quinta-feira, outubro 26, 2006

capital da cultura

A bracarense ministra da cultura, anunciou para Guimarães, em 2012, a capital europeia da dita cuja. Esta é a data mais próxima em que oferecemos à Europa, depois do Porto em 2001, uma cidade lusa, para que, durante doze meses, em conjunto com uma outra cidade europeia que creio ainda não estar designada, levantarmos tão alto quanto possível, o estandarte de cidade capital da coisa, onde a cultura, pois, a pátrea e a outra, são elevados à escala de coisa essencial.
Em Braga, e legitimamente, sofreu-se um rude golpe, ao nível do poder autárquico. Era intenção da Câmara Municipal garantir esse desiderato, e para mal dos seus pecados – que em matéria de cultura são muitos, sabe-se – essa pretensão foi insatisfeita (para não usar a forma negativa primária… sejamos misericordiosos…), apesar do enorme investimento feito no equipamento Theatro Circo, com tê agá. Sabe-se que sempre que o se junta ao agá, a coisa fica muito mais cara.
A pretensão, já o disse inúmeras vezes, sendo na minha opinião, legítima - e até poderia ser, tivesse sido aceite a candidatura apresentada, um tremendo balão de oxigénio e uma fantástica rampa de lançamento para o tudo que importa fazer nessa área, e nesse plano estariam muitas outras cidades, tão necessitadas como Braga -, também era, e reafirmo-o agora, absolutamente imoral.
Confesso que não sei para que serve uma capital europeia de cultura. No Porto, por exemplo, serviu de muito pouco, não fora os equipamentos físicos que deixou, alguns deles concluídos só este ano, o que é absolutamente incrível. Mas pronto, foram opções. Discutíveis, claro, algumas até a merecer processos criminais, funcionasse a justiça conforme a figura retratada da mulher que segura a balança, não distinguindo poderes e estando absolutamente imune a eles todos. Mas por alguma razão se chama a este, o país dos brandos costumes. E isso também é uma coisa cultural, porque endémica.
E era imoral, na minha opinião, porque Braga nada fez para merecer esse epíteto. Que receba o título, merecido, de capital europeia da urbanização, do empreendimento betanizado, dos parques subterrâneos, dos viadutos e das passagens desniveladas, do percurso pedonal mais longo, mas da cultura não fazia sentido nenhum. Ou talvez fizesse, houvesse confiança política, e se esse fosse um arranque credível para o que quer que, só por si, viesse a proporcionar no futuro.
Convenhamos: a candidatura de Braga, tal como ainda até há pouco existia pendurada na net num sítio qualquer de galhofa, era um arrazoado de lugares comuns, algumas mentiras dramáticas e excessiva ignorância misturada. Tanta que, por vezes, sou levado a pensar que, em matéria de cultura, é de má fé que se trata. Mas convencido por muitas almas, acredito que seja apenas desconhecimento. Tenhamos uma réstia de esperança na humanidade e pensemos assim.
Com a vitória de Guimarães, cidade e autarquia com trabalho efectivamente realizado na área da cultura, e distando Braga 20 quilómetros da novel capital cultural pré-anunciada, para os naturais daqui, é quase a mesma coisa e uma fantástica oportunidade para aproveitar. E com a tomada de posição do gabinete da presidência - que eu genuinamente aplaudo - de oferecer os equipamentos de que dispõe – e no que diz respeito às artes performativas, apenas é de considerar o Teatro Circo (bolas, esqueci-me do agá…) – Braga, e os seus cidadãos, pode ganhar muito com esta decisão. E com a vontade manifestada pela autarquia de Famalicão, em moldes similares aos de Braga, esta pode vir a ser uma experiência muito interessante, assim Guimarães esteja pelos ajustes. É uma espécie de Grande Baixo Minho, a garantir actividade cultural de relevância.
Mas primeiro que tudo, é necessário que se pense muito urgentemente, para que pode servir a tal capital europeia da cultura. É que não dá para errar muito o tiro, como se passou no Porto.
A próxima capital europeia da cultura em Portugal será, talvez, lá para o ano 2024.