segunda-feira, fevereiro 08, 2010

encrespados

A relação do governo com a comunicação social é, como se sabe, coisa difícil e, em muitos casos, conflituosa. Os casos avolumam-se, umas histórias a seguir às outras, coisa continuada, que deixa lastro, que valoriza as outras (tantas) histórias, que se adivinham como sendo as próximas, e que as pré-justificam.
Como, por exemplo, no caso da honorabilidade do primeiro-ministro.
Na verdade são tantas as pequenas e as grandes narrativas à volta da personagem, ou dela directamente dependentes, familiares até, (tio, mãe, primos direitos, já nem falando dos amigos dilectos), que cada uma (história) que chega e novo, já se entende por coisa normal ou, se não normal, pelo menos na sequência do que se vai entendendo como uma normalidade, e nem por um momento nos inquietamos, para lá do estremecimento inicial, óbvio. Exactamente como se as histórias conhecidas (sejam elas verdadeiras ou inventadas... creio que nunca o saberemos) fornecessem sustentação e credibilidade às histórias que chegam. ‘Credibilidade’, entre aspas, porque aqui usada na medida da coisa esperada, espectável.
São coisas precedentes, histórias que dão espaço a outras, uma espécie de comboio que se percorre por dentro, uma carruagem a seguir à outra, até que por fim se chega à carruagem bar, objectivo da caminhada volante. Pode-se estar mais perto ou mais longe dela, da carruagem-bar, e por força dessa distancia, sofrer-se mais ou menos com a sinuosidade da micro-viagem cambaleante. Que mesmo a carruagem-bar não é o objectivo último. O que interessa é o café que lá servem, o queque, ou outra coisa qualquer. Com as histórias do foro mais ou menos privado do primeiro-ministro, é assim mesmo.
Ou como com as histórias da relação do governo com a comunicação social. Uma historieta dá lugar a outra, e assim sucessivamente. Anormal é o silêncio prolongado, a falta de episódios para fazer prosseguir a acção da história. Desta vez, é a história de um encontro escutado num restaurante onde o primeiro-ministro e mais uns quantos governantes e agentes televisivos, estudavam uma metodologia qualquer para fazer saltar da roda dentada da governação, um grão de areia chamado Mário Crespo. A conversa terá ido parar a ouvidos revoltados numa mesa ao lado, e terá sido contada ao jornalista. E antes de se sentir tolhido, Mário Crespo verteu toda a história na net, uma vez que o JN se terá recusado publicar o artigo de opinião onde Crespo se encrespava e contava a sua versão.
Não se questionará, estou certo, a veracidade da notícia. Ou sim, mas também que interessa isso? O que se sabe é que, uma vez mais, Sócrates estará na ribalta da nossa atenção, bem iluminado e muito perto do teleponto. Aliás, o sítio onde ele sempre sonhou estar. E onde tem prazer em estar.
Verdade ou mentira, é questão para outras démarches. Quem ganha e quem perde é o que saberemos um dia. Se algum dia o viermos a saber. Mas isso também, que importa?