o natal dos hospitais
Acho que primeiro foi o Jornal de Noticias quem, altruisticamente, começou com a iniciativa. Depois a televisão – a única que existia, a da taxa – começou a transmitir o espectáculo em directo. Eu lembro-me de alguns, na minha infância, quando a TV era coisa inusitada ainda, havia-as nas montras das lojas de electrodomésticos, apenas, e em alguns cafés. Em minha casa entrou, já muito tardiamente, uma em segunda mão, acoplada (ou vice-versa) a um estabilizador de corrente, ou porque era necessário ter todos os cuidados com o objecto, ou porque, pura e simplesmente, fosse indispensável à recepção, não sei. Do que me lembro nitidamente, é da excitação com que se seguiam os artistas na ordem de apresentação do espectáculo, do menos cotado para o mais conhecido.
Agora, sem querer ser má-língua, as transmissões são coisas inúteis, às vezes contraproducentes mesmo. Se o doente já estava mal, depois da longa série de pimbalhices a que são sujeitos, arriscam-se a um tempo de convalescença ainda maior que o previsto. Eu vi-os, aos doentes, a assistir à coisa. Alguns, acamados, sem poderem dar de frósques, tiveram que aguentar a verborreia dos apresentadores, as mensagens natalícias, as actuações indescritíveis. Outros estavam lá porque não tinham mais nada para fazer. Acredito que alguns estavam lá obrigados, que eu bem lhes via nas caras o horror do momento. E depois ainda havia o pessoal médico, com gorros vermelhos enfiados até às orelhas, felizes da vida pela fuga à rotinha, sem rondas para cumprir, injecções para dar (aguentem lá um bocadinho, porra, que hoje é o natal dos hospitais…), febres para medir, ou algálias para renovar. Nós em casa (pelo menos eu) doentes como os demais ou então não estávamos ali, a fazer zaping, claro, mas a passar pelo canal de vez em quando, para ver quão baixo eram capazes de descer. E depois havia os artistas emprateleirados que, de borla, paciência!, apareciam na montra da televisão, pode ser que alguém veja e os contrate. Claro que também havia os bem intencionados, mas de boas intenções está o inferno cheio, não é assim que diz o povo? Finalmente, as televisões, que por tuta e meia, encheram uma data de horas as suas emissões, sem gastar cheta.
Para o ano há mais.
Agora, sem querer ser má-língua, as transmissões são coisas inúteis, às vezes contraproducentes mesmo. Se o doente já estava mal, depois da longa série de pimbalhices a que são sujeitos, arriscam-se a um tempo de convalescença ainda maior que o previsto. Eu vi-os, aos doentes, a assistir à coisa. Alguns, acamados, sem poderem dar de frósques, tiveram que aguentar a verborreia dos apresentadores, as mensagens natalícias, as actuações indescritíveis. Outros estavam lá porque não tinham mais nada para fazer. Acredito que alguns estavam lá obrigados, que eu bem lhes via nas caras o horror do momento. E depois ainda havia o pessoal médico, com gorros vermelhos enfiados até às orelhas, felizes da vida pela fuga à rotinha, sem rondas para cumprir, injecções para dar (aguentem lá um bocadinho, porra, que hoje é o natal dos hospitais…), febres para medir, ou algálias para renovar. Nós em casa (pelo menos eu) doentes como os demais ou então não estávamos ali, a fazer zaping, claro, mas a passar pelo canal de vez em quando, para ver quão baixo eram capazes de descer. E depois havia os artistas emprateleirados que, de borla, paciência!, apareciam na montra da televisão, pode ser que alguém veja e os contrate. Claro que também havia os bem intencionados, mas de boas intenções está o inferno cheio, não é assim que diz o povo? Finalmente, as televisões, que por tuta e meia, encheram uma data de horas as suas emissões, sem gastar cheta.
Para o ano há mais.
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