terça-feira, novembro 22, 2005

atchim 4

Terminou carreira, este domingo, no Teatro S. João, o espectáculo ELLA. O dramaturgo Herbert Achtembusch foi quem escreveu o texto, Idalina Aguiar de Melo traduziu-o e Fernando Mora Ramos representou-o fantasticamente. Na ficha técnica e artística constam ainda os nomes de Isabel Lopes (que foi a responsável pela Dramaturgia e que, igualmente, dirigiu os ensaios) e José Carlos Faria (o habitual cenógrafo do Teatro da Rainha, sedeado nas Caldas da dita cuja, a estrutura que tratou da produção desta reposição, - que de uma reposição se trata - originalmente realizada pela Escola da Noite, de Coimbra, a propósito da Capital Nacional da Cultura. Ou seja, em 1993, creio).
Para lá de dizer que se tratava de um fantástico trabalho teatral e de uma fantástica interpretação, queria chamar a atenção para a problemática, outra vez, do terror em que vivemos com a hipótese de sermos contaminados com a gripe das aves.
Importa dizer que o espectáculo é uma espécie de monólogo, apesar de estar presente, mas sem voz, uma mulher – Mora Ramos chamou-lhe, algures, um binólogo -, uma vez que apenas é dado voz/texto a um homem que disserta sobre a vida, (a sua ou a de alguém, a mãe?), que se veste como uma mulher (de quem guarda algumas recordações) e que, voilà, vive num galinheiro. E lá tínhamos no cenário a rede, os instrumentos por onde bebem as galinhas, os sacos de ração, as penas espalhadas pelo chão, etc. Na primeira versão, que eu não vi mas que me contaram, integravam o elenco do espectáculo, (para além do Fernando Mora Ramos e de Amélia Varejão, que nesta versão é substituída pela actriz Clara Joana), duas bonitas galinhas. Dizem-me que tinham uma participação muito interessante, dialogavam com o actor, mexiam-se muito bem, não falhavam nenhuma marcação, eram, em suma, o cúmulo do profissionalismo. Para além de muito jeitosas, não sei se já o tinha escrito. Duas bombas. Nesta reposição as galinhas desapareceram, despedidas sem apelo nem agravo. Em entrevista não sei a que jornal, o Fernando falava da tristeza que se apossara dos galináceos, (do abatimento experimentado, de depressão mesmo), quando lhes foi dito que, por razões de saúde pública, eram afastadas do palco e da vida que tinham recém-abraçado com as suas asas generosas. Ficaram, com este despedimento, sem as benesses que a sua condição de estrelas lhes tinha proporcionado: nada de cabeleireiros, spa, massagens, solários, etc. Consta que estão, desde esse fatídico momento, a anti-depressivos, e que não se lhes vê sinais de recuperação.
Ao invés de A Fuga das Galinhas, tivemos na produção de ELLA, O Despedimento das Galinhas. Sem justa causa, digo eu.
Já não há Direito.
E o Sindicato não faz nada?