quarta-feira, novembro 09, 2005

paris será toujours paris? (3 branco)

Não é possível, apesar da solidariedade que sinto dever prestar a estes duplos mártires, (pela situação que vivem, e pela qualidade da resposta inqualificável que estão preparados para dar), branquear o desacato público a que se assiste na noite francesa. Por todas as razões que motivam esse desvio à norma publica estabelecida, mas também pelas causas que conduzem a essas manifestações exaltadas. Tal como não é possível, creio, observar os acontecimentos presentes como se eles acontecessem à distância do salto que, dantes, (agora não?), éramos forçados a arriscar para as franças do nosso exílio. Sabemos bem, da emigração que experimentámos, como se sofre a margem e o abandono. Sabemos igualmente bem, de lição recente recebida nestes últimos anos, como se pratica o abandono e se negligencia o desespero daqueles que nos procuram. Razões económicas, igualmente desesperadas, obrigaram-nos ao cumprimento desse exílio, e à aventura partíamos, sem saber, tantas vezes, o que poderia acontecer numa esquina mais perigosa do caminho. E sob o jugo desse fado, com esse destino desenhado nas nossas vidas, fizemo-nos à estrada, arriscámos o que não tínhamos, e nas franças das saudades reprimidas, comemos o pão que o diabo amassou, como se o inimigo fosse um qualquer padeiro e fabricasse as afamadas baguetes à base de vento em mistura com ar. Quantas vezes, (quem lá esteve), vivendo em condições ainda mais precárias – imagino – que a que experimentam estes emigrantes magrebinos e gente que descende deles em segunda e terceira geração. Não terão também os nossos, sentido na mão a pedra afiada, e no braço a tentação o arremesso? Quantas vezes não terá sido o medo (o mesmo medo que agora faz avançar esta gente) a temperar de calma, o gesto que mais apetecia? O branco não é, em definitivo, a cor que mais se ajusta à presente situação. Mas clarifica-a.

1 Comments:

Blogger Nic said...

o pao que o diabo amaçou saboreado pelos nossos compatriotas e pelos progenitores destes jovens tinha um sabor mais amargo, alias 'as vezes nem o tinham para saborear. as condicoes eram muito mais precarias, mas tambem as expectativas eram muito mais baixas.
hoje estes jovens vivem num limbo entre o passado dos pais com que nao se identificam e um futuro num país onde nasceram mas que nao os abraça como filhos!
um problema resultante da "co-aculturaçao" mal gerida pelo país acolhedor!

8:31 da manhã  

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