quinta-feira, abril 15, 2010

feiras: romanas, barrocas e de livros

Há umas semanas, num dos meus posts, escrevi acerca da hipótese da Feira do Livro de Braga poder passar a ser feita, conforme proposta do Henrique Barreto Nunes, no centro da cidade e ao ar livre. Manifestei a minha concordância, mesmo sabendo dos condicionalismos meteorológicos que, assim à partida, me parecem ser os únicos entraves a uma bem sucedida mudança. Numa votação na Assembleia Municipal, creio, foi aceite a proposta, mas apenas no próximo ano. Este ano, portanto, – aliás, já está anunciada e tudo – a feira ainda decorrerá no Parque de Exposições de Braga.

A propósito dessa mudança, manifestei na ocasião as minhas mais profundas dúvidas acerca da pertinência, enquanto acontecimento cultural (como também se quer fazer passar), da montagem da chamada Feira Romana. E isto a propósito de uma outra proposta, negligenciada pela Assembleia, da criação de uma Semana do Barroco.

Na verdade, a Feira Romana tal como acontece em Braga, poderia ser realizada, sem perda de grande significado, noutro sítio qualquer, como o é de resto. E esse facto, entre outros, é suficiente para que eu me pergunte da sua pertinência. Meramente no plano cultural, diga-se. Não basta a Braga ser a Roma portuguesa, para que a coisa faça mais sentido aqui do que noutro sítio qualquer. Trata-se de uma organização derenraízada, mas com potencial. É apenas mais uma feira sem significado especial, eu diria que uma oportunidade desperdiçada, apesar de ser erguida sobre ruínas romanas, em cima de montanhas de história, mas que o presente tende a lançar para trás das costas, como se esse passado constituísse qualquer ameaça aos presentes risonhos que se vão construindo por sobre as suas ruínas.

Não se sente por parte das instituições nenhum esforço de programação especial no espaço temporal de vigência da feira. A própria feira foi entregue a uma lógica absolutamente comercial, desligada da realidade cultural, que lhe poderia fornecer a mais valia de que ela necessita. No fundo, é apenas mais um negócio, que não sei se muito interessante se não, para um conjunto de pequenas ou médias empresas, construídas com este exclusivo objectivo, e que trabalham na área no entretenimento nomadista. A esmagadora maioria destas empresas tem sede em Espanha, onde estas manifestações têm um peso e uma importância diferente e, porventura, terão um enquadramento distinto.

O que é que era preciso fazer para melhorar este produto? Vontade, por um lado, e capacidade de intervenção, por outro.

Mas nem uma coisa nem outras estão à venda numa feira. Tão pouco numa feira romana.