sexta-feira, junho 19, 2009

ainda as eleições: sugestões para melhorar a democracia

A democracia não pode ser só isto.
A «rapariga», se é que a democracia é uma senhora, pede-me que vá votar, que dê a minha opinião, que esclareça o meu ponto de vista, que assim e que assado. - Sim, minha senhora. Mas que opinião? Que ponto de vista?
Como sou destituído de voz, ela diz-me com voz sensual que outros assumirão a minha; que dirão por mim o que eu penso; que verbarizarão as minhas ideias; que decidirão qual o meu ponto de vista; em suma, que não me preocupe. E, acrescentam, se eu não tiver nem uma coisa nem outras, eles tratarão de os inventar para mim. Restar-me-á penas, afinal, assinar por baixo, todas as suas ideias, como se elas fossem minhas.
Mas as minhas ideias, hops!, não são as que nenhum deles apresentou. Porque devo então votar? Para caucionar um esquema de supervisão e governação em que não me reconheço, pergunto eu para com os meus botões que, surdos que nem uma porta, nada respondem. São botões asisados. Respondem apenas ao que lhes perguntam. Se não ouvem a pergunta, não dão a resposta. É raro assistirmos a tal espectáculo de conformidade.

Mas eu, que não sou discípulo dos meus botões, continuo a bombardeá-los: Para entronizar uns quantos que nem sei quem são, nem como foram eles escolhidos para estar naquela situação de putativos eleitos? Mesmo que eles argumentem que as ideias que defendem, são as que eu igualmente defendo, e até há casos em que assim é, porque é que devem ser eles a defender o que penso?

E sem parar, prossigo: E depois há as histórias dos enganos. Muitas vezes houve, e continua a haver, que os que devem ser a minha voz, defendem uma coisa antes das eleições e, logo que conquistado o meu voto, abdicam das suas ideias, se é que em algum momento foram verdadeiramente suas, e passam a defender exactamente o contrário do que dizem que defendem. Como é que se pode confiar em gente desta? E não me venham com argumentos baratos, como dizer por exemplo que só não muda quem é burro, que esses argumentos estafados já não me enganam. Eu votaria em alguém que, mesmo reconhecendo que o que defendeu já não é o que defende, ainda assim, por força do compromisso que assinou para comigo, defenda o que pensa não ser o mais certo, na convicção de que ainda é o que penso. E se isso lhe doesse mais do que o que suportaria a sua consciência, demitia-se, e outro em seu lugar, defenderia o que penso, ou pelo menos, o que pensei em determinado momento e me fez votar com determinado sentido.

E com este monólogo possível, se passaram uns quantos minutos.
Entretanto, nas eleições europeias, a malta não foi votar.

Agora, por força deste alheamento da coisa eleitoral, há uma corrente que, para salvar a democracia, propõe que se torne obrigatório o voto.
Hum! Uma democracia em que o voto é obrigatório.

E lá vem a conversa com os botões: A caucionação por completo da irresponsabilidade dos políticos e agentes quejandos.

E eu digo que sim, que pode ser assim, desde que o meu voto, efectivamente, sirva para alguma coisa. Por exemplo: desde que o meu voto, juntamente com o voto dos que, como eu, (por exemplo), desejam votar branco, servisse para não eleger ninguém; desde que o meu voto branco, e isto é uma suposição, servisse para deixar vazias algumas cadeiras. Desde que a proporção dos votos que deixamos em branco, obrigassem a deixar vazias as cadeiras respectivas. Eu creio que aumentava a afluência às urnas. Não muito, mas ajudava. E era um descanso. Olhávamos para a assembleia da república, por exemplo, e víamos as cadeiras vazias, mas pintadas de branco, que e para se ver a diferença entre os deputados que faltam às sessões e as cadeiras onde para onde não quisemos enviar nenhum rabo. Rabos brancos. Invisíveis. Nós todos, sentados naquelas cadeiras.
E com os nulos a mesma coisa. Declaração de voto que eu anulasse, e os que, como eu, votassem nulo, devia contar para a eleição de deputados nulos. Para que não se pense que o que quero é poupar dinheiro em salários de deputados, aqui fica uma ideia de sentido contrário: Desde o início que havia consagrada uma lista de deputados nulos, nulidades absolutas, gente nula. Exemplos na AR (ou noutra assembleia qualquer) é coisa que não falta. Elegíamos um ou dois, que se deveriam vestir de cangurus ou outra coisa qualquer – de modo, uma vez mais, que se distinguissem dos outros deputados - e sempre que olhássemos para a assembleia, olhávamos os deputados nulos que tínhamos efectivamente escolhido. Os outros, tinham que ter alguma valia, perante aqueles deputados reconhecidamente nulos. Estão a ver a ideia? Era preciso que trabalhassem.

Não é por nada, mas a democracia funcionaria um bocadinho melhor.