a pide lava mais branco
Consegui, graças ao meu esforço hercúleo, intersectar uma carta de um PIDE renitente em observar a liberdade que reina no nosso país, e que continua a negar a existência do 25 de Abril. A carta, em jeito de relatório, era dirigida a um tal Silva Pais.
Dizia:
Exmo. Senhor Doutor Fernando Eduardo da Silva Pais,
Conforme ordem de V. Exa. datada de vinte e um de J… de … (ilegível), sou a informar V. Exa. que decorre de forma muito satisfatória, o trabalho de branqueamento dos actos mais radicais que realizámos em nome da pátria e dos seus mais altos valores. O tenente Carrajola, por exemplo, viu nos últimos dias, serem-lhe diluídas culpas na morte da perigosíssima Catarina Eufémia, essa agitadora da criadagem alentejana, que juntamente com mais catorze mulheres que não conhecem macho que as amanse, foi pedir aumento de salário ao patrão.
(Exmo. Senhor Director, peço desculpa pela linguagem, mas quando escrevo «a mulher que não conhece macho que a amanse» não estou a pensar na sua filha – nem no seu genro - que tanto desgosto lhe causou quando fugiu, esbaforida, para Cuba, tentar cumprir a paixão pelo conhecido barbudo de nome Che…).
O caso ainda não está suficientemente tratado, mas os nossos homens estão em campo e muita coisa ainda irá acontecer em nosso benefício. Para já, conseguimos que não se ligasse de forma directa a agitadora com os comunas, e conseguiu-se, também, fazer passar a ideia de que a perigosa agitadora não estava grávida (eu bem que lhe dizia, senhor director, que o melhor era que fossemos nós a tratar, directamente, da autópsia da mulher. Se tivéssemos feito tudo como eu entendia que devia ser, garanto-lhe que hoje a maldita teria morrido de mau olhado ou outra coisa qualquer).
Para que a nossa acção esteja cumprida cabalmente, ainda falta que se diga que quem, realmente, matou a mulher, foi o filho que ela trazia ao colo, e que era, desde logo, a pessoa melhor colocada para ter disparado sobre ela. Mas isto com paciência vai. Dê-nos tempo Senhor Director que, aliados, nós temos de sobra.
Sem mais, saudações patrióticas,
Pela Pátria,
(assinatura ilegível)
O documento aqui fica para quem o quiser analisar.
Dizia:
Exmo. Senhor Doutor Fernando Eduardo da Silva Pais,
Conforme ordem de V. Exa. datada de vinte e um de J… de … (ilegível), sou a informar V. Exa. que decorre de forma muito satisfatória, o trabalho de branqueamento dos actos mais radicais que realizámos em nome da pátria e dos seus mais altos valores. O tenente Carrajola, por exemplo, viu nos últimos dias, serem-lhe diluídas culpas na morte da perigosíssima Catarina Eufémia, essa agitadora da criadagem alentejana, que juntamente com mais catorze mulheres que não conhecem macho que as amanse, foi pedir aumento de salário ao patrão.
(Exmo. Senhor Director, peço desculpa pela linguagem, mas quando escrevo «a mulher que não conhece macho que a amanse» não estou a pensar na sua filha – nem no seu genro - que tanto desgosto lhe causou quando fugiu, esbaforida, para Cuba, tentar cumprir a paixão pelo conhecido barbudo de nome Che…).
O caso ainda não está suficientemente tratado, mas os nossos homens estão em campo e muita coisa ainda irá acontecer em nosso benefício. Para já, conseguimos que não se ligasse de forma directa a agitadora com os comunas, e conseguiu-se, também, fazer passar a ideia de que a perigosa agitadora não estava grávida (eu bem que lhe dizia, senhor director, que o melhor era que fossemos nós a tratar, directamente, da autópsia da mulher. Se tivéssemos feito tudo como eu entendia que devia ser, garanto-lhe que hoje a maldita teria morrido de mau olhado ou outra coisa qualquer).
Para que a nossa acção esteja cumprida cabalmente, ainda falta que se diga que quem, realmente, matou a mulher, foi o filho que ela trazia ao colo, e que era, desde logo, a pessoa melhor colocada para ter disparado sobre ela. Mas isto com paciência vai. Dê-nos tempo Senhor Director que, aliados, nós temos de sobra.
Sem mais, saudações patrióticas,
Pela Pátria,
(assinatura ilegível)
O documento aqui fica para quem o quiser analisar.
2 Comments:
Brilhante. Na razão inversa da clareza deste país...
ha algo na carta que denuncia uma certa actualidade...
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