sábado, junho 18, 2011

No dia 5 de Junho, um domingo, o panorama político português mudou. Olaré.

E mudou com alguma radicalidade, diga-se, se esquecermos que, no essêncial, PSD e PS são a mesma coisa. Ou quase. O que é facto, parece-me, é que muda apenas a pretensa cor do aparelho partidário. Do rosa passamos ao laranja, é tudo uma questão de tolerarmos mais ou menos o amarelo no primeiro plano das nossas vidas cívicas, isto é, mais CDS no governo, mesmo que os centristas pintem as suas convicções de azul. Coisas da cromopolítica.

De resto, tudo igual como de antemão se sabia. E como não? O programa era o mesmo para todos os três partidos do chamado ‘arco do poder’ como inventou Paulo Portas. Todos discursavam conforme o mesmo credo, o credo do FMI (numa parede do Porto li um grafitti cheio de loquaz evidência: FMI amo-te. Que remédio).

Agora, o que se sucederá, será a mais que trivial dança das cadeiras. Os lugares desocupados serão ocupados por novos ministros, ou nem por isso, que os velhos generais não andaram a levar na cara com os beijos repenicados dos portugueses para nada, se lhes quiseram a carne agora têm de amanhar-se com os ossos, ora essa.

Para ocupar aquelas cadeiras, e as tantas que se seguirão, há rabos esquálidos, magros como cães, de uma magreza feita de seis anos à míngua, enquanto os redondos rabos dos decapitados, irão ocupar outras poltronas, talvez as de uma cátedra de filosofia qualquer na Paris dos intelectos bem formados, ou a formar, procurando balanço para outros saltos, respondendo a outras ambições, novos desafios, mais altos voos.

Quem não foi em cantigas e chamou os bois pelos nomes foi Sílvia Ramos, a presidente da distrital do CDS de Beja que, aos microfones da Radio Pax, aconselhou os militantes do CDS a ‘’correr atrás de lugares…”. A dirigente popular deixou claro aos militantes do seu partido que lhes compete estar “nos devidos lugares, proporcionalmente ao nosso peso político e porque temos isso legitimado pelos votos que obtivemos”.



Assim é que é. Pelo menos ficamos todos a saber com o que é que contamos. Como se não o soubesemos já.

terça-feira, junho 07, 2011

olha, elegemos para presidente da assembleia da república aquele senhor da ami.
estas eleições, aliás, eram só para isso, não eram?

quinta-feira, junho 02, 2011

De Espanha, diz o ditado popular, nem bom vento nem bom casamento. E agora, com toda a propriedade, podemos acrescentar que, ‘nem bons pepinos’. Uma bactéria qualquer, pelos vistos alojada nos pepinos espanhóis, está a dar cabo da cabeça aos alemães que, ao que se sabe pelas notícias, já contabilizam dez mortos entre os que se deixaram contaminar.

A notícia, que se saiba, ainda não tem repercussões assinaláveis em Portugal. Nem assinaláveis nem por assinalar, creio que nada se tem dito aqui deste lado da fronteira e, por isso, a campanha eleitoral segue de vento em popa, ou melhor, de vento nos pepinos, à procura dum casamento certo. Na verdade, de entre os dotes apresentados aos pais da noiva, que é o que nós somos, paizinhos de uma menina com oitocentos anos de idade mas cheia de pretendentes, não creio que haja o que quer que seja que verdadeiramente nos seduza. Não há animais, nem bordados como antigamente se fazia, nem propriedades, nem a promessa de um amanhã risonho. Pelo contrario: há promessas, mesmo que enfeitadas com as mais disparatadas baboseiras, de privação, escassez, desemprego, ainda mais cortes nas conquistas que fomos conseguindo e desconseguindo, um pouco-muito-mais desta democracia que já não nos basta, e que já não basta a tantos e tantos pelo mundo fora.

As manifestações que em Espanha - precisamente o sítio donde vêm os pepinos - têm conseguido juntar, para livremente debater o estado das coisas, centenas-milhares de pessoas, são uma luz irreprimível que brilha ao fundo do túnel. Amigos meus, a propósito de manifestações semelhantes que já tiraram dos seus poleiros dourados alguns ditadores, dizem-me que de pouco servirão se não forem devidamente capitalizadas as suas frustrações, a sua desobediência, e a sua incomensurável rebelião. Mas se alguém colhesse esses frutos da árvore que se rebustece a cada dia que passa, estaria a tolher a organização naquilo que ela tem de especial e de essencial: nasceu mais ou menos espontaneamente e rege-se apenas pela lei da insatisfação, da revolta, da incapcidade de se fazer silêncio sobre as coisas mais importantes, que é o que nós, colectivamente, somos. E antes de sermos colectivo, somos individualidades. Os meus amigos dizem-me que, precisamente, as individualidades não conseguirão nunca nada, nenhum mundo melhorará com elas. Que só transformando estas individualidades num colectivo dinamizado, é que se se chegará a algum sítio. Eu, por mim, só de os ver acampados numa praça qualquer, em reuniões sucessivas, discutindo isto e aquilo, Já me restabeleço um pouco do meu torpôr. Dali saírão pessoas mais capazes de pensar. E quando um homem pensa, que o mesmo é dizer ‘sonha’, o mundo conhece asas. E do conhecimento à experimentação, são dois passos.

Afinal, de Espanha não nos chega apenas a notícia terrível da contaminação dos pepinos. Também nos chega uma esperança. A utopia está viva e vive em madrid, entre outros sítios, numa tenda improvisada, nas puertas del sol. Podemos mandar-lhe um postal e tudo.

Por mim, digo-vos, é com essa esperança que vou votar no domingo.

É para o que servem, os hoteis.

Vai-se lá dormir uma noite, às vezes apressadamente, outras nem por isso, e faz-se com quem se tem à mão, o que se tem de fazer, na presunção de que, o que tem de ser tem muita força. O homem forte do FMI não foi o primeiro nem será o último. No que toca a homens poderosos, seja por que razão for, muitos há a quem a tentação tocou e cuja resposta acusou positivo nos testes da decência.

Diz-se que, com o seu desaparecimento político (e técnico), fenece um dos fortes aliados dos portugueses e dos gregos. O mesmo já não dizem, presumo, as empregadas dos hoteis. Pelo menos aquelas a quem a decência importa, apesar das gorjetas à FMI.

Quem pode agora - agora ou depois - vir a terreiro ser acusado de violação, ainda que desejada e, consequentemente consentida, é José Socrates, Passos Coelho e Paulo Portas, mesmo que se não importe, ou se importe de menos.

Antes deste escândalo, porém, o que reinava, o que se instalava no pico da nossa atenção, era Braga. A cidade velha, mais velha que a Sé, estava a fazer a festa, ou as festas, que nesta coisa de alegrias, as festividades são como as cerejas: vêm aos pares. Primeiro a passagem do Sporting de Braga à final da Liga Europa derrubando o poderoso Benfica de Lisboa; e depois a inauguração do novo hospital que, honra lhe seja feita, começou a funcionar na hora marcada.

Por curiosidade pessimista à laia do bom português, habituado a ver todas as etapas fracassarem, todos os prazos implodirem, todas as datas adiadas, marquei na minha agenda o dia da inauguração do monstro e as ameaças nada veladas de formidáveis pedidos de pagamentos por danos, que a administração do hospital ia soltando a propósito dos atrazos na edificação dos acessos.

O Hospital foi inaugurado, mas os acessos não. Não estão concluídos. Estão começados. Alguns mal começados, outros longe de estarem concluídos. Nem tão pouco a sinalização do equipamento, o que tem levado inúmeros automobilistas a naufragarem na desinformação existente.

O hospital é, por enquanto – e não sei se não teria de ser forçosamente asim – uma fonte de dores de cabeça, e não um alívio para elas. É uma doença e não a sua solução balsamica.

Aguardemos pelas taxas moderadoras. Que a violação, sabemo-lo, é apenas uma questão de intensidade.