Uma longa viagem com Álvaro Cunhal - o livro
Este sábado, na Cooperativa Árvore, no Porto, fez-se o lançamento (e a apresentação) do livro «Uma longa viagem com Álvaro Cunhal», do jornalista João Céu e Silva, pelas edições ASA e pelo editor Cruz Santos. Originalmente, disse, este era para ser apenas mais um trabalho jornalístico. Rapidamente a abordagem, (que era para ter oito páginas), tal o volume de trabalho rapidamente desenhado, e o entusiasmo, passou – apesar do pânico do autor encarregado desta matéria – para um longo dossier de 46 páginas. Daí ao livro foi um pulinho. Trabalho de acrescentar material que não cabia no jornal, outras investigações, e eis o volume com duzentas e trinta e três páginas, por extenso.
O autor quis – só para concretizar um pouco mais – encontrar na ficção de Manuel Tiago, histórias do militante Álvaro Cunhal, ou histórias que lhe foram contadas pelos seus camaradas. Era necessário reencenar essas histórias ou pelo menos reencontrar os narradores originais ou as personagens que tivessem habitado, originalmente, essas histórias. É certo que Manuel Tiago (Álvaro Cunhal) sempre afirmou que o que escrevia se tratava de ficção, mas igualmente acrescentava (disseram-no) que era uma ficção apoiada numa realidade militante realmente experimentada.
Maria Eugénia Cunhal, irmã do histórico secretário-geral do Partido Comunista Português, esteve na sessão de apresentação do livro (tal como tinha estado em Lisboa) e coube-lhe a ela fazer o elogio da obra e abordar, um pouco, a excelência do material nela contida.
A dado passo da intervenção, lembrou uma história – que é menos conhecida, disse – passada no período retratado em «Estrela de Seis Pontas» (e que era a Penitenciária de Lisboa, um edifício com aquela exactíssima configuração arquitectónica) mas que, vá lá saber-se porquê, não consta da narrativa citada. Disse que nesse estabelecimento prisional, Cunhal conhecera um homem condenado por homicídio, e lograra estabelecer com ele comunicação, apesar da distância que os separava – Cunhal na ala dos presos políticos e o outro na ala dos presos de delito comum. Desse esforço de comunicação haveria de resultar uma descoberta muito interessante, mas nunca desvendada: o crime por que estava condenado o pretenso homicida não fora cometido por ele, mas sim pelo irmão. Ora acontecia que o irmão, o verdadeiro homicida, tinha sete filhos por criar, coisa que não se passava com o detido. As circunstâncias favoreceram o equívoco, e o logro foi alimentado no sentido da troca. Solidariedades do sangue. A pena haveria de ser cumprida por interposta pessoa ou, melhor escrevendo, por interposto irmão.
E eram estas histórias que interessavam a Cunhal. Histórias que têm o Homem como protagonista. Esta não foi contada/escrita por ele, mas aconteceu e foi lembrada por Maria Eugénia.
(…)
No regresso a casa, ontem, à meia-noite, depois de ter estado incomunicável no espectáculo UBUs no Teatro Nacional S. João – o espectáculo é uma espécie de conclave, dificilmente entra informação externa – ouvi na rádio que Manuel Alegre será candidato à Presidência da República. Anunciara-o em Águeda, nessa mesma noite. Ouvi, igualmente, que o PS, pela voz do seu secretário-geral, se apressara a reafirmar apoio à candidatura de Mário Soares.
(…)
Não sei porquê, durante toda a viagem, a história, que não chegou a ser, dos irmãos na «Estrela de Seis Pontas» não se saiu da cabeça.
O autor quis – só para concretizar um pouco mais – encontrar na ficção de Manuel Tiago, histórias do militante Álvaro Cunhal, ou histórias que lhe foram contadas pelos seus camaradas. Era necessário reencenar essas histórias ou pelo menos reencontrar os narradores originais ou as personagens que tivessem habitado, originalmente, essas histórias. É certo que Manuel Tiago (Álvaro Cunhal) sempre afirmou que o que escrevia se tratava de ficção, mas igualmente acrescentava (disseram-no) que era uma ficção apoiada numa realidade militante realmente experimentada.
Maria Eugénia Cunhal, irmã do histórico secretário-geral do Partido Comunista Português, esteve na sessão de apresentação do livro (tal como tinha estado em Lisboa) e coube-lhe a ela fazer o elogio da obra e abordar, um pouco, a excelência do material nela contida.
A dado passo da intervenção, lembrou uma história – que é menos conhecida, disse – passada no período retratado em «Estrela de Seis Pontas» (e que era a Penitenciária de Lisboa, um edifício com aquela exactíssima configuração arquitectónica) mas que, vá lá saber-se porquê, não consta da narrativa citada. Disse que nesse estabelecimento prisional, Cunhal conhecera um homem condenado por homicídio, e lograra estabelecer com ele comunicação, apesar da distância que os separava – Cunhal na ala dos presos políticos e o outro na ala dos presos de delito comum. Desse esforço de comunicação haveria de resultar uma descoberta muito interessante, mas nunca desvendada: o crime por que estava condenado o pretenso homicida não fora cometido por ele, mas sim pelo irmão. Ora acontecia que o irmão, o verdadeiro homicida, tinha sete filhos por criar, coisa que não se passava com o detido. As circunstâncias favoreceram o equívoco, e o logro foi alimentado no sentido da troca. Solidariedades do sangue. A pena haveria de ser cumprida por interposta pessoa ou, melhor escrevendo, por interposto irmão.
E eram estas histórias que interessavam a Cunhal. Histórias que têm o Homem como protagonista. Esta não foi contada/escrita por ele, mas aconteceu e foi lembrada por Maria Eugénia.
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No regresso a casa, ontem, à meia-noite, depois de ter estado incomunicável no espectáculo UBUs no Teatro Nacional S. João – o espectáculo é uma espécie de conclave, dificilmente entra informação externa – ouvi na rádio que Manuel Alegre será candidato à Presidência da República. Anunciara-o em Águeda, nessa mesma noite. Ouvi, igualmente, que o PS, pela voz do seu secretário-geral, se apressara a reafirmar apoio à candidatura de Mário Soares.
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Não sei porquê, durante toda a viagem, a história, que não chegou a ser, dos irmãos na «Estrela de Seis Pontas» não se saiu da cabeça.
1 Comments:
Podemos desistir dos nossos blogs. Mais ninguém lerá os nossos posts. Nossa Senhora Fátima também é blogonauta. Vejam
http://fatima-felgueiras.blogspot.com/
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