segunda-feira, janeiro 11, 2010

sem calças

Por acaso estava lá muito perto e, contudo, não vi.
Dir-se-à em meu abono que não podia ver. Primeiro, porque não andei de metro nesse dia; Segundo, porque nem sabia de tal comemoração. E mesmo que o soubesse, não era previsível que, com o frio que fazia, a coisa se mantivesse.
Fazia um frio de rachar, e isso descobri-o logo de manhã, quando depois do pequeno-almoço, é costume eu sair para beber um café matinal, daqueles que se bebem em sítios chamados Cafés, onde as pessoas param, e se sentam, e falam… e, no meu caso, onde leio jornais e tomo notas de coisas que acontecem no mundo e, também, decoro palavras que um dia – esperança eterna – hei-de dizer como se fossem minhas.
Ora, dizia eu, que nessa viagem matinal, curta, percebi o frio que andava por aquelas paragens. Mal percorri os caminhos conhecidos, aconchegado o estômago com o cafezinho e o espírito com as leituras, regressei ao quentinho do hotel.
(Ora, estamos quase a chegar onde quero.)
O hotel em que me instalaram, está perto do teatro onde, todas as noites, trabalho no arame. Por isso, faço o caminho que os separa, a pé. De tal modo estão perto um do doutro, que nem dá tempo para que me canse. Mais uma razão para não andar de metro e, por isso mesmo, não ter assistido à coisa.
Acresce ao facto de, no dia anterior, ter trocado a tarde de sol por uma noite artificial, fechado num teatro a ver um ensaio que se prepara para ser espectáculo – e que boa escolha fiz. Assim sendo, gasto o tempo com teatrices, tinha algumas coisas concretas para fazer, preparar o regresso a casa, arrumar as malas, etc. Não saí do hotel, pronto. E quando o fiz, à hora de almoço, para a matiné, chovia. De Braga chegava-me a notícia da queda de neve. Pouca, mas alguma. Em Lisboa não. Só chuva e frio.
Mas a notícia chegou-me, atrevida, já eu regressava a Braga no comboio da noite: cerca de 120 pessoas, mais pessoa menos pessoa, resolveram comemorar o «dia sem calças» e, vai daí, no metro, viajaram em roupa interior, para espanto dos habituais clientes. Não se atreveram a vir à superfície, que como disse estava um frio danado e, lá em baixo, sempre estava mais quentinho, que isto de andar com as pernas ao léu não é para qualquer um.
Já por alturas do natal, na TAP, os passageiros foram surpreendidos por uma manifestação de dança em plena aerogare.
Este tipo de manifestações gera alguma dinâmica e atrai as atenções, mesmo que apenas das pessoas envolvidas e das apanhadas desprevenidas porque estão na órbita do acontecimento, mas a ampliação que delas faz os órgãos de comunicação social, mormente as televisões, merece a atenção de quem estudo estes fenómenos.
Que se vivem tempos onde a lei é ditada pela TV, é um facto. Até que ponto isso empobrece a nossa vida, é uma constatação que faço mesmo sem régua para medir essa descida nos infernos. Mas, de algumas vezes, as TV’s também são capazes de servir causas. Não digo que esta seja uma dessas vezes (não creio que viajar de metro sem calças seja um desiderato positivo para a sociedade portuguesa), mas sinaliza, pelo menos, essa possibilidade.
No domingo comemorou-se o DIA SEM CALÇAS.
Eu vi, e foi na net. E é disso que eu agora falo. À laia de exemplo.


http://www.youtube.com/watch?v=9La40WwO-lU
http://www.youtube.com/watch?v=bXB_DcuMv_E