sábado, junho 27, 2009

que trazes no regaço?

De canteiro em canteiro, a avenida da liberdade foi-se compondo a tempo do S. João, que ainda assim, terá passado por ali de forma diferente do habitual. Morreram esmagadas pelos pés passantes uns quantos pés de flores, felizmente poucos, que todos os outros sobreviveram. Uns heróis.
As flores são, como se sabe, um dos guardiões da beleza natural, mesmo que também elas sejam objecto, tantas vezes, de manipulações genéticas, que é para isso que estão estes tempos modernos, no que de bom e mau tem tal manipulação.
E Braga, que já tinha um ex-libris de nomeada, o Jardim de Santa Bárbara, com aquele cenário vertical lindíssimo das ruínas do antigo Paço (cenário ou realidade reconstruída, vá lá saber-se…) , mais o pedaço de território antigo que lhe dá limites, pode orgulhar-se agora de mais uma zona imponente com arranjo floral, digna da honra de postal ilustrado. Há quem não goste. Já ouvi essa opinião. E há quem goste. Eu por mim, confesso - ainda que temeroso, que apanhando-lhe o gosto, os canteiros se espraiem até ao cume do Picoto... se o túnel pode ser prolongado em futuro ciclo eleitoral e inaugurado antes das próximas eleições, também os canteiros se podem reproduzir polvilhando a artéria até perder de vista - sempre digo que é muito mais interessante ver na avenida aqueles caminho organizados, que ver outro tipo de manifestações urbanas, porventura mais eruditas e escultóricas, mas que desacrescentam informação cultural de relevo à cidade e, sobretudo, aos cidadãos que se enformam nela.

O que ainda não percebo, é o facto daqueles arranjos ajardinados, não terem sido cultivados – dizem-me – no Horto Municipal, que tantas e tantas flores tem dado à cidade. Atenção que eu só reproduzo aqui o que me dizem. Nada mais que isso. E dizem-me, por exemplo, que as flores da avenida terão sido compradas a uma empresa (não municipal), de fora de braga, dizem-me que com sede em Vila Nova de Gaia - mas isso nem é o que interessa - e não ao Horto, onde as há de borla para a cidade, e que é quem alimenta, creio, o já citado Jardim de Santa Bárbara. Poder-se-à dizer que, devido à dimensão da obra em questão, os canteiros da avenida não se poderiam alimentar apenas no horto municipal. Pois, creio que tais palavras terão razão de ser, ainda que eu desconheça a capacidade do Horto. Mas a haver incapacidade, dizem-me, ela reside, também – e sobretudo -, numa putativa ordem superior, determinada em tempos, e que terá mandado destruir muitos pés de amores-perfeitos (nem é esta a sua normal época) e reduzir a produção das espécimes que, curiosamente, viriam a ser necessárias nos canteiros da avenida, ao mínimo indispensável.

O que é estranho, sabendo-se que a avenida e os seus novos canteiros, iam precisar de muito material.

Mas esta deve ser informação manipulada. Mas que convinha dar uma explicação pública, para sossegar os cidadão, lá isso convinha. É que histórias destas, a gente ouve-as quando se senta naqueles banquinhos da avenida, entre as flores importadas, por gente que, afinal, se importa.

sexta-feira, junho 19, 2009

ainda as eleições: sugestões para melhorar a democracia

A democracia não pode ser só isto.
A «rapariga», se é que a democracia é uma senhora, pede-me que vá votar, que dê a minha opinião, que esclareça o meu ponto de vista, que assim e que assado. - Sim, minha senhora. Mas que opinião? Que ponto de vista?
Como sou destituído de voz, ela diz-me com voz sensual que outros assumirão a minha; que dirão por mim o que eu penso; que verbarizarão as minhas ideias; que decidirão qual o meu ponto de vista; em suma, que não me preocupe. E, acrescentam, se eu não tiver nem uma coisa nem outras, eles tratarão de os inventar para mim. Restar-me-á penas, afinal, assinar por baixo, todas as suas ideias, como se elas fossem minhas.
Mas as minhas ideias, hops!, não são as que nenhum deles apresentou. Porque devo então votar? Para caucionar um esquema de supervisão e governação em que não me reconheço, pergunto eu para com os meus botões que, surdos que nem uma porta, nada respondem. São botões asisados. Respondem apenas ao que lhes perguntam. Se não ouvem a pergunta, não dão a resposta. É raro assistirmos a tal espectáculo de conformidade.

Mas eu, que não sou discípulo dos meus botões, continuo a bombardeá-los: Para entronizar uns quantos que nem sei quem são, nem como foram eles escolhidos para estar naquela situação de putativos eleitos? Mesmo que eles argumentem que as ideias que defendem, são as que eu igualmente defendo, e até há casos em que assim é, porque é que devem ser eles a defender o que penso?

E sem parar, prossigo: E depois há as histórias dos enganos. Muitas vezes houve, e continua a haver, que os que devem ser a minha voz, defendem uma coisa antes das eleições e, logo que conquistado o meu voto, abdicam das suas ideias, se é que em algum momento foram verdadeiramente suas, e passam a defender exactamente o contrário do que dizem que defendem. Como é que se pode confiar em gente desta? E não me venham com argumentos baratos, como dizer por exemplo que só não muda quem é burro, que esses argumentos estafados já não me enganam. Eu votaria em alguém que, mesmo reconhecendo que o que defendeu já não é o que defende, ainda assim, por força do compromisso que assinou para comigo, defenda o que pensa não ser o mais certo, na convicção de que ainda é o que penso. E se isso lhe doesse mais do que o que suportaria a sua consciência, demitia-se, e outro em seu lugar, defenderia o que penso, ou pelo menos, o que pensei em determinado momento e me fez votar com determinado sentido.

E com este monólogo possível, se passaram uns quantos minutos.
Entretanto, nas eleições europeias, a malta não foi votar.

Agora, por força deste alheamento da coisa eleitoral, há uma corrente que, para salvar a democracia, propõe que se torne obrigatório o voto.
Hum! Uma democracia em que o voto é obrigatório.

E lá vem a conversa com os botões: A caucionação por completo da irresponsabilidade dos políticos e agentes quejandos.

E eu digo que sim, que pode ser assim, desde que o meu voto, efectivamente, sirva para alguma coisa. Por exemplo: desde que o meu voto, juntamente com o voto dos que, como eu, (por exemplo), desejam votar branco, servisse para não eleger ninguém; desde que o meu voto branco, e isto é uma suposição, servisse para deixar vazias algumas cadeiras. Desde que a proporção dos votos que deixamos em branco, obrigassem a deixar vazias as cadeiras respectivas. Eu creio que aumentava a afluência às urnas. Não muito, mas ajudava. E era um descanso. Olhávamos para a assembleia da república, por exemplo, e víamos as cadeiras vazias, mas pintadas de branco, que e para se ver a diferença entre os deputados que faltam às sessões e as cadeiras onde para onde não quisemos enviar nenhum rabo. Rabos brancos. Invisíveis. Nós todos, sentados naquelas cadeiras.
E com os nulos a mesma coisa. Declaração de voto que eu anulasse, e os que, como eu, votassem nulo, devia contar para a eleição de deputados nulos. Para que não se pense que o que quero é poupar dinheiro em salários de deputados, aqui fica uma ideia de sentido contrário: Desde o início que havia consagrada uma lista de deputados nulos, nulidades absolutas, gente nula. Exemplos na AR (ou noutra assembleia qualquer) é coisa que não falta. Elegíamos um ou dois, que se deveriam vestir de cangurus ou outra coisa qualquer – de modo, uma vez mais, que se distinguissem dos outros deputados - e sempre que olhássemos para a assembleia, olhávamos os deputados nulos que tínhamos efectivamente escolhido. Os outros, tinham que ter alguma valia, perante aqueles deputados reconhecidamente nulos. Estão a ver a ideia? Era preciso que trabalhassem.

Não é por nada, mas a democracia funcionaria um bocadinho melhor.

quarta-feira, junho 10, 2009

eleições

Estas eleições europeias, que decorreram durante o último domingo, interessavam muito pouco aos portugueses, como de resto, creio, interessavam muito pouco à esmagadora maioria de cidadãos dos restantes países. Vai daí, não foram votar. O cidadão português está-se a marimbar para o jogo eleitoral afutebolzado, com cânticos retirados das claques, gritos e demais apalhaçamentos. Eles, os políticos profissionais, bem que chamaram o povo ao escrutínio, mas o escrutinador, papel que desempenha democraticamente de não sei quantos em quantos anos enquanto fiel espectador da coisa pública, está farto de ser isso mesmo, espectador, ainda que tenha as quotas em dia, cartão de eleitor em punho e os impostos pagos. Ele quer é que não o chateiem. Mas se tem de participar, então que o deixem verdadeiramente escolher. Acontece é que, nas nem uma coisa nem outra ele tem conseguido. Chateado anda ele, que nem uma pescada (cito Brecht, mas tive que torcer um pouco a citação… Brecht dizia, ou melhor, uma das suas personagens diz, depois de beber uns copos, grandes e muitos, que estava tão tonto que nem uma pescada… Não sei o que é que quereria ele dizer com aquilo, mas é vibrante a ideia. E fica a ideia de uma erudição – a minha - acima de qualquer dúvida). Quanto à equipa, nem um palpite. As coisas acontecem no segredo dos gabinetes, longe dos olhares dos cidadãos, no refogado difícil das panelas do poder, independentemente do mérito dos cozinheiros improvisados, ou do que quer que seja.
E depois, há um outro factor a ter em conta numas eleições europeias: alguém sabe o que é a Europa? Uma coisa que começa vagamente aqui, aqui mesmo, e que termina não se sabe onde. Ou que começa não se sabe onde e acaba aqui… Há, por isso, alguém que tenha interesse em votar numa abstracção destas?
E depois esta campanha… Valha-me Deus! Assuntos, europeus, não os houve. Pois se não há Europa. Então discute-se o quê? Discute-se Portugal. Aqui está uma coisa concreta. Mas discute-se Portugal pela voz de uns tipos que irão para a Europa, seja ela o que ela for, para que se esqueçam de Portugal, porque é para isso que se candidatam. O que importa, pensam para com os seus botões políticos, é sair daqui por uma boa maquia e ir ver mundo. Há excepções. Mas que confirmam a regra.
Num dos debates que os candidatos não quiseram fazer, mas que os comentadores, entre eles, fizeram abundantemente – num exercício estranho, note-se, em que se discutia o que os candidatos nunca quiseram discutir, no pressuposto de que seria aquilo que eles discutiriam se, porventura, discutissem – dizia-se que ninguém ainda tinha dado a vida pela Europa, meio litro de sangue que se visse, enquanto que centenas, milhares de portugueses, em diversas ocasiões, ao longo dos últimos novecentos anos, já deram a vida por Portugal em sacrifício. E que isso fazia toda a diferença.
Eu acho – e não estou a brincar, embora pareça – que não houve debate, por medo da gripe porcina, ou melhor, mexicana, que os porcos, pouca ou nenhuma culpa têm do sucedido. É que está, fresca, na minha memória, uma discussão mais acesa na câmara municipal de Lisboa, quando o vereador Sá Fernandes terá pedido ao vereador social-democrata e candidato derrotado à presidência da autarquia Fernando Negrão, para que não lhe lançasse perdigotos para cima.
Pelo menos, nesta campanha, poupou-se nisso.

quinta-feira, junho 04, 2009

a história

A época desportiva está a chegar ao fim, mormente a futebolística, e a minha apreensão, que resulta das tantas notícia lidas nos jornais, em especial nos diários da cidade de braga, aumenta exponencialmente. Não há dia em que as notícias de subidas de divisão, ou de manutenção, não sejam epitetadas como sendo resultados históricos, e mais explicitamente algumas, onde se afirma com a convicção das grandes verdades, que se está a escrever, ou a fazer, como mais vulgarmente leio, história. E quem escreve história são as associações mais díspares, pequenas e grandes, conhecidas e absolutamente desconhecidas, e nas divisões, ou escalões, mais incríveis. O Passarinhos de Não Sei Onde, porque lograram subir de divisão sem que tenham sofrido qualquer derrota, fizeram história. E isso significa festa em várias fotografias e em mais do que uma página, com os jogadores ora despidos ora quase, os dirigentes empapados num líquido que as fotos não distinguem, e com depoimentos de associados em festa a quem, perante a primeira pergunta do repórter, logo faltam as palavras. Sobra discernimento apenas para dizer que estão fazendo história, num brasileirismo comovedor.
O meu receio, medo mesmo, é pressentir a revolução que irá sofrer o manual da história que se ensina às crianças nas escolas sofridas deste país. Maria da Fonte? A rapariga que liderou um povo inteiro (consta, mas isto não vem nos manuais, que poderiam ser sete as marias da revolução) e lutou contra os Cabrais? Sabe-se lá o que é isso. Cabrais? O que se sabe é que a equipa de futebol se classificou para não sei que prova e fizeram história no ano 2009. Gil Vicente? O poeta e dramaturgo português? Quê? Mas alguém ouviu falar desse cromo? Sabe-se, isso sim, e os manuais dão conta disso, é que depois de sofrer com uma descida de divisão injusta, se levantou do quase zero, e se fez equipa e ficou na história. Do tal Vicente não se dirá nada. Mas do Fiúza, o presidente, sim.
E por aí adiante.
Fazer história é, pois, o que está a dar.
História, história, está a fazer uma tal Michele não sei quê, um nome absolutamente português como se sabe, que aos oito anos de idade deixou a pátria e foi para os estados unidos, para melhorar o seu ténis com um craque americano qualquer que já lograra formatar umas quantas tenistas de renome enorme e palmarés. Agora a menina portuguesa de 16 anos já anda na alta-roda, e faz história, gritando que nem uma vitela desmamada, nos courts do mundo inteiro. Ainda não é notícia por que ganha jogos de enfiada, lá chegará a hora, dizem os entendidos. Agora, faz história porque geme e grita e chateia o público selecto dos clubes de ténis.
Fazer história é, afinal, o que está a dar.