quinta-feira, março 04, 2010

história de uma separação anunciada

Era mais ou menos um fim anunciado.

Como em qualquer coisa que se começa, aliás.

O que se inicia, também – irrevogavelmente – de desínicia.

Não há princípio que não pré-anuncie um fim, mesmo que seja princípio ainda (inocente e casto e ingénuo e profundo) de uma outra coisa.

Não há vida a que não se adivinhe a morte. E sem necessidade de recurso a grandes dotes de adivinhação. É a regra número um, ou uma das primeiras.

O que não se sabe, e esse e um dos mistérios mais estimulantes, é quando acontecerá o desenlace; quando é que uma coisa desagua na outra.

Este arrazoado todo, lapalissiano, para chegar à notícia da rescisão por mútuo acordo, (segundo reza o comunicado do conselho de administração do teatro circo), entre esta estrutura e Paulo Brandão, o até agora designado programador, ou mais pomposamente dito, director artístico.

Como em tudo na vida, o desenlace era esperado. E era-o tanto mais – e não apenas pelas razoes obvias que deixei explícitas na introdução – quanto se sabia da dificuldade de convivência entre os gestos partilhados de programar e de administrar. Notícias constantes davam conta das muitas tensões instaladas, que deixavam à mostra, neste e naquele momento de maior tensão, posições inconciliáveis, fissuras para que não se adivinhava cura. Essas tensões, de tão óbvias – os sinais eram muitos, convenhamos – faziam prever um desenlace mais rápido do que de facto aconteceu. Mas não! A relação aguentou-se muito para lá do que eu, e tantos, no melhor dos mundos, poderia imaginar como possível, revelando uma capacidade incrível para suportar o insuportável, e que me leva, nesta hora de separação, a parabenizar os protagonistas.

Há quem diga, (as más línguas), que na base desta capacidade desconhecida terá pesado um particular item no contrato do programador, onde era definida uma equação qualquer que resultava uma cláusula de rescisão quase ao nível do mundo futebolístico e que, essa, terá sido uma das razões para que, o desenlace que agora se anuncia, não tivesse já acontecido.

Convenhamos: eu não conheço o contrato, era o que faltava, logo não posso confirmar que isso seja verdade. E quero até pensar, com uma genuína crença, que os protagonistas terão conseguido conciliar as suas divergências, no pressuposto do serviço dos cidadãos, e do acesso aos bens culturais performativos – no caso – a que esses cidadãos têm direito, nomeadamente aos que o teatro circo programa ou deveria programar. E que a programação e a administração daquele equipamento, terá sido realizada nesse pressuposto. Ainda que ache que sem dinheiro não há palhaços e que esse terá sido – é-o sempre – o primeiro problema com que qualquer programador se confronta, e a razão para as mais acirradas discussões. No caso do bracarense, associe-se a isso uma visão antagónica, em conflito, do acto de programar (e de facto, diferentes programações) e teremos um cenário onde qualquer relação é difícil.

O que é facto, é que o teatro Circo está agora sem programador, ou director artístico.

O que e que vai acontecer a seguir?

Da minha parte, mesmo não acompanhando a programação do Paulo Brandão, e apesar de, do que conheço dela, a achar deficitária em muitos aspectos, aqui e ali desequilibrada até para aquilo que considero um efectivo serviço público, quero agradecer-lhe o esforço e desejar-lhe melhor a sorte em próximas tarefas.

E, finalmente, esperar que qualquer decisão seja tomada a pensar no bem comum, e nunca, no bem particular de quem quer que seja, que disso estamos mais ou menos fartos. Embora os resultados eleitorais tardem em afirmá-lo.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá caro (ou barato?). Boa estreia, parte uma perna. Conheces a peça, essa mesma que não paga a ninguém. RM da CTB. Também ardes, tu. Ou não há coragem de chamar os burros pelos nomes...

7:26 da tarde  

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