sábado, novembro 12, 2016

os galos e os americanos

Mais de duas mil e quinhentas toneladas de lixo italiano chegaram a Portugal, sem nenhuma pompa nem nenhuma circunstância, para serem eliminadas em aterro pátrio. Apenas breves notícias em estafadíssimos jornais deram nota dessa chegada, que não teve honras de estadismo de nenhuma espécie, nem bandeira içada com garbo, nem hino desafinadamente entoado.
A notícia, que é coisa nova - deste género e, assim de repente, apenas me lembro de variadas lavagens em águas nacionais de cargueiros e petroleiros muitos, que deixam, como obviamete se previa, resíduos imensos nas nossas costas, mas que as ondas e o tempo acabam por dissipar, - faz-nos pensar na inqualificação da nossa vida produtiva. Quando nada temos para vender ao mundo civilizado, coisas que lhes interessem e que noós tenhamos tido capacidade para produzir, ainda somos gente para ‘comprar’ o lixo que os outros não toleram e que não sabem como resolver, ganhando em troca umas cascas de cebola.

No movimento do entra e sai constante, (porque, ainda assim, há sempre coisas a saír... enfermeiros, professores e demais gente qualificada), sabe-se que há um galo em exposição em lisboa prontinho para dar o salto e iniciar uma digressão internacional, a começar na China. Para já, está em exibição em lisboa, mas de malas feitas. Malas de galo...
É assim a vida.
Assim se equilibram as importações e as exportações, ou seja a balança comercial deste país. Ora se vende pátria para receber lixo intenacional, ora se vende galo para exposição pacóvia-pop da alma lusitana.
Pelo que percebi, o galo, que é icone de barcelos e que imita em tudo (proporção e forma) o tradicional, está muito bem agasalhado por azulejaria pátria variada, e por milhares de néons, tecnologia chinesa. Um casamento perfeito em tempos de globalização. Tão chinesa, que o comando que deveria ter accionado as luzes e outros demandos tecnológicos, não funcionou. Mau contacto ou falta de pilhas, parece que Costa, o primeiro-ministro que recebeu o apoio de Vasconcelos nas últimas eleições legislativas que levou à erupção desta chamada geringonça, ficou com o comando na mão e, entre sorrisos amarelos e constrangimentos orientais, lá inaugurou o galo-coisa.
É a internacionalização. Da nossa iconografia, do lixo dos outros, etc.
No que diz respeito ao lixo italizano, ao que consta, Portugal pode vir a receber, ao longo de um ano, 60 mil toneladas, que parece que já estarão contratadas.

Na américa, e nestas últimas eleições, quem ficou com um grande galo foram os americanos, parece que mais de cinquenta por cento deles, que lá. Se calhar como cá, não vence quem tem mais votos. Ficaram de comando na mão, quer dizer às portas da união e da inteligência, sem pilhas carregadas, amarelos. Consta que Vasconcelos, já está a montar néons na casa branca. E o cão de água de Obama, vai ser forrado a azulejos.


É a vida.

terça-feira, novembro 01, 2016

bob

Bob Dylan continua sem dar cavaco à academia. Sem dar cavaco é uma forma de dizer. Nem cavaco, nem sinais de fumo... Nada. Pelo menos no momento em que escrevo esta crónica.
Na academia sueca, e imagino as discussões acesas que terão tido lugar à volta daquelas mesas suecas Ikea, discussoes duplas pois, porque primeiro foi preciso montar as cadeiras e as mesas - e o trabalhão que isso dá, não é? - e depois, sentados nelas e à volta dela, discutir nomes e obras literarias até se chegar a um nome, umzinho... e agora, como dizia, na academia sueca reina o silencio. Sepulcral. E ainda por cima por uma causa que demonstra ser a coisa mais silenciosa que existe. Ainda por cima, o energumeno, o improvavel premiado, é um cantautor, um fazedor de musica popular, um gajo que se fartou de cantar a vida toda e agora, nesta materia, nem um dó, nem um mi, nem uma palavrinha de agradecimento, nada.
Muitas razões podem estar associadas a esta ausência silenciosa de Dylan.
Pode não ter pago a conta do telefone e a companhia ter-lhe cortado a linha, por exemplo; pode estar afónico incapaz de verbalizar palavras e, atraves delas, agradecimentos e loas, e entender que a gaita de beiços - alternativa, nao à mao de semear, mas à boca de assoprar - não ser o instrumento adequado para comunicar com a real academia; podem, na dita cuja, não ter o numero certo dele e estarem a insistir em telefonar para alguém que não é ele; pode ter passado perto da casa dele, o senhor que está a monte na zona de arouca, vila real ou sabrosa e dylan pode estar agora muito bem agasalhado na bagageira de um carro; pode nao perceber sueco; pode ter ido fumar um cigarrinho à rua e, verificando que estava a menos de cinco metros de uma escola, ter procurado uma zona mais de acordo com o que a nova lei anti tabágica, em portugal, e a ser aprovada, determina, e estar agora em parte incerta, fumando pensativamente; Pode ter saido para comprar cigarros e até hoje; pode ter sido engolido pelo triangulo das bermudas e só voltar a aparecer, velho e enferrujajado, daqui a umas dezenas de anos; pode ter sido levado por um tufão; pode ter-se recolhido em profunda reflexão para decidir qual o seu voto nas proximas eleições americanas e, por qualquer razão, ainda hesitar entre Trump e Hillary, e nao querer interromper essa rflexão por nenhuma razao do mundo; enfim, tanta coisa pode ter acontecido.
De bob dylan se sabe que, nesta materia, nada se sabe. O que já é alguma coisa. Os intervalos sao sempre coisas minusculas, coisas infimas, entretens de coisas maiores. Porque, tal como ele proprio cantou: aquele que nao está oucupado a nascer, está ocupado a morrer.
Dele se saberá alguma coisa, mal o intervalo se extinga, e o essencial regresse á primeira fase da nossa atenćao. E desconfio que o nobel nao está contido nessa preocupaçao dilãn-niana.

O melhor é a academia reconsiderar e entregar o nobel da literatura a sartre. De certeza que, pelo menos este, desta vez, nao vai recusar.