domingo, setembro 20, 2009

pouca saúde

Obama discursou um dia destes, a propósito do serviço nacional de saúde norte-americano, uma (des)organização obsoleta, que afasta um percentagem enorme da comunidade norte-americana dos serviços mínimos de saúde, isto para lá do mundo privado que rejubila (e engorda) com a incapacidade do estado (e aqui, incapacidade é um modo de dizer…) em apoiar a saúde dos seus cidadãos de forma sustentada, consistente e eficaz.
E, não há dúvida, que a palavra, e o verbo, na boca do presidente americano, é uma arma com um grau de eficácia tremendo. O homem sabe comunicar, tem garra, tem ideias aparentemente justas (creio que os outros presidentes americanos que o antecederam – todos - também as terão tido, com a honrosa excepção de Busch Júnior, mas terão sido engolidos e triturados pela máquina dos interesses privados, e que não é certo que este também o não seja, apesar das indicações dadas em sinal contrário), e terá algum crédito para as afirmar na prática política gringa.
Ao reivindicar para esta revolução tão sensível e primária como a saúde pública, e o livre acesso, aberto e universal, a tal apoio, uma posição coincidente entre democratas e republicanos, mais não significa que, ao atrair e engodar a oposição para tamanha campanha, procura trazer uma força acrescentada e uma justiça que tantos americanos tardam em sentir. E duradoura, creio, porque qualquer campanha pode sofrer reversões às vezes sabe-se lá porquê. Embora peque por tardia, qualquer que seja o prazo para que ela matricule todos os cidadãos da América, é uma boa notícia. Ou como diz o povo, mais vale tarde que nunca.
Faz-me impressão que o exemplo de um país imperialista como a América, tão tacanho em tantas coisas, mormente no que de mais social deixa transparecer, com o conceito do privado tão entranhado e praticado, com o primado do indivíduo tão entronizado, este exemplo não colha no pequeno país que somos, tão servil perante tal potência, tão reverenciador, gente de tantas vénias e améns.
Talvez que aqui - como lá parece que vai deixar de acontecer, pelo menos no que à saúde em concreto diz respeito - ainda não seja tempo para retirar o ser humano das garras dos que se engrandecem materialmente com coisas tão básicas e primárias como a saúde dos seus cidadãos, coisa tão íntima e tão fundamental. Talvez que aqui, os tubarões do privado ainda mantenham barbatanas GPS para navegar num mar que continua a ser-lhes propício, mais que as águas do pacífico, onde os tubarões gringos, engrandecidos num mar onde a cardumagem, aparentemente, começa a ser um pouco mais defendida.
Quando a saúde ainda é coisa descartável, mal vai o país, seja ele Portugal ou qualquer outro.
E esta campanha eleitoral, e a prática recente consumada, deixa a descoberto o desatino de tantos. E vamos votar neles.