luís miguel cintra
Com alguma surpresa, creio, – tanta, pelo menos, quanta a justeza da sua outorga, (que é toda), – a atribuição do Prémio Pessoa, divulgada esta sexta-feira, fez com que muitos holofotes da atenção dispersa do português mais ou menos suave, apontasse em direcção do cidadão Luís Miguel Cintra e, nele, iluminar, creio, não apenas a sua carreira (como tem vindo a ser mais ou menos habitual, se bem que, como diria a grande actriz Isabel de Castro recentemente desaparecida, ‘’em Portugal, e no teatro, carreira… só a das camionetas’’), mas toda uma arte que, por ser filigrana, vive, em regime de permanência, – discurso velho e chato, mais chato ainda por ser velho e permanente), momentos dramáticos na sua luta pela plena afirmação e existência, lado a lado com outra áreas do conhecimento, como a literatura, por exemplo, e até a ciência.
O laureado, ao ver-lhe atribuído um galardão desta importância, (o Prémio Pessoa é, talvez, o mais significativo e importante galardão atribuído a uma personalidade do universo lusófono), entendeu, humildemente, que o júri está igualmente a premiar uma estrutura e um projecto: o Teatro da Cornucópia. No seu entendimento, o teatro é uma arte colectiva e é, tantas vezes injusto, premiar uns em desfavor de outros, sem os quais não seria possível fazer-se o trabalho tal qual ele se faz.
Mas neste prémio, creio, o júri quis, igualmente, premiar uma classe, a dos profissionais do espectáculo que se revêem no trabalho que Luís Miguel Cintra produz. E quis, também, ao individualizar o prémio – como aliás, é prática corrente – agraciar O ACTOR. E é de um actor único que se trata. O cuidado no tratamento da língua, a inteligência como a defende, a inteligência que coloca no trabalho que executa; o total descomprometimento pela facilidade que coloca em cada gesto;
Mas quis premiar O RECITADOR e grande divulgador de poesia;
O ENCENADOR único e o autor de linguagem própria que o tornam objecto único, apesar das insistentes cópias que muita gente vai tentando:
O DIRECTOR do projecto do Teatro da Cornucópia, família do premiado, espaço único no panorama português (mas não único, importa, já agora, referi-lo) de programação e produção teatral:
E finalmente, e era aqui que queria chegar, o júri, talvez não pensando nisso, premiou O ACTOR QUE NÃO VAI À TV, o actor que não se dá a mostrar no pequeno televisor. E esta é uma faceta que ainda não vi referida e que, paradoxalmente, é, talvez, das mais importantes na sua vida artística/ética. Até porque «não vai», «porque não quer». Para essa ausência há, de certo, razões bastantes. Umas conhecidas, outras induzidas e outras, ainda, mal contadas. O que é facto indesmentível é que Cintra não é presença no pequeno ecrã. E tem estado ausente, não porque não tenha sido convidado, estou certo que tem, mas porque tem optado pela ausência, porque não se quer ligar com um mundo que, digo eu, não lhe dá as condições de trabalho que ele, porventura, entenderá como essenciais. O que significa, para mim, que não é, ainda, afinal, a TV que determina tudo. Talvez que Cintra seja apenas a excepção à regra estabelecida, mas enquanto houver uma luz, uma guia, a nossa orientação não está, de todo, perdida. Vivemos de pequenos sinais, perseguimo-los para nos afirmarmos perante nós próprios no plano ético, de nós para a nossa consciência, e são estes pequenos signos que, muitas vezes, nos garantem alimento.
Mas o prémio aplaude, também, O ORGANIZADOR dramatúrgico de uma importante colecção dramática, edição que tantas companhias e diferentes projectos teatrais têm seguido como material básico para as suas produções – sobretudo aqueles grupos que não têm dinheiro para encomendar as suas próprias traduções, por exemplo – e premeia igualmente, O TRADUTOR, individualmente ou em equipa.
Parabéns a Luís Miguel Cintra.
Este prémio, apesar de tudo o que podemos pensar acerca dos prémios, é o mais merecido de todos.
O laureado, ao ver-lhe atribuído um galardão desta importância, (o Prémio Pessoa é, talvez, o mais significativo e importante galardão atribuído a uma personalidade do universo lusófono), entendeu, humildemente, que o júri está igualmente a premiar uma estrutura e um projecto: o Teatro da Cornucópia. No seu entendimento, o teatro é uma arte colectiva e é, tantas vezes injusto, premiar uns em desfavor de outros, sem os quais não seria possível fazer-se o trabalho tal qual ele se faz.
Mas neste prémio, creio, o júri quis, igualmente, premiar uma classe, a dos profissionais do espectáculo que se revêem no trabalho que Luís Miguel Cintra produz. E quis, também, ao individualizar o prémio – como aliás, é prática corrente – agraciar O ACTOR. E é de um actor único que se trata. O cuidado no tratamento da língua, a inteligência como a defende, a inteligência que coloca no trabalho que executa; o total descomprometimento pela facilidade que coloca em cada gesto;
Mas quis premiar O RECITADOR e grande divulgador de poesia;
O ENCENADOR único e o autor de linguagem própria que o tornam objecto único, apesar das insistentes cópias que muita gente vai tentando:
O DIRECTOR do projecto do Teatro da Cornucópia, família do premiado, espaço único no panorama português (mas não único, importa, já agora, referi-lo) de programação e produção teatral:
E finalmente, e era aqui que queria chegar, o júri, talvez não pensando nisso, premiou O ACTOR QUE NÃO VAI À TV, o actor que não se dá a mostrar no pequeno televisor. E esta é uma faceta que ainda não vi referida e que, paradoxalmente, é, talvez, das mais importantes na sua vida artística/ética. Até porque «não vai», «porque não quer». Para essa ausência há, de certo, razões bastantes. Umas conhecidas, outras induzidas e outras, ainda, mal contadas. O que é facto indesmentível é que Cintra não é presença no pequeno ecrã. E tem estado ausente, não porque não tenha sido convidado, estou certo que tem, mas porque tem optado pela ausência, porque não se quer ligar com um mundo que, digo eu, não lhe dá as condições de trabalho que ele, porventura, entenderá como essenciais. O que significa, para mim, que não é, ainda, afinal, a TV que determina tudo. Talvez que Cintra seja apenas a excepção à regra estabelecida, mas enquanto houver uma luz, uma guia, a nossa orientação não está, de todo, perdida. Vivemos de pequenos sinais, perseguimo-los para nos afirmarmos perante nós próprios no plano ético, de nós para a nossa consciência, e são estes pequenos signos que, muitas vezes, nos garantem alimento.
Mas o prémio aplaude, também, O ORGANIZADOR dramatúrgico de uma importante colecção dramática, edição que tantas companhias e diferentes projectos teatrais têm seguido como material básico para as suas produções – sobretudo aqueles grupos que não têm dinheiro para encomendar as suas próprias traduções, por exemplo – e premeia igualmente, O TRADUTOR, individualmente ou em equipa.
Parabéns a Luís Miguel Cintra.
Este prémio, apesar de tudo o que podemos pensar acerca dos prémios, é o mais merecido de todos.
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