sexta-feira, outubro 23, 2009

os pê pês que há neles

De «Calote político», acusou o ministro da agricultura, Jaime Silva, o seu principal opositor, a sua outra imagem do lado inverso do espelho, o autentico ministro sombra da lavoura, Paulo Portas. «Calote político». Eu não sei o que seja, mas deve querer dizer alguma coisa, e qualquer coisa embaraçante, sim, das duras, das difíceis de digerir. Tanto que Portas não gostou do epíteto. «Calote político»? E, como é inteligente, percebeu. Calote, penso eu, é, por exemplo, não pagar o que se deve. Portas, não terá pago, deduzo então, na palavra ainda ministerial, o preço político de alguma coisa. E no caso, alguma coisa relacionada com a agricultura ou as pescas, porque era isso que estava em equação. Vai daí, afinou. Pudera. E com requintes, preparou-lhe, em lume brando, uma acção em Tribunal. Como nestas coisas jurídicas ou judiciais, é necessário um advogado, Portas recorreu ao melhor. Isto a crer nas suas palavras. Para o representar na querela, Paulo Portas escolheu o advogado (tan-tan-tan-tan) Garcia Pereira. Ficaram pasmados? Não fiquem, porque uma coisa é ser-se político, outra bem diferente, é ser-se cidadão, com direitos e deveres. Nada de anormal, portanto. Garcia Pereira é advogado, e dos bons, consta… Ora, foi a sua opinião jurídica que foi consultada, não a sua opinião política. Essa é que parece, na palavra dos dois, coisa inconciliável.
Adiante.
Mesmo não sendo para aqui chamada, a coisa política – politicamente - fia mais fino, porque se sabe, e é isso que é o mais interessante nesta história, é que Paulo Portas é o líder do CDS-PP, e Garcia Pereira é o porta-voz e principal dirigente do directório do MRPP. Um é de direita, Paulo Portas; o outro é de esquerda, Garcia Pereira. Mais: um é de extrema-direita (não sei se se pode dizer assim, mas creio que hoje, consabidamente e assumido pelos próprios, o CDS já não é do centro – se é que o foi em algum momento – mas sim de extrema direita), e o outro, de extrema-esquerda, ainda que alguns teimem em chamar-lhe sociais-fascistas. O que é que os unia? O que é quem em tempos os uniu politicamente? O mesmo que os continua a unir: o PP da sigla. A seguir ao nome de um, CDS; e a seguir à metade inicial do nome do outro, MR. Cê dê esse, PÊ PÊ, lá está, e éme erre PÊ PÊ. Num e noutro, PP, que é a volta que o mundo dá, o mundo político, em direcção à mesmíssima coisa.
Convenhamos: o que a política separa, une o interesse profissional. Mantém-se a relação típica: o patrão continua a ser do CDS, e o trabalhador do MRPP. Há coisas que nunca mudam. Arnaldo Matos, o grande educador da classe operária, é que tinha razão. Garcia Pereira é que parece não ter lido a mesmo cartilha.
É curioso. Mas só isso.
«Calote político», disse o ministro. No meio de tanta asneira e incapacidade, Jaime Silva algum dia tinha de ter razão.