quarta-feira, outubro 07, 2009

do armamento:

A indústria dos tirinhos está pela hora da morte. Não aquela, da Feira Popular ou quejandas, mas a verdadeira, a dos tiros a sério, a dos que têm o homem na mira, como alvo a abater.
Talvez seja mais correcto dizer que a indústria dos tiros sempre esteve pela hora da morte. Pois se é disso que ela vive. Da morte. Esse é o seu primeiro propósito. Se não esse, exactamente esse, (porventura, os mais líricos, sonham com revoluções sem tiros, com cravos em lugar de balas), pelo menos a sua consequência mais óbvia.
Florescente, é o mínimo que se podia dizer dessa indústria. Ao longo dos tempos, substituíram-se as armas mais antigas por outras mais sofisticadas, cada uma, um passo à frente da outra, no que toca à capacidade de matar: o pau primeiro e, depois dele, as mocas; as pedras e, depois delas, as pedras afiadas; as lanças e a seguir as espadas; os arcos e flechas e, depois deles, as bestas; as pistolas e, depois delas, os canhões; as espingardas, e a seguir, as metralhadoras; os mísseis, e depois deles as bombas complexas; etc. À boleia dessa indústria, ofereceram-se empregos a dezenas de milhar de pessoas. E apesar de ser a morte o desiderato dessa indústria, também estava, nesse gesto industrial, um esboço de vida, um desenho de futuro. É a permanente história das coisas que, raramente são unicamente o que são, porque uma coisa é sempre algo mais para além de si mesma, muitas vezes eco de si própria, voz e gesto devolvidos pelas montanhas e, muitas vezes, o contrário do que parecem e são. Tantas vezes elas são o inverso da razão porque foram criadas, mesmo que não neguem a sua essência. Como no caso das armas.
Adiante.
O que é facto é que, onde aparentemente não se vislumbrava a possibilidade de um negócio dar para o torto (como no caso do fabrico de armamento), pode acontecer – pelo menos em tempos de crise – a maior aberração.
Como esta, de agora se saber que a mítica metralhadora kalashnikov, estar à beira da falência.
E que razão haverá para estar a célebre AK-47 a passar as passas do Algarve?
Duas razões, pelo menos:
A primeira delas, por estar em risco a mítica Izhmash (a empresa que fabrica as metralhadoras), é por não conseguir – ou não querer – pagar as dívidas a fornecedores, mormente a um deles, que reclama o pagamento de 13 milhões de dólares.
A segunda delas, é porque se calcula que, por cada metralhadora original, se façam, actualmente, pelo menos dez cópias, em países como a China, a Polónia e a Bulgária.
Assim, a metralhadora que fez história na Rússia e em tantas revoluções espalhadas por todo o mundo, pode ir desta para melhor.
Em tempos de guerra não se limpam armas; em tempos de crise, já nem a indústria do armamento está a salvo.