terça-feira, dezembro 08, 2009

magalhães

A pantanização crescente da política portuguesa, leva a que todas as desconfianças sejam possíveis, mesmo as que aqui há uns tempos eram impensáveis, fora de lógica, profanas mesmo.
Os casos sucedem-se a uma velocidade tal que, tantas vezes, o que primeiro se estranha, logo se entranha, como na velha publicidade à cola-cola, inventada por Fernando Pessoa. E já agora, lembro que o espólio do poeta estará disponível on-line durante o ano que se apresta para entrar. Isto é que é uma boa notícia.
O primeiro-ministro, e isto para voltar ao assunto que aqui me traz, vai de escândalo em escândalo, navegando à bolina, numa demonstração de capacidade de sobrevivência digna de registo. Por muito menos, já tantos ministros e primeiros-ministros caíram, aqui e em outros lugares da terra. Mas Sócrates não, aguenta-se estoicamente, mesmo que fique despenteado na fotografia.
Ora - e não serei eu a fazer justiça antecipada e na praça pública – li algures que devemos desconfiar de alguém que se martiriza a tal ponto, sacrificando a vida privada e a honra pública, logrando arrostar com os horrores da difamação em prol do que a sua presença faz ao bem comum, à política, ao partido (o seu) e a Portugal. Devemos desconfiar – e não sou eu que o digo, já o escrevi – dos que pensam que são essenciais para o que quer que seja e que são escolhidos sabe-se lá por quem, para fazer o bem público. No fundo, devemos desconfiar dos que se acham Messias. Esses são os mais perigosos.
O nosso primeiro-ministro está envolvido em tantos escândalos que já lhe perdemos a conta. Nem vale a pena puxar pela cabeça, para os recordarmos, que eles saltam na memória como pipocas. Alguns eram tão vis, tão mesquinhos, tão baixos, que nem vale a pena trazê-los aqui à colação. Como aquela história que enfatizava o seu putativo interesse sexual diferente da norma (mas hoje, sabe-se lá qual é a norma) como se isso fosse coisa que devesse interessar ao cidadão. Já outras, reportando-se à sua acção profissional (primeiro como estudante da Universidade Moderna e, depois, como engenheiro encartado numa câmara do país), traziam preocupação porque deixavam transparecer, ou uma campanha orquestrada, ou a sua indisfarçável tendência para o desvio compulsivo.
E depois, já enquanto governante, os casos sucederam-se.
Este último, que mesmo que ainda não o sendo já mostra ter todas as condições para se tornar em mais um cavalo de batalha, pode revelar-se mais gravoso que o chamado Caso Freeport. Que, como se sabe, não é carta fora do baralho. Nas próximas eleições voltará à liça, que este é um caso para durar e aparecer de quatro em quatro anos. Refiro-me ao Caso Magalhães e a uma Fundação Estatal para as comunicações, que não se sabe bem como funciona e se funciona e onde funciona, e que tem todos os condimentos para apimentar mais uma polémica galvanizadora. Isto a crer na atenção das oposições.
Estará o primeiro-ministro disposto a mais este sofrimento, martirizando-se por todos nós? Ou, cansado, provoca novas eleições?
Nesse caso lá chegará mais um episódio do Caso Freeport. É certinho.