terça-feira, dezembro 05, 2006

cê tê tê

«Levar a carta a Garcia», é adágio que não se cumprirá durante uns valentes dias.
Em época de férias, já se sabe, é sempre a mesma coisa. É a mesma cantiga de todas as vezes. Mas, desta vez, as razões para o não cumprimento do contratado entre aquele que envia a epístolazinha e o que tem a incumbência de a levar ao seu destinatário, independentemente de ser azul ou esverdeada, não são os mesmos do costume.
O que manda a tradição é que, apesar dos telemóveis e, principalmente, a net, terem pulverizado todos os hábitos de comunicação à distância, (eles vieram, definitivamente, alterar os hábitos ancestrais do homem, em enviar cartas e postais aos seus familiares e amigos, - em épocas precisas, festas principalmente, a verdade é que os hábitos estão a caír de desuso, e agora escreve-se cada vez menos. Pelo menos pelas vias tradicionais), continuamos a fazer uso dessa ferramenta fantástica cheia de história. Em épocas, como dizia, especiais, tais como o Natal, por exemplo, que é o tempo que se apróxima, continuamos a cumprir a tradição de escrever belos postais e enviar, com a força da nossa caligrafia mais ou menos cuidada, o calor dos nossos desejos, imensamente repetidos, de votos de felicidade. Por força dos feriados, das férias e do acréscimo do trabalho necessário em distribuir a correspondência, (a que há, e que ainda é muita), ela chega com um atrazo normal aos seus destinatários. Nada de que não estejamos habituados. E preparados, até. Por isso escrevemos antes da hora, já a pensar no que aí vem.
Mas o que vai acontecer por estes dias, (já aconteceu, aliás - A GREVE -, mas as suas repercuções práticas senti-las-emos neste futuro proximo), é mais uma manifestação de desconforto de uns quantos portugueses, perante o patrão-mais-ou-menos-estado (que é o pior que pode acontecer a um trabalhador: ter um patrão que não se sabe muito bem quem é, ou sabendo-o, sabe-o testa de ferro de uma outra organização que, por conforto de uns quantos aparelhos instalados, não diz ser, evita mesmo sê-lo, desdiz-se, nega-se, e o galo já vai em meia dúzia de cócórózadas, e o dia ainda está longe de terminar, não é Pedro?).
Os trabalhadores dos CTT estiveram em greve e nesta altura, há a habitual discussão do nível de adesão, sendo que os sindicatos juram que foi na ordem dos setenta por cento, e a entidade patronal afiança (eu seja ceguinho, ouve-se) que não passou os vinte e oito.
O que se sabe (1), é que vai ser um trinta e um para receber os postalinhos a que temos direito;
O que se sabe (2), é que os trabalhadores dos correios de portugal são mais uma força que vem publicamente manifestar o seu desconforto perante o estado a que as coisas estão a chegar, na vida portuguesa.
Não ver isto, é não ver um boi à frente dos olhos.
Ou melhor: é não ver um envelope do tamanho de portugal, à procura de uma caixa postal que nunca mais aparece. Uma carta portuguesa, com certeza, que, encarecidamente, pede uma carta de resposta.
Mas essa carta (à atenção do Estado Português) não deve ser escrita antes de ser lida a primeira. Sob pena de falar de alhos, quando o que está em causa, são bogalhos.