de sofrer com uma descida de divisão injusta, se levantou do quase zero, e se fez equipa e ficou na história. Do tal Vicente não se dirá nada. Mas do Fiúza, o presidente, sim.
E por aí adiante.
Fazer história é, pois, o que está a dar.
História, história, está a fazer uma tal Michele não sei quê, um nome absolutamente português como se sabe, que aos oito anos de idade deixou a pátria e foi para os estados unidos, para melhorar o seu ténis com um craque americano qualquer que já lograra formatar umas quantas tenistas de renome enorme e palmarés. Agora a menina portuguesa de 16 anos já anda na alta-roda, e faz história, gritando que nem uma vitela desmamada, nos courts do mundo inteiro. Ainda não é notícia por que ganha jogos de enfiada, lá chegará a hora, dizem os entendidos. Agora, faz história porque geme e grita e chateia o público selecto dos clubes de ténis.
Fazer história é, afinal, o que está a dar.