atchim 2
Há uns dois ou três dias, no regresso a Braga, entrei num comboio na estação de S. Bento, no Porto, e nisto, toca o meu telefone. Atendi e era uma velha amiga que me contactava a propósito de uma série de iniciativas sindicais – com o governo que temos, o tempo está mais para estas coisas – que vão decorrer nos dias mais próximos. Como o som que lhe chegava lhe parecesse estranho, perguntou-me o que é que eu tinha. Disse-lhe que estava no comboio, e que assim e que assado, e ela disse-me que era a minha voz que estava estranha. E disparou: estás doente? Disse-lhe que sim, que estava, mas só um bocadinho, quase nada. O comboio, que entretanto já partira, parou em Campanhã, creio, e encheu-se ainda mais de pessoas. Já não havia espaço para mais ninguém. Com a inundação humana segurei-me conforme pude a um varão central (parecia uma bailarina exótica numa casa de alterne qualquer, eu e o varão, os dois em perfeita sintonia), aguentei o tsunami humano, e expliquei-lhe que estava um pouco engripado. Sem pensar, disse-lhe – para ter graça – que devia estar com a gripe das aves. Num ápice fez-se uma clareira à minha volta. Dezenas de pares de olhos viraram-se na minha direcção e eu acreditei, por momentos, que podia ser expulso da carruagem, antes mesmo dele parar em Contumil. Dei graças a Deus por as janelas não abrirem como as janelas de antigamente e resolvi desanuviar o ambiente. Que devia ter apanhado a gripe por dormir com um edredão de penas infectado, quase berrei para que não sobrassem dúvidas de que estava na galhofa, e que é preciso ter cuidado com as almofadas e com os kispos cujo enchimento é feito com esse material, penas, e que assim e que assado. A calma parece ter voltado a instalar-se, ou então foi porque chegámos a Rio Tinto e a seguir a Ermesinde, e nestas estações, o comboio, normalmente, fica a meia lotação, se não a menos.
Conclusão:
Com o pânico que se está a instalar, o melhor mesmo, é termos cuidado com o que dizemos, mesmo que queiramos ter graça, que o tempo não está para brincadeiras.
Conclusão:
Com o pânico que se está a instalar, o melhor mesmo, é termos cuidado com o que dizemos, mesmo que queiramos ter graça, que o tempo não está para brincadeiras.
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