segunda-feira, abril 02, 2007

Vai um tirinho, freguês?

Há dias assim. Há dias em que por mais que nos esforcemos, nada nos pode correr bem. Parece que o mundo vai desabar em cima de nós, aconteça o que acontecer, façamos nós o que fizermos. E é nessas alturas, em que o desespero pode a qualquer momento tomar conta de nós, que a dúvida nas nossas capacidades se pode instalar de forma definitiva, quando tentamos encontrar resposta para os nossos problemas, razões que amaciem a nossa desilusão, é nessas alturas que estamos prontos para fazer as maiores descobertas, construir as melhores desculpas que, de tão esfarrapadas, até parece poderem ser coisa verdadeira.
Então não é que, um destes dias, quando o exercito português preparava e experimentava um exercício que, a acreditar na notícia que li num jornal diário, é coisa rotineira, perante resultados disparatados de tão exíguosa ou mesmo inexistentes tamanho era o fracasso, toca de inventar uma desculpa credível. Na verdade, o que estava a acontecer era a operação designada por Relâmpago 07. Ora, nestas coisas militares, o melhor mesmo e arranjar um nome assim a deitar para o heróico, uma piscadela de olho ao cinema, que é para a coisa ficar mais apetitosa. Pois a operação relâmpago 07 consistia em disparar dez mísseis terra-ar de curto alcance, e importa esclarecer que os mísseis têm um nome no mínimo estranho, chamam-se Chaparral, embora sejam de fabrico americano, datados de 1990. Coisa, portanto, já com 17 anitos. Quase a maioridade. Daqui a uns tempos, tivessem ele permanecido sossegaditos, vá lá, à sombra de um chaparro a sério, e já poderiam votar. E Chaparral, imagino eu, deve ser o nome com que os militares tugas os baptizaram… não estou a ver os americanos a chamar chaparral a um míssil, por muito lento que ele ameace ser.
E estava-se naquilo, na Marinha Grande, preparar, fogo e lá vai disto… Dez vezes. Disparados os dez tiros, fazem-se, por fim, as contas. Olé: nem um único tirinho acertado? Não pode ser. Verificam-se os alvos cuidadosamente, e nem beliscadura. Que nunca tal aconteceu, disseram os chefes militares. E toca a encontrar respostas, ou desculpas, para tão estafados resultados. Pouca mira dos militares que dispararam os supositórios? Nada. Qual quê. Cálculos mal efectuados? Ora essa, que possibilidade mais descabelada. A culpa, meus senhores e minhas senhoras, disseram os chefões, fora dos alvos. Que, desconfiavam, já não estavam bons, Que os alvos prescreviam este ano, disseram, e as ondas de calor que emitiam, já não eram suficientes para guiar o supositório de curto alcance. E mais disseram: falhou o espectáculo, mas valeu o treino.
Mas que treino?
Vai um tirinho, freguês?