terça-feira, setembro 01, 2009

do que uma boa cólica é capaz

A história tem duas versões. Como tinha de ser, aliás. Não há, nunca, uma verdade absoluta, qualquer que seja a história. Quando em teoria existe tal coisa, é porque apenas há um ponto de vista. E até os pontos de vista se querem coisa plural, democrática, estereofónica, estrábica.
Para a Polícia, os documentos foram encontrados por força da necessidade de um dos agentes em ir à casa de banho. Acontece a qualquer um. Isto, enquanto decorriam as buscas em casa, ou no escritório do senhor Loureiro, procurando documentos que trouxessem alguma luz aos negócios obscuros do Banco.
Bem, o senhor agente lá teve a tal guinada – e, isto, já sou eu a imaginar – «ai Jesus que eu estou tão aflitinho, onde é que é a casa de banho»?, E o Senhor Loureiro, indignado, a dizer-lhe «nesta casa você não defeca, sou conselheiro de estado, vá defecar p'ra outro lado. Vá ao café, por exemplo. Peça uma água, qualquer coisa, que se consumir, deixam-no defecar lá». E o agente: «ai senhor doutor, que eu não aguento descer as escadas. Deixe-me ir ao seu davliú cê (o agente falou assim para parecer mais educado) se não quer que lhe suje o escritório todo». Finalmente, perante tamanha ameaça, o senhor Loureiro lá condescendeu. O agente entrou, esbaforido, na casa de banho anexa ao escritório, desceu as calças o mais rapidamente que pode e quando já descansava, aliviado, após a primeira defecadela, teve finalmente tempo para respirar fundo e descansar os olhos, olhando à volta. Deve ter sido então que descobriu uma espécie de esconderijo, porventura esconso (e a palavra «esconso» foi assim mesmo utilizada pelo senhor Loureiro) a uma canto. Depois de se ter recomposto, o homem foi perceber o que era quilo. E descobriu uns dossiers com ar suspeito. «Olé», pensou para com os seus botões, «o que é que está aqui a fazer esta papelada velha com ar suspeito»? E foi então que deve ter gritado «acuda, oh chefe, venha ver esta tralha suspeita aqui». Descobriram, então, uma série de coisas que era suposto não terem descoberto, bem como um caderninho de capa preta, (e se não era preta a cor da capa do caderninho, passa a sê-lo, que nesta história quem manda sou eu) onde estavam registados, ainda que resumidamente, todos os negócios do senhor Loureiro e que ele afirmara amiudadas vezes ter perdido.
A outra verdade da história é, precisamente, a do senhor Loureiro. «Que não se tratava nada de um anexo escondido, nem tão pouco uma passagem secreta, mas sim um sítio mais esconso do escritório». Ora lá está, esconso. E que os «documentos encontrados eram insignificantes, porque – e disse-o assim mesmo, a acreditar no que a imprensa divulgou – se fossem coisas que o denunciassem, ele tê-los-ia destruído».
Porventura, digo eu, como fez com todos os outros documentos, o que indicia, no mínimo, comportamento atípico. Ou não é?
Apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo. Não há mentira que resista a uma cólica intestinal das antigas.
A polícia portuguesa tem um grande olho para a investigação do crime económico, essa é que é essa.