Grândola
Infelizmente não assisti à imagem histórica do cante alentejano de Cavaco. E ainda não vi essas imagens repetidas na TV. Nem consigo com alguma fidelidade, confesso, imaginar Cavaco Silva a cantar Grândola Vila Morena. Mas parece que cantou. E depois disso (e talvez antes, não sei) já usou o chavão várias vezes, agitando as águas e dizendo que era o povo quem mais ordenava, gastando um dos versos da canção, já de si, ele mesmo, uma citação de uma palavra de ordem qualquer, usada pelos da esquerda. Esta coisa das palavras de ordem outrora pertença do PCP e agora usadas pelas várias forças políticas, algumas até inimagináveis na suposição do uso, já vem do tempo de Paulo Portas, quando ele era o manda chuva do CDS (ou do Partido Popular… ou dos dois), e quando se ouviam aos betinhos das suas hostes, «assim se vê, a força da jota cê»... As voltas que o mundo dá... E agora, seguindo o padrão inventado por Portas, Cavaco cantou a Grândola. O homem não podia, nesta inauguração, fazer a coisa por menos. Pior era se cantasse a Internacional. Pois. Mas mesmo assim... A cantiga foi a senha do vinte e cinco de Abril, caramba.Tenho uma pena imensa de não ter assistido ao momento. Nem imaginá-lo, assim descontextualizado. Apenas consigo, sem esforço, escrever o guião fílmico da cena.
Vamos a isso.
Já estou a imaginar a cena: vindo de longe, de uma zona de nevoeiro qualquer, o som de passos que se arrastam. Não se sabe de quem são os passos... Apenas se ouvem, pausados, síncronos na paisagem brumosa. E agora já se divisam as silhuetas. Ah surpreendente visão, desce sobre mim super-poderes, e deixa-me vislumbrar os rostos que, em zoom, ganham forma e feição. Já os vejo, sim, visão ultra ultra, ei-los, de braço dado, claramente vistos, Marques Mendes e Ribeiro Castro, eles mesmos, braço com braço entre outros braços. São muitos, todos agarradinhos: Ramalho Eanes, António Borges, Eusébio, Luís Filipe Menezes, tudo gente de primeira apanha, que arrasta os sincronizados passos. Eusébio vai mais lento... coxeia ligeiramente. Ai aqueles joelhos... E agora, sobre esta teia de sons, sobre este bailado político, a voz do solista (ou do sulista?) Cavaco. Lindo.
A democracia, como uma canção.
E agora, tem a palavra o júri de Portugal.
Boa noite Portugal, daqui Portugal. Canção número um…
Vamos a isso.
Já estou a imaginar a cena: vindo de longe, de uma zona de nevoeiro qualquer, o som de passos que se arrastam. Não se sabe de quem são os passos... Apenas se ouvem, pausados, síncronos na paisagem brumosa. E agora já se divisam as silhuetas. Ah surpreendente visão, desce sobre mim super-poderes, e deixa-me vislumbrar os rostos que, em zoom, ganham forma e feição. Já os vejo, sim, visão ultra ultra, ei-los, de braço dado, claramente vistos, Marques Mendes e Ribeiro Castro, eles mesmos, braço com braço entre outros braços. São muitos, todos agarradinhos: Ramalho Eanes, António Borges, Eusébio, Luís Filipe Menezes, tudo gente de primeira apanha, que arrasta os sincronizados passos. Eusébio vai mais lento... coxeia ligeiramente. Ai aqueles joelhos... E agora, sobre esta teia de sons, sobre este bailado político, a voz do solista (ou do sulista?) Cavaco. Lindo.
A democracia, como uma canção.
E agora, tem a palavra o júri de Portugal.
Boa noite Portugal, daqui Portugal. Canção número um…
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