sexta-feira, outubro 27, 2006

hinhaughurathão tho theathro thirco com tê agás athé vhir ah mulher tha fava rica

É agora.
Esperámos anos por este momento. Quantos? Se me disserem que foram seis, eu direi que foram mais, que nos últimos tempos o espaço degradara-se de maneira a ser já outra coisa, que não a original.
Infelizmente não vou poder estar em qualquer das récitas de inauguração.
Ausente, mas presente, aqui deixo os meus votos sinceros de sucesso, muito público, boa programação e serviço público cumprido.

NOTA:
Este é um pequeno texto escrito sem agás. Foram todos para o nome com que o espaço foi rebaptizado.

quinta-feira, outubro 26, 2006

capital da cultura

A bracarense ministra da cultura, anunciou para Guimarães, em 2012, a capital europeia da dita cuja. Esta é a data mais próxima em que oferecemos à Europa, depois do Porto em 2001, uma cidade lusa, para que, durante doze meses, em conjunto com uma outra cidade europeia que creio ainda não estar designada, levantarmos tão alto quanto possível, o estandarte de cidade capital da coisa, onde a cultura, pois, a pátrea e a outra, são elevados à escala de coisa essencial.
Em Braga, e legitimamente, sofreu-se um rude golpe, ao nível do poder autárquico. Era intenção da Câmara Municipal garantir esse desiderato, e para mal dos seus pecados – que em matéria de cultura são muitos, sabe-se – essa pretensão foi insatisfeita (para não usar a forma negativa primária… sejamos misericordiosos…), apesar do enorme investimento feito no equipamento Theatro Circo, com tê agá. Sabe-se que sempre que o se junta ao agá, a coisa fica muito mais cara.
A pretensão, já o disse inúmeras vezes, sendo na minha opinião, legítima - e até poderia ser, tivesse sido aceite a candidatura apresentada, um tremendo balão de oxigénio e uma fantástica rampa de lançamento para o tudo que importa fazer nessa área, e nesse plano estariam muitas outras cidades, tão necessitadas como Braga -, também era, e reafirmo-o agora, absolutamente imoral.
Confesso que não sei para que serve uma capital europeia de cultura. No Porto, por exemplo, serviu de muito pouco, não fora os equipamentos físicos que deixou, alguns deles concluídos só este ano, o que é absolutamente incrível. Mas pronto, foram opções. Discutíveis, claro, algumas até a merecer processos criminais, funcionasse a justiça conforme a figura retratada da mulher que segura a balança, não distinguindo poderes e estando absolutamente imune a eles todos. Mas por alguma razão se chama a este, o país dos brandos costumes. E isso também é uma coisa cultural, porque endémica.
E era imoral, na minha opinião, porque Braga nada fez para merecer esse epíteto. Que receba o título, merecido, de capital europeia da urbanização, do empreendimento betanizado, dos parques subterrâneos, dos viadutos e das passagens desniveladas, do percurso pedonal mais longo, mas da cultura não fazia sentido nenhum. Ou talvez fizesse, houvesse confiança política, e se esse fosse um arranque credível para o que quer que, só por si, viesse a proporcionar no futuro.
Convenhamos: a candidatura de Braga, tal como ainda até há pouco existia pendurada na net num sítio qualquer de galhofa, era um arrazoado de lugares comuns, algumas mentiras dramáticas e excessiva ignorância misturada. Tanta que, por vezes, sou levado a pensar que, em matéria de cultura, é de má fé que se trata. Mas convencido por muitas almas, acredito que seja apenas desconhecimento. Tenhamos uma réstia de esperança na humanidade e pensemos assim.
Com a vitória de Guimarães, cidade e autarquia com trabalho efectivamente realizado na área da cultura, e distando Braga 20 quilómetros da novel capital cultural pré-anunciada, para os naturais daqui, é quase a mesma coisa e uma fantástica oportunidade para aproveitar. E com a tomada de posição do gabinete da presidência - que eu genuinamente aplaudo - de oferecer os equipamentos de que dispõe – e no que diz respeito às artes performativas, apenas é de considerar o Teatro Circo (bolas, esqueci-me do agá…) – Braga, e os seus cidadãos, pode ganhar muito com esta decisão. E com a vontade manifestada pela autarquia de Famalicão, em moldes similares aos de Braga, esta pode vir a ser uma experiência muito interessante, assim Guimarães esteja pelos ajustes. É uma espécie de Grande Baixo Minho, a garantir actividade cultural de relevância.
Mas primeiro que tudo, é necessário que se pense muito urgentemente, para que pode servir a tal capital europeia da cultura. É que não dá para errar muito o tiro, como se passou no Porto.
A próxima capital europeia da cultura em Portugal será, talvez, lá para o ano 2024.

sexta-feira, outubro 20, 2006

o povo na rua

Na semana passada, o país assistiu a duas enormes manifestações populares, realizadas, curiosamente, a poucos quilómetros uma da outra.
Primeiro, no dia 12 de Agosto, em Lisboa, uma manifestação organizada pela CGTP, fez confluir à capital, cerca de 100 mil pessoas que marcharam ruidosamente entre o Terreiro do Paço e a Assembleia da Republica. Que a vida está difícil, gritavam e essa é uma verdade difícil de contrariar. O custo de vida aumenta a cada dia que passa, o trabalho é cada vez mais precário, os benefícios sociais estão em perda dia após dia, e por isso as pessoas, apesar do medo evidente, manifestaram-se.
(De tremendo, fica-me a imagem de um homem velho, reformado por certo, que, apoiado num segundo manifestante, marchava avenida acima com visíveis dificuldades, ainda a procissão ia no adro. Mas prometia chegar ao fim. Solidários, os companheiros que o seguiam iam-lhe dando o espaço de que necessitava para não se sentir constrangido.)
Eu estive a assistir ao início da manifestação, e cruzei-me com muita gente conhecida – só de braga, viajaram vinte e tal camionetas e muitas mais poderiam ter isso, não fora o desânimo que se sente instalado em algumas almas outrora inquietas, mas que se vão conformando ao pouco que ganham, incrédulos de uma mudança que outros ainda ousam reclamar.
No dia seguinte, sexta-feira 13, em Fátima, mais uns quantos milhares de portugueses, porventura bem mais que os cem mil da véspera, participaram numa outra manifestação popular, desta feita organizada pela Igreja Católica Portuguesa. Talvez que a razão da presença de tanta gente no santuário mariano, seja parecida com a que levou aqueles cem mil a Lisboa. Talvez até, e gosto de pensar assim, que algumas das pessoas que estiveram em Fátima, tenham estado na véspera em Lisboa. Talvez, por outro lado, que algumas das que era suposto terem ido a Lisboa, desacreditadas no poder humano para mudar as coisas, tenham antes optado por viajar para Fátima, quiçá mais esperançadas nas mudanças que o divino pode operar.
Entre as duas manifestações, para além do povo anónimo e dos anseios comuns (saúde, trabalho, felicidade), há bastas coisas a separá-las. As entidades organizadoras, pois, porventura com mais meios uma que a outra. Outro aspecto que as diferencia é a metodologia utilizada: uma organização resolveu espraiar o seu povo numa marcha com alguma extensão, o que dificulta muito mais as coisas, afinal é uma multidão que está em movimento. A outra decidiu juntá-la num único local, com infra-estruturas montadas em permanência. Uma é um pouco anárquica no seu funcionamento, improvisa, e apesar da sua laicidade, funciona um pouco ao Deus dará; a outra, a que caminha para Deus, tem preocupações estéticas, um cerimonial encenado, não há cá Deus dará para ninguém, religiosa sim, mas precavida e sem deixar espaço ao acaso, ao que deus determine para aquele momento e naquela situação.
Mas tanto numa como noutra, em todas pessoas, havia a esperança num futuro melhor, para lá da passividade humana ou da expectante expectativa no além.
Como me dizia um amigo que já não via há que tempos, (depois de ter galgado a manifestação para me falar em plena avenida da liberdade), quando se despedia de mim com um sorriso largo: agora tenho de continuar a luta. Ainda há muito caminho a percorrer. E enquanto eu fiquei a pensar no duplo significado daquele caminho, ele correu para o meio da multidão, sendo engolido por ela, ele mai-la sua bandeira.
Em Fátima, as velas, talvez tão bandeiras como aquela que o meu amigo segurava, choraram de cera no dia seguinte.

uma carta não enviada convencionalmente

Exmo. Senhor Director-Geral de Viação
Não lhe escrevo esta carta, porque desconfio: primeiro, que nunca a receberia (os seus assessores dar-lhe-iam, por certo, o caminho do caixote do lixo. E porque sei que ainda não fazem a separação de lixos nessa DG, era desperdício duplo); segundo, porque se por ventura a tocasse com os olhos, pouca ou nenhuma importância lhe mereceria, cartas destas deve o senhor estar farto de receber…; e terceiro, porque iria ficar-me tremendamente mais cara a insubordinação. Assim sendo, penduro-a aqui e em outros lugares que entretanto me aprouverem.
Isto porque, condutor desprevenido, recebi esta segunda-feira, uma carta da Brigada de Trânsito a dar-me conta de uma infracção registada em meu nome, numa estrada recôndita de Barcelos. A coima é de não sei quantos euros, não interessa.
Mas, como a lei me concede a misericórdia de poder impugnar essa Autuação Rodoviária (e vou citar a notificação) ocorrida numa estrada nacional onde a velocidade máxima permitida por lei é de 50 quilómetros por hora, circulando eu à velocidade supersónica de 79 quilómetros, isto a fazer fé numa máquina que dizem ter sido aprovada na Direcção-Geral de Viação em 28 de Abril de 2003, ou seja, três anos antes do momento da autuação, o glorioso dia 25 de Abril de 2006, eu não o faço.
E assim sendo, ao abrigo da lei, não impugno civilmente esta autuação pelos motivos já aduzidos nas considerações anteriores:
1º. Estou obrigado, como qualquer condutor e proprietário de veículo automóvel, a proceder à inspecção anual do meu veículo. Não sei se o mesmo se passa com os materiais da Brigada de Trânsito, mormente essa máquina cuja identificação formal não consigo deslindar por força da caligrafia usada (o que não é crime, note-se, o agente tem letra de médico, está certo, se bem que pudesse, perante a alarvidade da autuação, receitar-me um medicamente qualquer, aspirinas, por exemplo). Como confiar numa máquina cujo desgaste de três anos não é averiguável, ou pelo menos não o é publicitadamente na notificação que me foi enviada?
2º. Esta dúvida é tanto mais válida quanto consabidamente sou um condutor zeloso das regras e cujo cadastro rodoviário fica agora manchado por uma a(c)utuação que, com o respeito que me merece a direcção-geral de Viação, foi efectuada (e esta é uma dedução, mais uma que faço, por me ser estranha a distância temporal a que ela me remete) de forma perversa, e que me nega o direito de, comprovadamente, confrontar a minha verdade vivênciada em concreto, com a verdade do agente que me autuou, o tal com letra de médido. Eu lembro-me lá do que fiz nesse dia… Eu nem me lembro do que jantei ontem…
3º. Porque, como V. Exa. não calculará porque não vai receber esta carta, passados três meses é-me impossível garantir com um grau de certeza total, quer a minha passagem na estrada a que a notificação alude, quer a velocidade exacta a que a viatura seguia, e em que condições se efectuava a marcha. Eu não sei o que é que fiz no dia 25 de Abril de 2006. Claro que a Brigada de Trânsito sabe. E principalmente nos dias 25 de Abril. É quando dá mais gozo. Vê-los autuar nesse dia deve ser um regalo. Só imagino, porque não vi. Pago uma coima por um espectáculo que me esconderam. É injusto. Deviam estar escondidos numa curva qualquer, quais caçadores furtivos.
4º. Sendo a velocidade máxima permitida na estrada a que alude a notificação, de 50 quilómetros por hora, não teria feito sentido que me fosse informada a infracção no momento em que ela ocorreu, uma vez que ela não se verificou, por exemplo, na auto-estrada, onde não é permitido parar?
5º. Não é este mais um caso estranho e duplamente perverso de caça à multa, sendo que a impugnação que é permitida por lei aos autuados, ocorre (no meu caso) seis meses depois da autuação (mas sei de casos cujo intervalo é ainda maior), não me deixando margem para convocar, em consciência, testemunhas que comigo viajassem e que pudessem atestar a minha inocência do terrível pecado de que sou acusado, com esta distância a separar-me do delito?

Grato pela atenção que não me prestou porque não enviei a carta que acaba de não ler, tome lá o montante da coima, meta-a onde bem sabe (ou o senhor ou o seu tesoureiro), e até um dia destes.

António Durães,
(cidadão automobilista autuado sem conhecimento num 25 de Abril, avisado por carta registada seis meses depois, mas com direito a contestação, que é uma coisa que lhe serve de um consolo que só visto!)

segunda-feira, outubro 16, 2006

teatro RIVOLI

Um grupo de espectadores, junto com alguns dos que estavam a produzir o que estes espectavam, decidiu, terminada a função, não saír da sala onde se realizava o espectáculo - o pequeno auditório do Teatro Rivoli -, exigindo respostas da autarquia a propósito do seu desejo - manifesto num concurso público, de resto - de entregar o teatro à gestão de privados.
Manifesto a minha inteira solidariedade a estes cidadãos que, assumindo o papel que me cumpria também a mim estar a desempenhar, estão a defender o que, aparentemente, já não tinha defesa. Independentemente do que resultar desta tomada de posição, fica provado que ainda há gente que se debate, que não se deixa tolher pelas amarras da desilusão.

terça-feira, outubro 10, 2006

A dança dos programadores

Os teatros, grandes e pequenos, andam mais ou menos em bolandas. Uns por umas razões - umas vezes boas e outras vezes más - e outros por outras - às vezes más e outras vezes boas. Do mal, o menos.

O programador do Teatro Nacional D. Maria II (que é também o seu director artístico), acumulava funções similares com o Teatro da Trindade, (que é uma estrutura ligada ao ministério do trabalho, vá lá saber-se porquê). Pressionado pelos media, demitiu-se do segundo, de modo a continuar com o primeiro. Boa estratégia e natural. Um preto de cabeleira loira ou um branco de carapinha é que era de espantar.

Quem o substituiu no segundo, e que já o acessorava nessa tarefa, passa a acumular com a programação (e direcção artística, que uma coisa tem, muitas vezes, a ver com a outra) do Teatro Aveirense.

No Teatro de Aveiro, (que, para além da direcção artística, também tem uma Administração. Administração essa que não tem nada a ver – ou pelo menos não deve - com a componente artística do trabalho que estes programadores desenvolvem), de onde saiu há pouco tempo o programador Paulo Ribeiro (segundo julgo saber) em ruptura com o presidente da Câmara local, (que os presidentes de Câmara, muitas vezes, como os presidentes dos clubes, também querem ser os treinadores – havemos de ver em Braga como é que as coisas se vão passar - e que deixara Viseu para ir dirigir o Ballet Gulbenkian entretanto extinto, quer-se saber, a titulo de antecipação, se é possível o seu programador acumular os dois cargos, precavendo-se. Gato escaldado de água fria tem medo e a polémica desencadeada pela acumulação do TNDMII com o Trindade aconselha a cuidados redobrados.

Entretanto, para as relações com a imprensa do TNDMII foi chamado o programador de um teatro do Ribatejo, que fica também a acumular.

O director do extinto Ballet Gulbenkian, depois de contratado e mais ou menos despedido do Teatro Aveirense, foi convidado e aceitou programar novamente o Teatro Viriato, de Viseu e parece que até já tem pronta a programação do primeiro trimestre do próximo ano

O programador da casa das Artes de Famalicão, seduzido por Braga, deixa a obra que estava a desenvolver e vem programar o renovado Theatro Circo, de novo com tê agá, como manda a sapatilha, e apresentou a sua programação para o ultimo trimestre deste ano, programação essa, condicionada - percebe-se - pela incerteza relativa à data definitiva de abertura da sala ao público.

No Porto, praticamente na mesma altura em que a programadora e directora do Teatro Rivoli era agraciada com uma comenda pelo governo francês por força dos relevantes serviços prestados, durante toda uma vida, à coisa cultural, era corrida pelo presidente da câmara que, como se sabe, quando toca a tostões, corta a direito e tem da cultura o conceito apresentado (e subsidiado) da Rádio Festival.

Isto até já parece o futebol, não parece?

feriado antigo

– O consulado é aqui mesmo, não é?
O açúcar na língua não deixava dúvidas.
O Consulado do Brasil, à porta do qual uma rapariga pendura uma pasta e, abrindo-a como se de um escaparate se tratasse, mostra umas tabletes de açúcar torrados (pelo menos é isso que me parece) que põe à venda, tinha as portas fechadas, Não as da rua, que no edifício devem funcionar outros escritórios, mas as portas do interior, no cimo de umas largas escadas que do largo se avistam.
– É aqui mesmo, sim, mas fechou.
Como se uma coisa daquela importância pudesse ter fechado.
– Quer dizer, está fechado.
– Fechado?
Um desapontamento desprendia-se nitidamente da voz.
– Fechado. Encerrado.
Uma pausa e de lá veio uma justificação mais pormenorizada:
– «Independência ou morte»! Sete de Setembro.
O calendário nacional tem feriados onde menos se espera.

segunda-feira, outubro 02, 2006

notas de viagem 13 b

Aqui está o autógrafo de que lhe falei, caro Chefe.
Faço-lhe neste resto de missiva, e se me permite a ousadia, a continência indispensável, e por escrito.
Posto isto, desejo-lhe saúde e medalhas.

Em duas palavras,
O seu

Er - Nesto

notas de viagem 13

AS AVENTURAS DE UM AGENTE IMPORTANTE CHAMADO ERNESTO

13. autógrafos

Caro Chefe,

Escrevo-lhe esta missiva porque estou um bocado sem saber o que fazer, palavra. Quer dizer… Eu sei exactamente o que não fazer, e que é pagar a multa que me enviaram da Irlanda, logo, sei o que fazer, que é não pagar. Não sei se me entende.

O que aconteceu é que fui surpreendido – até porque supunha que tudo tinha ficado resolvido lá – ao receber uma intimação da polícia irlandesa, para efectuar um pagamento de coima por distúrbios em propriedade pública. Ora, tente perceber Chefe, essa altercação deriva da minha estada em terras irlandesas ao serviço da nossa estrutura, devendo ser imputada a ela, portanto, tal pagamento.

Percebo que esteja confuso, mas eu conto a história em duas penadas.

Numa das minhas deslocações em serviço, na zona de Kinvara, fui a uma propriedade agora mais ou menos museológica (por acaso até estava fechada, só pude vê-la e fotografá-la do exterior – ver processo), que foram pertença de Yeats. Trata-se, como se pode ver na foto, de uma torre mais ou menos conhecida na iconografia local, chamada Thoor Ballylee, onde o conhecido escritor ia passar férias. Junto à torre há uma casa, mais uma propriedade com riacho com uma espécie de complexo de moinhos já destruídos, onde em tempos se deverá ter feito farinha (e não estou a fazer humor).

Num outro local, mas relativamente perto deste, ainda em Kinvara, fica o Coole Park, onde em tempos recentes existiu um enorme casarão, de que apenas existe memória chã, habitado por uma senhora, também ela escritora, mas sobretudo protectora das artes (foi benfeitora de inúmeros artistas e um dos principais mecenas do Abbey Theatre, por exemplo). Nessa casa, a senhora recebia os maiores escritores do seu temo, tivessem ou não recursos financeiros para alugar casa de férias nas redondezas, ou que ficassem dois ou três dias lá em casa a descansar e a conviver com a ela e respectiva família, em fecunda tertúlia literária.

Ora, na extensa propriedade da senhora, fica agora um parque frondoso que pode ser visitado, e frequentado, pela população. Uma zona do parque é particularmente procurada: uma árvore frondosíssima, imponente, rodeada de grades, que tem inscritos no seu tronco volumoso, talhados à faca, uma série de autógrafos de alguns dos escritores mais famosos da Irlanda. Entre eles Theodore Spicer Simson, George Bernard Shaw (de que envio pormenor da assinatura talhada da árvore), John Masefield, Sean O’ Casey, William Butler Yeats, etc., num total de cerca de trinta nomes literários. Não os contei detalhadamente (uso a palavra de propósito), porque a confusão naquela árvore é indescritível e eu tinha mais que fazer. Como pensei que era tradição inscrever qualquer coisa no corpo da faia, bem educado com o sou – o chefe sabe que escrevo sempre qualquer coisa em qualquer livro que se me apresente, num funeral, põe exemplo, mesmo que não conheça o defunto) saquei do meu canivete suíço, penetrei no círculo fechado das grades que envolve a árvore e a golpes difíceis, comecei o E do meu nome. Já ia no tracinho do meio quando os seguranças, civilizadamente, me levaram.

Dei as explicações que pretendiam, que pensava que era costume as pessoas escreverem qualquer coisa na arvore, e que assim e que assado… Os tipos identificaram-me, mandaram-me embora, e pensei que a coisa tinha ficado por ali,

Agora, qual não o meu espanto, recebo em casa uma coima monstruosa para pagar em quinze dias.

Chefe, não acha que não se pode fazer alguma coisa? Institucionalmente? Fica como despesas de representação…

Abraços deste seu fiel inspector

Ernesto