segunda-feira, novembro 28, 2005

ídolos ídolos ídolos















Treze anos depois, consta, de publicamente ter encerrado os velhos portões de ferro que guardavam os mistérios quase insondáveis da Fonte do Ídolo, ei-la que parece ressurgir da imensidão nocturna da clandestinidade entaipada. Abrirá ao público em Dezembro, segundo informação provinda da câmara municipal, resolvidos os imbróglios burocráticos que terão estado na base do encerramento e cujos desencontros envolviam, precisamente a autarquia, e o estado português, representado pelos inomeáveis trezentos institutos de defesa do património. A coisa resolveu-se, hurra! hurra!, e a fonte dar-se-à a ver, isso é que é o mais importante, jorrando de novo, a história que tem estado desvisível.
Abrirá, pois, mas sem o ruído curioso que o portão fazia, gemendo pesarosamente perante a violência de movimento tão inusitado, o da abertura claro, nem que de uma vaga fresta se tratasse. Abrir portas para quê?, pensaria o ferro forjado, do alto das suas lanças, para com os seus ferrolhos (sem óleo). Isto está bem é fechado, impedindo que venham para aqui miúdos e graúdos mijar na pedra velha, oxidá-la, que este tem sido local para desaguamento de àrasquices repentinas ou deliberadas, para encontro de casais desesperados, (que só mesmo em desespero é que se promoveria para idílio amoroso um sítio assim, fazendo resistir o entusiasmo ao cheiro nauseabundo da urina, quando não de outros dejectos, que no velho Ídolo não havia descriminação para as coisas expelidas, nem por homens ou animais) e para outras desavergonhices muito mais radicais, como o comprovavam as diversas seringas e outros objectos já sem préstimo espalhados no local, como testemunhei eu, com estes dois que a terra há-de comer (*), quando lá fui mais do que uma vez, depois de mendigar a chave na loja de electricidade que havia ao lado. Estendiam-ma com desconfiança, zeladores desprevenidos, género: o que é que estes gajos – eu e os outros, levados lá pela mão do Paulo Lobato Costa, filho de Luís Costa, um dos homens que mais sabe de património na cidade de Braga, e que terá sido, se a memória me não atraiçoa, quem me deu a conhecer o local – vão ali cheirar?
E se havia que cheirar ali, senhores!!! …Agora, pensado bem, o barulho do portão era um eficiente alarme para invasores deschavados, conhecedores de caminhos clandestinos, que não precisavam da bênção de portões fala-barato.
Mas na altura, vá lá sabê-lo.